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O mestre de cerimónia

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O Grupo Inestética é actualmente responsável pelo espaço cultural do Palácio do Sobralinho, em Vila Franca de Xira. Uma programação que Alexandre Lyra Leite e a sua equipa pretendem que seja eclética e de qualidade. Mas, há surpresas este ano.

A actividade cultural do Palácio começou em 2013 e já vai na sua segunda edição. Mas, gostava de saber o porquê da escolha daquele local?
Alexandre Lyra Leite: O palácio do Sobralinho resulta de um protocolo que assinámos com à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, ao fim destes vinte anos de trabalho, a edilidade que tem sempre apoiado à nossa actividade achou que chegou o momento de nos proporcionar um espaço onde pudessemos realizar uma programação cultural, com outras condições e ambição. A parceria permite-nos sediar a companhia lá e em troca dinamizámos um espaço que é municipal, que pode ser visitado pelas pessoas, mas onde antes não aconteciam nenhuns eventos. Actualmente a Inestética assume à sua programação consistente com novos criadores, mas também com alguns consagrados para levar o público até aquele espaço que é tão especial.

Pelo que me apercebi o programa é multifacetado tem música lírica, para além do teatro, mas também possuem workshops. Nota-se uma preocupação em ter uma programação coerente, contudo, qual é a sua linha condutora?
ALL: O que nos guia é a qualidade e identificar-nos com que aparece lá.

Como é que seleccionam os grupos, eles vem ter com vocês ou é ao contrário?
ALL: No início resultou de uma rede de cumplicidades, são artistas nossos amigos que fizemos ao longo deste percurso, resultou de telefonemas e mails. Nesta fase, como o projecto esta a crescer e ganhar visibilidade já começámos a receber muitas propostas e ter a necessidade de seleccionar. Enfim, temos a programação fechada até Dezembro e já começámos a programar para 2015, isto significa que existe muita vontade por parte dos artistas, eles sentem muita necessidade de circular e fazer um circuito que não é necessariamente dos cines teatros, ou dos grandes espaços. A qualidade para nós é saber que o público vai encontrar no Palácio espectáculos que valem a pena a deslocação, porque tem um nível e uma qualidade artística que não defrauda as expectativas. A programação é muito diversa porque queremos chegar a todos os públicos, o de fado é um desses aspectos, o canto lírico é outro e a nossa ideia não é fechar-nos num clube de amigos, isso não nos parece interessante, mas sim abrir a programação ao maior número de pessoas, abrir um espaço que é municipal e deve ser dividido por todos. Se fizessemos só lá performances seria redutor estavámos a enclausurar-nos na nossa tribo, por isso temos apostado num programação muito eclética, artistas diferentes, mas de que gostámos porque temos de ter essa identificação emocional. Temos de ter orgulho do que mostrámos lá.

Quando olhas para a programação de 2013, o que foi melhor e o que achas que se pode melhorar e estão a aplicar neste novo programa?
ALL: Em 2013 começámos em Setembro e só tivemos 3 meses de programação. Foi um arranque muito auspicioso, porque a população aderiu, houve uma adesão fantástica aos diversos eventos e sentimos que havia vontade por parte das pessoas de procurarem esse espaço com determinadas características e com uma programação que se distingui-se ao nível regional. E portanto, a nossa reflexão foi altamente positiva desses meses, sentímos que podíamos ali fazer coisas muito abrangentes e chegar a vários públicos, que é que podemos melhor? Temos de ter mais apoio das entidades.

 

 

Quando falas de apoio a que te referes?
ALL: Do próprio Estado, da DG artes, deviam olhar de outra forma para estes fenómenos que acontecem fora de Lisboa, do centro, onde se concentram vários eventos de forma simultânea. Deviam perceber a importância que estes espaços tem também para a promoção da cultura portuguesa. Sentimos isso através dos grupos que aparecem e que nos dizem que ficam felizes com um espaço com estas características, porque muitas vezes, o CCB tem os artistas do costume e acabam por ter poucos locais para apresentar os seus trabalhos e ficam contentes que hajam lugares que os acolhem. Precisámos neste momento de mecenas que nos apoiem para manter essa fasquia de qualidade e como é óbvio os artistas também tem de viver e ganhar os seus cachets. Essa é a maior dificuldade, financeiramente viabilizar um projecto que tem um peso elevado, a nossa equipa tem 16 pessoas para manter o Palácio. Neste momento é um trabalho voluntário e muito voluntarioso, mas a dada altura temos que ter outras condições, porque as pessoas cansam-se. A programação é quinzenal e exige uma grande entrega.

Agora, um vislumbre da programação para este ano.
ALL: Nós decidimos neste primeiro semestre apostar muito na música. Vamos ter fado, Vicente da Câmara, um grande senhor do fado, temos Mazgani, que é um artista muito interessante, ele é meio iraniano, meio português. Vamos ter a swing stations que é um grupo de dança vintage, um concerto de música jazz e ainda, vamos ajudar ao lançamento do álbum dos "la macchina volante". No segundo semestre vamos estrear um novo espectáculo da Inéstetica que é um musical a partir de Edgar Allan Poe, é uma peça mais negra, gótica, volto à narrativa, vamos ter ópera que foi bem recebida, a preço simbólico.

Esperavas público para a ópera?
ALL: Sim, esperava. A ópera é o São Carlos e practicamente não há mais nada, é muito cara e as pessoas tem a ideia é que é inacessível. A Catarina Molder que colaborou connosco, desmitifica essa ideia, ópera não é só para elites e conseguimos realizar em parceria espectáculos muito interessantes, com bilhetes a um preço eu diria popular e ainda por cima como o Pálacio não é um espaço muito grande, o salão nobre dá cerca para 100 pessoas, há sempre esse lado intímo, os artistas estão sempre a cantar, ou a tocar a 10 metros de nós e isso também proporciona noites muito especiais.

Falemos do vosso espectáculo Debut, porquê esse nome?
ALL: É uma estreia em termos de metodologia para as próprias interpretes. Nenhuma delas tinha feito um trabalho com estas características e por outro lado, tem a ver com o baile de debutantes em que as jovens são apresentadas à sociedade, os pais tentavam maquilhar as filhas e apresentá-las com o intuito de conseguirem um bom casamento, isto no século XVIII, então peguei nesse conceito e de certa forma vou apresenta-las.

É a mulher-objecto?
ALL: No início, mas depois tudo o que dito é verdade, por incrível que pareça os nomes são delas, não há personagens.

As "personagens" aparecem então na segunda parte, quando há uma certa deconstrução de cada uma delas?
ALL: Aquilo são elas, quando elas descontroem o figurino, as roupas são delas, todas as peças tem a sua história, o nome é verdadeiro, tudo aqui é verdade, parece ficção, mas não é. Foi essa fronteira que tentámos explorar, acaba por ser de uma grande exposição.

Tem também muita interacção com o público, quisestes esfumar a linha que existe entre o palco e o público.
ALL: Nós já fizemos esta peça num grande auditório e sentimos todos que isso anulava algo que a performance tem, que é esse contacto com o público, sentimos essa distância. Prefiro salas mais pequenas precisamente porque tem a ver com a performance, que é questionar, interrogar e envolver as pessoas no próprio contexto artístico e foi isso que tentámos com o "debut".

E as vendas?
ALL: Tem múltiplas leituras, é metafórica, é um processo sensioral também, porque quando vendámos alguém a pessoa concentra-se em outras coisas, no corpo, na fisicalidade e a metafórica no início pode ser entendida de várias maneiras, eu não gostava de fechar o sentido, mas para mim, tem várias leituras.

É isso que procuras sempre quando escreves uma peça para teatro?
ALL:Sim, eu não gosto de fechar a narrativa.

Nos vossos últimos trabalhos as peças tem início, meio, mas nunca tem fim.
ALL: Eu procuro fazer sempre isso nos meus trabalhos.

Porquê?
ALL: Porque acho que o espectador é uma entidade activa, não é passiva, porque é que tenho de contar a história da carochinha e fechar-lhe a história? As pessoas constroem a sua, no final da noite temos muitas, o espectador identificam-se com um momento e com frases que foram ditas, ou situações e levam à sua história para casa. Eu acho que esse sentimento de também enquanto espectadores construir a narrativa, é interessante.

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