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Linhas, das ideias aos sentidos

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Dina Pimenta aborda nesta exposição uma reflexão sobre o espaço da Casa da Cultura de Santa Cruz, de onde surgiu um conjunto de fragmentos de ideias que despertaram os seus sentidos para as várias visões e metáforas que a linha produz. Uma mostra patente até o dia 16 de junho.

Porquê o título? E qual foi o fio condutor para esta exposição?
Dina Pimenta: É um título transversal a tudo o que é área das sensibilidades, poderia sair até das artes e podíamos até viajar para outras áreas como da poesia, até na literatura e na música as coisas funcionam num modelo próximo deste. Mas, aqui eu trouxe uma intenção, é um projecto em aberto para mim também e para quem vêm visitar, porque sendo artista plástica questiono-me sempre sobre qualquer coisa, o que estou a fazer e em que lugar? O que eu sou? O que me move para fazer as coisas? Portanto, esse é o lugar de equação, de meditação, de gerir ideias, ou um espaço até sons e sentimentos. Quando penso nas ideias e nos sentidos não os estou a equacionar apenas integralmente, eu sinto até que tenho um sexto sentido, não literalmente, mas vou tentando. Naturalmente os artistas plásticos usam a visão, aquilo que vêem, mas eu acho que não é só por aí. Somos educados desde que nascemos a interpretar o que vemos, ao longo da nossa vida, em nossa volta, depois de sentirmos e vermos tudo em redor, somos pessoas visuais, estámos de olhos fechados, reflectimos sobre as coisas e não as vemos. Por exemplo, eu sou professora, na aula de geometria eu ponho os meus alunos a olhar para os espaços, é um sistema de representação que é rigoroso, vai para o papel onde há uma equação e tem um resultado matemático. Ao mesmo tempo estou a fazer um trabalho palpável, completamente subjectivo de um ponto transcrever uma recta, depois deslocá-la até um plano, criar uma superfície e ainda não estámos a estar a falar em artes plásticas visuais, estámos a falar de uma disciplina que é rigorosa do método científico e tem um sistema de representação. Como sou formada em artes, em pintura e escultura, misturo as duas coisas e trago sempre estas duas vertentes atrás de mim. Na minha área profissional acabei por ser professora foi um enriquecimento, mas sempre deixando espaço para a minha arte e o que queria fazer. E pensei que tinha de estar lado a lado, tenho estado sempre disponível para as duas coisas e cria-se o espaço para o fazer. Não podemos deixar de parte o que ensinámos, ou aprendemos e há sempre coisas que ficam connosco, apreendemos uma mensagem visual e passámos para um entendimento que é a expressão plástica e o que é a área da pintura, desde o aspecto técnico ao simbolismo e vamos adquirindo esses entendimentos porque fazem parte do nosso crescimento, o amadurecimento das ideias cresce dentro de nós. Quando venho para esta exposição trago uma vida que já vivi, não esta totalmente equacionada, há novas ideias e estes trabalhos mostram por onde as ideias passam onde elas me levam. Também trago temáticas que gosto que o público interprete e as pessoas que fruírem pelo espaço passem por essas experiências, cada um à sua medida, com a sua escala, porque uns precisam mais de tempo do que outros, há pessoas que veem logo e outros reconhecem aos poucos. Passo ainda por uma metáfora onde passo pelas formas e as linhas pelas quais me expresso, porque já me exprimi de outra maneira, passei por um momento onde pintava com mais cores, outro período em que não havia cor porque entendia que nas superfícies estavam as cores todas, no preto estava o vazio e no branco a cor, eu vejo esse colorido.

Em termos temporais, falou que são diversas fases, estámos a falar de quê?
DP: Esta exposição é apenas um projecto idealizado para este espaço.

Durante quanto tempo?
DP: Três meses.

Sempre com a linha como pano de fundo?
DP: Não preocupada com a linha que se vê, mas sim a linha das ideias que me fazem mover até chegar a outros resultados. Dígamos que é estructurante, um pouco até emocional, depois há o desenho que é a minha linha para expressar o que quero fazer agora e brinco com isso. Há uma expressão, que menciono e contextualiza o trabalho. Aborda também os sentidos.

Nestes trabalhos há escultura.
DP: Sim, trabalhos de escultura dígamos que modelar, que é feito com peças que estiveram ligadas à minha área profissional. Ao longo do tempo temos que registrar muito do que fazemos, cada turma tem um dossier, documentos que registem os trabalhos e sou obrigada a fazer uma avaliação que é algo difícil, mas sou obrigada a guardá-los, porque rabisco muito nelas. E nesse lugar de guardar as coisas criei uma instalação que chamo de “visita mutante”, é um presente que dou aos visitantes, desejo que seja reconhecido por algumas pessoas e que estas me questionem para percebe-la um pouco. Depois tem uma outra escultura que desenhei em 2010, como objecto para este local. Mas, quando chego a este espaço, a sua área circundante e questionando-me sobre isso, eu vou repescar um assunto que me inquietava e que me representa que chamo de “forte saudade”.

Abordando o desenho, disse que foi sempre desenhando ao longo da sua vida, que tipo de linhas utilizou para esta exposição? Foi pintando com lápis?
DP: Raramente uso lápis. Desenho com tinta, ou com uma caneta que desliza rápido, desabituei-me da grafite e usei-a durante muito tempo e estou orgulhosas disso. Agora uso a caneta com tom da grafite, mas por norma, desenho directamente a tinta.

E há uma linha unificadora de toda esta exposição?
DP: Não sei se trago o potencial que a linha tem, dígamos que é corpo, substância e tem expressividade, eu trago um pouco isso e se tivesse desenvolvido esse potencial seria ainda melhor, mas eu sempre me questiono se poderia fazer mais qualquer coisa.

Algum destes desenhos são emblemáticos de todo esse universo que teve em mente para esta exposição?
DP: Eu trago uma temática mais na minha área profissional, é sobre pessoas que cresceram, que me acompanharam e que são agora meus iguais, são meus pares. São grandes figuras, poetas, são maiores do que eu na forma de pensar e orgulho-me disso. Depois há pessoas que se cruzaram comigo nesta linha da vida também e imensas pessoas que se calhar me entendem ou nem por isso. Eu represento tudo isso por metáforas e se calhar usei tudo isso para representar pessoas e coisas.

E fica a interpretação para quem “lê” estas obras?
DP: Eu deixo isso ao critério das pessoas, haverá uma que acharão piada, mas espero que não se sintam magoadas, eu gosto de rir, brincar e não o faço para os magoar. O potencial que a minha área me permite e o potencial que daí surge, o artista tem de ser livre e ter essa liberdade. Pode estar a ouvir ou estar muito agarrado as suas preocupações de quem gosta e não gosta, se é bom ou mau, mas se andarmos condicionados não produzimos nada. Ficámos amarrados e isso não se deve reflectir num trabalho nosso, penso que as metáforas são feitas com muito carinho.

O artista não pode ser limitado? Hoje vivemos numa sociedade do politicamente correcto que abrange quase todas as áreas e não apenas a arte.
DP: Eu sinceramente não pretendo ofender ninguém, não me sinto à vontade para magoar as pessoas, evito, mas houve fases em que senti, como outros ser portador de vozes, ou ideias, mas isso é algo que faço com cuidado. Não gosto de estar sempre a magoar, penso que se queremos comunicar estámos a resolver as coisas, os meus trabalhos fazem questionar as pessoas, é a minha parte soldado.

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