Nunca se sentiram limitados de alguma forma porque estavam numa ilha?
RR: Não, não. É a tal coisa, vamos fazer e ver o que vai dar. E utilizamos só os meios que tínhamos que, foi uma câmara semi-profissional e foi uma grande ajuda e usamo-la ao máximo. Não interessa se somos de uma ilha ou não, vamos é conquistar o mundo.
Escrever um argumento consistente demorou muito?
RR: Demorou cerca de 2 meses. Teve tempo. Outra coisa que aprendi é que o guião está sempre sendo alterado. Com este método de trabalho tornou-se mais sólida a curta-metragem. Completamente diferente do rascunho inicial que tinha, mesmo com a curta metragem fechada até na edição tive de fazer alterações, como não tinha na memória tudo o que tinha sido filmado. Vi a peça toda, mas como entendi que havia momentos fracos, tive de voltar atrás e rescrever tudo.
Tiveste uma visão nítida do que seria a história, ou só quando editastes tudo se tornou mais claro?
RR: Há aspectos que à partida sabemos que não batem certo. Não posso colocar uma câmara fora da janela a passar por todo o lado. Agora tenho mais essa noção. Como dois miúdos inexperientes imaginávamos mil e uma coisas e havia uma chamada à realidade quando diziam, olha que só temos uma câmara, se quiseres um plano alto vão ter que subir as cavalitas um do outro e não vamos inventar gruas. Na minha cabeça, havia planos melhores, mas que na prática tinham de ser alterados.
Imprevistos?
RR: Marcamos um dia para as filmagens e ninguém apareceu, contactamos a produtora para adiar e eles disseram-nos não, tinha que ser nesse dia. O que aconteceu? Tivemos de filmar outras sequências do filme que estavam programas mais para frente e depois nos restantes dias de filmagens andamos para trás.
Tens em carteira uma próxima curta? Ou voos mais altos, uma longa?
RR: É uma outra curta, mas não gosto de falar. Primeiro vou bater terreno, agora vou devagarinho, mas penso lá chegar. As curtas metragens dão muitas dores de cabeça. Quando conseguir estar à vontade nas curtas, em que consigo planear de princípio ao fim, de imaginar até estar concretizado, aí passo para filme.
E nesta já consegues ultrapassar as dificuldades técnicas que tivestes com o teu primeiro trabalho?
RR: Sim, agora consigo, porque com os meios que temos consegue-se sempre dar a volta. E tenho de imaginar uma história com aqueles meios e assim consigo fazer o que pretendo. Mas, a minha imaginação puxa para mais, tento sempre trabalhar para uma fasquia mais alta e ser mais inovador. Provocar mais sensações às pessoas. Tentar mostrar algo que não foi visto, ou pelo menos algo a que não estão habituados.
Quando decidistes apresentar a curta-metragem concorrestes aos festivais à nível nacional?
RR: Concorremos a todos os festivais de Norte a Sul. E há deles que tem um estatuto para dizer que só mostram se for uma estreia absoluta. No de Vila do Conde só aceitam premiérs, eu sei disto porque falei com um dos responsáveis em Cannes e como participamos lá, questionei-o se não podíamos apresentar o nosso trabalho em Portugal. E ele respondeu que, como fiz uma estreia num festival internacional, não podiam apresentar a curta. E isso é triste. Por isso, se eu tiver de escolher um Festival de Cannes, ou de Toronto, seja qualquer um, eu vou escolher os de fora. É minha opção pessoal. Fomos ao Festival porque, é a minha terra e conheço todas as pessoas.
E os restantes?
RR: Os restantes nem sequer nos responderam. Estive à espera de resposta quase até o final dos prazos de apresentação de candidatura e nada. Mas também compreendo que com tantos pedidos talvez não houvesse tempo para respostas.