Quando falas de apoio a que te referes?
ALL: Do próprio Estado, da DG artes, deviam olhar de outra forma para estes fenómenos que acontecem fora de Lisboa, do centro, onde se concentram vários eventos de forma simultânea. Deviam perceber a importância que estes espaços tem também para a promoção da cultura portuguesa. Sentimos isso através dos grupos que aparecem e que nos dizem que ficam felizes com um espaço com estas características, porque muitas vezes, o CCB tem os artistas do costume e acabam por ter poucos locais para apresentar os seus trabalhos e ficam contentes que hajam lugares que os acolhem. Precisámos neste momento de mecenas que nos apoiem para manter essa fasquia de qualidade e como é óbvio os artistas também tem de viver e ganhar os seus cachets. Essa é a maior dificuldade, financeiramente viabilizar um projecto que tem um peso elevado, a nossa equipa tem 16 pessoas para manter o Palácio. Neste momento é um trabalho voluntário e muito voluntarioso, mas a dada altura temos que ter outras condições, porque as pessoas cansam-se. A programação é quinzenal e exige uma grande entrega.
Agora, um vislumbre da programação para este ano.
ALL: Nós decidimos neste primeiro semestre apostar muito na música. Vamos ter fado, Vicente da Câmara, um grande senhor do fado, temos Mazgani, que é um artista muito interessante, ele é meio iraniano, meio português. Vamos ter a swing stations que é um grupo de dança vintage, um concerto de música jazz e ainda, vamos ajudar ao lançamento do álbum dos "la macchina volante". No segundo semestre vamos estrear um novo espectáculo da Inéstetica que é um musical a partir de Edgar Allan Poe, é uma peça mais negra, gótica, volto à narrativa, vamos ter ópera que foi bem recebida, a preço simbólico.
Esperavas público para a ópera?
ALL: Sim, esperava. A ópera é o São Carlos e practicamente não há mais nada, é muito cara e as pessoas tem a ideia é que é inacessível. A Catarina Molder que colaborou connosco, desmitifica essa ideia, ópera não é só para elites e conseguimos realizar em parceria espectáculos muito interessantes, com bilhetes a um preço eu diria popular e ainda por cima como o Pálacio não é um espaço muito grande, o salão nobre dá cerca para 100 pessoas, há sempre esse lado intímo, os artistas estão sempre a cantar, ou a tocar a 10 metros de nós e isso também proporciona noites muito especiais.
Falemos do vosso espectáculo Debut, porquê esse nome?
ALL: É uma estreia em termos de metodologia para as próprias interpretes. Nenhuma delas tinha feito um trabalho com estas características e por outro lado, tem a ver com o baile de debutantes em que as jovens são apresentadas à sociedade, os pais tentavam maquilhar as filhas e apresentá-las com o intuito de conseguirem um bom casamento, isto no século XVIII, então peguei nesse conceito e de certa forma vou apresenta-las.
É a mulher-objecto?
ALL: No início, mas depois tudo o que dito é verdade, por incrível que pareça os nomes são delas, não há personagens.
As "personagens" aparecem então na segunda parte, quando há uma certa deconstrução de cada uma delas?
ALL: Aquilo são elas, quando elas descontroem o figurino, as roupas são delas, todas as peças tem a sua história, o nome é verdadeiro, tudo aqui é verdade, parece ficção, mas não é. Foi essa fronteira que tentámos explorar, acaba por ser de uma grande exposição.
Tem também muita interacção com o público, quisestes esfumar a linha que existe entre o palco e o público.
ALL: Nós já fizemos esta peça num grande auditório e sentimos todos que isso anulava algo que a performance tem, que é esse contacto com o público, sentimos essa distância. Prefiro salas mais pequenas precisamente porque tem a ver com a performance, que é questionar, interrogar e envolver as pessoas no próprio contexto artístico e foi isso que tentámos com o "debut".
E as vendas?
ALL: Tem múltiplas leituras, é metafórica, é um processo sensioral também, porque quando vendámos alguém a pessoa concentra-se em outras coisas, no corpo, na fisicalidade e a metafórica no início pode ser entendida de várias maneiras, eu não gostava de fechar o sentido, mas para mim, tem várias leituras.
É isso que procuras sempre quando escreves uma peça para teatro?
ALL:Sim, eu não gosto de fechar a narrativa.
Nos vossos últimos trabalhos as peças tem início, meio, mas nunca tem fim.
ALL: Eu procuro fazer sempre isso nos meus trabalhos.
Porquê?
ALL: Porque acho que o espectador é uma entidade activa, não é passiva, porque é que tenho de contar a história da carochinha e fechar-lhe a história? As pessoas constroem a sua, no final da noite temos muitas, o espectador identificam-se com um momento e com frases que foram ditas, ou situações e levam à sua história para casa. Eu acho que esse sentimento de também enquanto espectadores construir a narrativa, é interessante.