Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

h facebook h twitter h pinterest

Os esqueletos do mar

Escrito por 

Os artistas João Parrinha, Luis de Dios e Xandi Kreuzeder uniram forças para criar Skeleton Sea. Os três são surfistas ambiciosos, que trabalham como um colectivo para comunicar as suas visões do ponto de encontro entre a mãe natureza, desporto e arte. As suas criações têm feito uma excelente contribuição para a sensibilização ambiental a partir da perspectiva daqueles que dependem da natureza para alimentar a sua paixão pelo esporte. E ainda, organizam limpezas de praia e workshop criativos onde as palavras de ordem são reciclar e imaginar.

Quando tem início este projecto Skeleton Sea?
João Parrinha: Começou tudo com a junção de ser artista plástico e surfistas, ou seja, eu antes já fazia esculturas com o reaproveitamento de uma série de materiais que achava e depois juntava para fazer obras de arte. Eu e estes meus amigos surfistas como passámos muito tempo nas praias, vemos acumular-se muito lixo na costa e decidimos fazer qualquer coisa. Montámos este projecto chamado "skeleton sea", em 2005, que visa a recolha do lixo das praias, desses detritos fazemos uma triagem e criámos arte com estes materiais. Realizámos workshops com variadíssimas pessoas e crianças que também queiram participar e é um pouco esta mensagem de consciencialização das populações quanto à poluição e ao lixo que existe nos oceanos.

Como é que funcionan estas limpezas de praias? É uma vez por ano, ou existe um calendário?
JP: Depende um pouco da nossa programação. Temos tido muito trabalho ultimamente e não tem havido tempo para fazer tantas limpezas, mas agora em Outubro vamos recomeçar. Não sei se serão semanais ou mensais, isto tudo se passa na Ericeira, onde estámos sediados, mas já fizemos muitas limpezas por esse mundo fora e estámos disponíveis para apresentar este tipo de projectos. Deslocámo-nos com algumas das peças que fazemos, podemos fazer limpezas de praias e workshops, é o que vamos fazer agora na Corunha.

Um facto curioso sobre as peças é que não reflectem apenas a reciclagem de materiais, mas procuram ilustrar de certa forma animais marinhos em vias de extinção.
JP: Exactamente. Essa preocupação também é grande, temos um atum, por exemplo, que esteve em vias de extinção por ser demasiado pescado e essa é a mensagem que também queremos transmitir. Ter a consciência que estamos a dar cabo disto tudo lentamente, não só com o lixo, mas também com a pesca excessiva de determinadas espécies de peixes que podem estar em vias de extinção.

Nessas acções que decorrem nas praias tem noção do lixo recolhido em termos de pesagem? São toneladas?
JP: Toneladas é muito, mas lembro-me no Brasil de termos recolhido lixo com quatro equipas, durante duas horas, recolhemos uma tonelada e meia e foi uma coisa assustadora. Bem sei que estavámos numa zona muito poluída, era um estuário de um rio, tinha muito lixo correndo com a corrente, que ia parar junto às praias. Por exemplo, numa praia "normal" onde chegámos e não vemos à primeira vista muito lixo, com uma equipa de 50 a 100 pessoas durante duas horas, em sacos de lixo de 100 litros, apanhámos à volta de 15 sacos de detritos, mesmo assim. É demasiado lixo para o que seria desejado e nem sequer o vemos muito, a praia parece limpa, mas a pouco a pouco vamos apanhando entre as pedras e a quantidade é enorme.

 

 

 

Mas, o lixo, na sua maioria é provocado pelo homem ou há também muito detritos que vem com a maré?
JP: É um pouco das duas, há muito lixo que provém das marés. Ainda há pouco estive na Madeira, vê-se na praia muito poucos detritos, porque fazem algumas limpezas e isso deu para ver, mas também me apercebo que na orla da maré cheia vejo o plástico que se acumula. Houve, recentemente, uma maré muito grande, que subiu imenso por causa da lua cheia e via-se esse plástico. É um problema, daí a sensibilização, porque as aves comem este lixo pensando que é alimento, não o digerem e morrem de fome com o estômago cheio de plástico.

Estes workshops são também importantes para transmitir essa mensagem de preservação ambiental junto das camadas mais jovens?
JP: Exactamente, acho que é fundamental perceberem esse problema. E é muito mais fácil educar as crianças, de uma forma natural, sobre qual é a realidade que os rodeia. Os pais também ajudam, porque pedem aos filhos para não atirarem lixo ao chão, por isso, acho fundamental. Mas, o nosso projecto vai mais longe do que essa consciencialização ambiental, queremos passar também o conceito de criatividade, todos os objectos que encontrámos podem ser utilizado de uma outra perspectiva, podemos usar os materiais para ser criativos, montámos peças e isto funciona muito bem nos workshops, eles adoram estar a trabalhar. É um genéro de trabalho manual e ainda ficam com estas peças que guardam para sempre, penso eu.

E já notam essa consciência ambiental por parte das pessoas ou não? Já que o vosso projecto funciona desde 2005.
JP: Eu acho que o problema é muito actual, há mais instituições e grupos que abordam esta temática. Existe uma tendência maior por parte das pessoas de acompanharem nos dias o que se passa no planeta, vamos mudando algumas mentalidades, penso que sim. Tivemos a oportunidade de mostrar um filme, sobre os albatrozes, pelo mundo, por isso, concerteza mudámos alguma coisa. Só que o nosso mundo é muito grande e existem muitos problemas por resolver, há países onde a maior preocupação passa pela sobrevivência e não pela questão ambiental, mas penso que a pouco e pouco as mentalidades se vão moldando.

http://www.skeletonsea.com/about/message/

Deixe um comentário

Certifique-se que coloca as informações (*) requerido onde indicado. Código HTML não é permitido.

FaLang translation system by Faboba

Eventos