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A balada de Leonor

Escrito por 

Leonor Teles é a joven cineasta portuguesa que ganhou o prémio pela melhor curta-metragem no Festival de Cinema de Berlim com o filme a “balada dos batráquios”. Um objecto de cinema que visa fazer reflectir e ao mesmo tempo é um testemunho sobre como é olhada a comunidade cigana por parte da sociedade.

Quando escreveste "balada dos batráquios” já era uma ideia inicial do guião entrar nas lojas e partir os sapos?
Leonor Teles: Sim, começou com essa ideia e depois todo o resto foi construído em torno dos sapos.

Depois da exibição do filme as pessoas abordam-te sobre essa questão, o desconhecimento sobre a simbologia dos sapos?
LT: Sim.
Que desconheciam?
LT: Sim, que não faziam a miníma ideia.
E achas que alguns dos sapos estavam lá, mas sem essa intenção?
LT: Sim, eu acho que os sapos não estão lá com esse intuito, mas muitos dos outros estão. A ideia do filme é tentar perceber se os sapos estavam com lá com essa intenção ou não, foi isso que tentámos fazer e os sapos que estavámos a partir tinham esse propósito.
E como descobriste que os sapos que estavam nessas lojas tinham esse intuito?
LT: Isso faz parte do processo do filme.
Como assim?
LT: Faz parte da minha maneira de fazer os filmes e toda a preparação.

Tu filmaste a curta-metragem com uma câmara especial, porquê?
LT: Porque a super 8 era o formato apropriado para contar esta história, não só por ter aquele granulado e colorido, um aspecto tosco e parvo, tinha a ver também com a temática do filme por se tratar de uma situação parva. O filme também acaba por ser um conto e esta relacionado com um imaginário com esse tipo de imagens antigas e coloridas que nos remetem para outro tempo que não agora.

Depois de ter ganho o prémio em Berlim e quando te deparaste com os teus familiares e amigos, entre as raparigas, as tuas amigas na comunidade, elas olharam para ti de forma diferente?
LT: Não tenho amigas na comunidade cigana.
Mas, um dos teus pais é de etnia cigana?
LT: Sim, o meu pai é, a minha mãe não, mas ele só mantém uma relação com os familiares directos, portanto, as nossas relações embora próximas não eram muitas.
E não tens primas?
LT: Eu acho que ficaram contentes.
Sim e as raparigas ciganas no geral tem uma tendência de sair da escola mais cedo. Tu, transcendes tudo isso.
LT: Sim, mas eu sou meia cigana, portanto, não dá para tomar-me como um exemplo tão abrangente, eu acho.

Agora que tens um prémio pesa-te muito para o teu próximo projecto? Em termo de expectativas?
LT: Não, acho que os prémios são bons e tem um aspecto positivo que é ajudam em termos de obter financiamento de uma forma mais fácil, mas temos que relativizar e não deixar que essa pressão nos afecte no trabalho seguinte.

E qual a tua perspectiva sobre o cinema português? De álguem que esta a chegar ao meio.
LT: Como assim?
Trata-se de um meio difícil para obter apoios, para alguém tão jovem como tu?
LT: É difícil, mas o cinema é algo muito difícil para os jovens que começam. Se as pessoas trabalharem e tentarem criar as suas próprias oportunidades aos poucos e poucos as portas vão-se abrindo e há novas perspectivas para os mais jovens. As pessoas tem de trabalhar, continuar a lutar e se tiverem poucos meios tentarem compensar de outras maneiras, mas tem de fazer filmes e levar adiante as coisas.

E como espectadora como vês o cinema português?
LT: Acho que às vezes os realizadores são bons e não são conhecidos por causa do preconceito em relação ao cinema português, porque é chato e aborrecido e por isso ninguém tem interesse em ver, mas essas pessoas tem de ser mais flexíveis, abrir mais e estarem mais predispostas a ver coisas novas. Se calhar assim iam gostar mais do que os portugueses fazem, porque há muito bom cinema que se faz e depois não tem lugares para serem vistos.

Tens algum cineasta de referência?
LT: Gosto do Miguel Gomes.

E a tua geração olha para o cinema nacional como algo menos chato e que se pode ver?
LT: Eu acho que na minha geração depende, as pessoas que trabalham no cinema da minha idade olham-no com outros olhos, vão ver os filmes e tentar compreender. Também temos uma formação que faz com que vejamos os filmes como é algo para pensar e não apenas como entretenimento. Os meus colegas não tem essa perspectiva, para eles, cinema é algo para os entreter, não o vêem como forma de arte para pensar e reflexionar as coisas.

Tu no teu próximo projecto vais continuar a usar a câmara super oito?
LT: Não.
Vais usar outro formato?
LT: Sim.
E vais continuar a fazer o circuito de festivais porque é a única forma de ser reconhecida?
LT: Não sei se as coisas podem ser postas dessa forma. As pessoas quando concorrem aos festivais lá fora é bom para algum reconhecimento e se houver esse sucesso no circuito de festivais internacionais, certamente abrem-se as portas para se estrearem o filme comercialmente.

Vais continuar no formato de curta?
LT: Acho que sim.
Mas, tens o objectivo de fazer um dia uma longa-metragem?
LT: Não, o meu objectivo é fazer um projecto de cada vez, trabalhando nas coisas a pouco e pouco e o melhor possível.

E sempre neste registo de espécie de documental?
LT: Sim, acho que o tenho para mostrar é mais nesta parte documental, mas ao mesmo tempo misturando um pouco outros registos, se olharmos para “balada dos bátraquios” não é um filme propriamente fácil de caracterizar.

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