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O ilusionista do caos

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E se por instantes parássemos para pensar no infinito número de coincidências. Esta é uma das premissas do novo espectáculo de Luís de Matos, sobre a teoria do caos, em tournée nacional, que apresenta novas ilusões, transformações do efeito borboleta que transportam o espectador para um momento que nunca mais se repetirá no tempo.

Demora muito tempo para montar um espectáculo como o “Chaos”? Já que um dos truques começa em 2011.
Luís de Matos: Cada espectáculo demora uma vida inteira a preparar, porque cada show não é o resumo dos dois ou três anos que dedicámos mais a um determinado projecto, nele se vê reflectido toda uma vida, uma carreira, uma experiência, um conceito estético e uma maturidade que é só possível ter se considerarmos todos os anos para atrás. Respondendo à pergunta, sim, demora dois a três anos a preparar, mas neste período de tempo não se faz tudo o que esta aqui, isto é uma evolução de toda uma vida dedicada à magia.

25 anos de carreira, olhando para átras, houve alguma coisa que não fizeste ainda ou te arrependeste de fazer?
LM: Arrepender não me arrependo de practicamente nada, sobretudo das coisas más, porque são elas que nos fazem crescer, que nos dão uma maior atenção, maturidade, cuidado, mestria e isso vem tudo com os erros se cometem ao longo da vida, não mudaria nada. Se há coisas que gostaria de fazer e não fiz ainda, milhares delas e são elas que quero fazer cada dia.

Tu és quase um atleta, tens de treinar o teu corpo intensamente para alguns dos truques que apresentas que são muito exigentes fisicamente, é-te mais fácil actualmente entrar nesse estado de espírito com o passar dos anos?
LM: Provavelmente quando se somam experiências e quando o que faço é feito por paixão e gosto. Eu o desenhei e tive a ambição de o fazer assim, enfim é algo que faço sempre com grande prazer numa tentativa de auto-superação e de não desapontar as pessoas que acompanham mais de perto o meu trabalho.

Durante o espectáculo disseste que vês os shows de outros mágicos. Há um certo medo de repetição? Por vezes pensas num truque e depois aparece no trabalho de outro mágico.
LM: Sim, claro, acontece por várias maneiras. Ocorre quando esse mágico se dedica ao plágio e copiou coisas que já viu antes, pode também acontecer porque esse profissional teve uma ideia semelhante e não tenha visto nada antes, pode suceder por muitas circunstâncias. Agora, eu procuro despertar a minha concorrência, sou eu que procuro ser melhor hoje do que ontem, só isso faz com que valha a pena o meu dia-a-dia, o meu esforço, a minha paixão, só vale a pena ser melhor do que fui ontem e espero que amanhã seja muito melhor.

Achas que os portugueses ainda gostam de magia ou nem por isso? Já que nos últimos anos a tua carreira tem-se centrado mais em Espanha.
LM: Acho que todas as pessoas gostam de magia com qualidade e há muito que partiram da ideia estereotipada de um mágico de cartola que faz aparecer lenços e pombas e hoje querem mais. Com a internet, com os canais de televisão e as viagens as pessoas estão à procura de uma magia mais contemporânea, que possa ombrear com as outras formas de arte, mas que não cheire a mofo, que tenha um toque de contemporaniedade permanente e isso é o mais importante.

Tu organizas festivais de magia, ao nível nacional, tu notas que há cada vez mais jovens entusiasmados com o ser mágico?
LM: Não só nos festivais de magia que organízamos, mas no final de cada espectáculo eu tenho sempre 4 a 10 jovens mágicos que mostram truques e habilidades com cartas, coisas especiais e acho que isso é prova que a magia como arte transversal, como forma universal de comunicação que continua a apelar, enfim, a todas as idades. Existem, contudo, jovens que derivam facilmente para uma profissão hoje e amanhã querem outr e há um dia que querem ser mágicos, para alguns isso acaba por ficar, que é o meu caso.

Existem várias promessas nacionais que não conseguem fazer carreira cá. Tu, embora tenhas começado em Portugal, eras practicamente o único na altura, agora, que conselhos dás aos jovens tendo em consideração que não podem estar restrictos as fronteiras do seu país?
LM: Eu acho que o conselho que dou aos jovens que querem ser mágicos, é o mesmo que dou aos que querem ser médicos, advogados e agricultores, ou políticos, é que estudem línguas, aprendam a falar o maior número possível de idiomas. Falar inglês, francês e espanhol são passaportes para a vida, são formas de que nos permite conhecer as ideias dos outros para além daquelas com quem partilhámos um país. Para mim aprender línguas é o mais inteligente e rentável investimento que qualquer pessoa em qualquer idade, principalmente os jovens podem e devem fazê-lo.

Há alguns dos jovens mágicos nacionais que de facto admires?
LM: Ao nível nacional gosto do trabalho do Tiago Morgado e do João Blümel que apresentam trabalhos originais, independentes e sérios. A propria selecção natural se vai encarregando que uns triunfem mais do que outros e isso tem a ver com o agrado que conseguem suscitar junto do público, na perseverança que tem no seu trabalho e na procura constante de se auto-superarem e, portanto, acho que o tempo decide quem é que fica e quem é passageiro.

Tens algum nemesis?
LM: Não, acho que aquilo que a minha força é a vida, é o estar, não tenho nenhuma dependência para além daquela que é acordar e ter o prazer enorme de estar vivo e poder ser dono do meu tempo.

E ao fim de 25 anos ainda continuas apaixonado pela magia do que quando começaste?
LM: O mais possível e isso é de facto o mais surpreendente, porque para mim o que marca é o segredo de fazer o que faço, a paixão que sinto pela minha profissão, mas se a perder terei que ter a coragem suficiente de me afastar.

Se não fosses mágico o que serias?
LM: Não sei, poderia trabalhar num Mac Donald, podia ser realizador, presidente de Câmara, taxista, nunca se sabe, é difícil saber o seríamos se não fossemos o que somos, porque somos o resultado de todas as escolhas que fizemos na vida, é disso que fala a teoria do caos e do efeito borboleta. As pequenas coisas que fizemos ao longo da vida acabam por ter repercussões grandes e acabam por determinar o que acontece ao longo dos nossos dias e isso tudo é belo.

Achas que há um ponto em que vais ter de reformar? Olhando para a tua carreira e pensando que atingiste o ponto.
LM: O ponto esta decidido desde o início da minha carreira, no dia em que deixar de gostar.

Sim, mas muitos dos teus truques dependem do teu corpo.
LM: Sim, aquilo que foi utilizando em cada ilusão foi variando ao longo dos tempos, não é preciso depender do corpo para criar truques, há uns que se criam com palavras, pensamentos e outros sentado numa cadeira. Há ilusões para todo o tipo, isso é o mesmo que dizer que só as pessoas com dedos longos é que podem tocar piano, ou podem ser pintores, existem pessoas que não tem mãos e pintam e há quem toque com os pés. A magia esta cheia de histórias de auto-superação que mostraram precisamente que não existe uma fisicalidade absolutamente necessária para criar ilusões, é uma questão de estética, de gosto e apetência para usar aquilo que temos, mas no meu caso é perfeitamente claro, no dia em que não gostar de fazer o que faço, tenho imensas outras coisas para ocupar o meu tempo.

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