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“Maria de Rodas, delícias e desafios na maternidade de mulheres cadeirantes”

Escrito por  yvette vieira ft direitos reservados

 

Das autoras, Carolina Ignarra, Tatiana Rolim e Flávia Cintra que esteve em Portugal recentemente, é um livro que aborda sobretudo os desafios da maternidade, mais do que a deficiência. É o relato de três Marias de bem com a vida, felizes e realizadas no seu papel de mães.

Conta-me a história de como começou à aventura da Maria das rodas?
Flávia Cintra: Quando eu fiquei grávida, fiquei muito assustada com a curiosidade que as pessoas tinham de como tinha ficado nesse estado. Era até engraçado, perguntavam: mas, como é que conseguiu? Quer mesmo que conte como? Foi mesmo da forma convencional. Depois que as crianças nasceram comecei a responder a muitos emails de mulheres de cadeiras de rodas, querendo saber, como havia feito? Se tinha alguma adaptação? Como é que conseguia cuidar os bébés e decidi criar um blogue na internet. Comecei a escrever sobre isso, como um diário, às vezes eu criava uma solução, uma almofada para apoiar o bébé e colocava o post, eu tenho dois filhos e tinha de amamentar ao mesmo tempo, porque ainda tive essa sorte, fiquei grávida de gémeos. Eu achava que o blogue era lido só por essas mulheres cadeirantes que queriam ter filho e procuravam em mim alguma informação, ou conselho. Aí tive a surpresa de constatar que pessoas que não eram interessadas em ter filhos e até homens, pessoas sem deficiência liam também. Assim, eu e mais duas mães cadeirantes decidimos reunir as nossas histórias, porque eu tive dificuldades que elas não tiveram, ou viveram os mesmos problemas, mas encontraram soluções diferentes e outra situações ainda que eu não vivi e achei que só a minha experiência para um livro era pouco, por isso, reuni tantas histórias tão diferentes que achei que era um conteúdo mais completo.

Mas, como é que conhecestes a Carolina e a Tatiana?
FC: Nós já nos conhecíamos, aí eu dizia para elas, gente, tem uma grávida no Nordeste do Brasil e dua grávidas no Sul e a gente comemorava, por acreditarem que era possível, porque por incrível que pareça estámos falando do século XXI e ainda existem pessoas que acham que a sexualidade não existe na condição da deficiência e que a maternidade é impossível. Quebrar esse tabu, levar essa informação é muito prazeroso. Você servir de recurso e de referência para alguém que muda a sua vida para ser feliz é muito bom.

O livro foi editado em 2012, a primeira edição esgotou logo.
FC: E esta segunda edição já esta acabando, vamos na terceira.

Achaste que terias esse sucesso editorial e que seria lido por um público tão vasto?
FC: Sim, eu esperava. Quando decidi escrever o livro, eu já sabia que o assunto interessava e não havia literatura disponível, em nenhum idioma. Nada, ou seja as pessoas pensavam que não existia, especialmente porque não era um livro técnico, era sobre histórias humanas. Então acaba se tornando interessante para quem não é deficiente, quem não tem essa dúvidas, mas se interessa por relatos sensíveis. Então tem questões prácticas, por exemplo, as questões relacionadas com infecção urinária, que é muito recorrente para quem esta em cadeira de rodas e a grávida tem uma maior propensão de ter este tipo de problema.Se ela esta numa cadeira de rodas a chance é muito maior, é aliás, uma das principais causas de aborto espontâneo, porque há maior probabilidade de perder o bébé nos três primeiros meses. São dois factores unidos. Isso é uma dica muito importante e se a futura mãe não tem conhecimento, pode não se cuidar e acaba perdendo a criança.

 

 

E quais eram as perguntas mais frequentes?
FC: Se é possível amamentar, ter parto normal, se vai criar escaras, machucados por estarmos na cadeira de rodas e a chance de as ter é muito maior, porque eu conheço o meu corpo, eu tenho uma almofada adequada ao meu peso, então eu não tenho escara, mas quando fico grávida, cada mês o meu peso aumenta e a pressão sobre a almofada vai aumentando, se eu não moldo mês a mês essa diferença, vou ter escara. Então essas dicas, vão passando entre as mulheres. Depois perguntam: se é difícil ser mãe numa cadeira de rodas? Primeiro eu não sei como ser mãe de outro jeito, e então não sei se é mais díficil.

Então ser mãe de gémeos é diferente? Comparando a tua experiência com mães de gémeos que andam?
FC: Eu não sei como ser mãe de um filho só, eu só sei ser mãe de gémeos, de dois ao mesmo tempo e de cadeira de rodas, deve ser estranho isso, fazer as coisas uma vez, eu estou acostumada a fazer tudo duas vezes. Então as pessoas acham que sou uma vencedora, porque cuido de duas crianças, mas gente, para mim é normal, eu não sei fazê-lo de outro jeito, talvez me atrapalhasse se tivesse só um.

Quais são os teus maiores receios agora?
FC: Eu tenho medo de morrer antes de eles ficarem adultos e de algum dia precisarem de alguma coisa que eu não possa dar. Só disso.

A tua viagem foi de tal forma forte que inspiraste a personagem da Alinne Moraes em "viver a vida", que foi uma das personagens mais marcantes da telenovela e aliás foi uma das preferidas do público. Tu achaste que foi um bom retrato do que ser mulher estar numa cadeira de rodas?
FC: Sem dúvida que sim, claro que numa novela ela é blindada por um cenário, por ser na televisão, então não deu para mostrar tudo, mas deu para ver uma parte mais importante. Eu acho que a grande conquista da novela é que uma mulher linda, a Alinne Moraes, numa cadeira de rodas foi recebido como uma tragédia pelo público. As pessoas a começaram a fazer o que fazem quem elas gostam, a torcer para ela voltar a andar, então havia uma torcida muito grande para a Luciana, voltar a andar. Quanda ela começou a sair, a passear, a se exercitar e a namorar, as pessoas começaram a perguntar-se, será que ela e o Miguel se vão beijar? E eles vão poder ter vida sexual? Eles vão casar? E vão ter filhos? As pessoas não se perguntaram mais se ela ia voltar a andar. Elas queriam saber se a Luciana ia conseguir ser feliz e a cadeira de rodas ficou tão parte do cenário e da história que ninguém se importava mais, então eu acho a grande conquista dessa novela é que existe final feliz com a cadeira de rodas.

E, agora, depois de ter percorrido o Brasil com este livro e no estrangeiro, quem é vem ter contigo para falar sobre esta história da Maria da rodas? São só cadeirantes ou não?
FC: Não. Eu acho até mais mais pessoas sem deficiência do que com deficiência. Porque a sociedade, nós, crescemos com a ideia que as pessoas com deficiência devem ser protegidas, cuidadas por instituições e o mundo mudou e quando as pessoas vêem histórias como a minha abrem o olhar, ampliam o entendimento, o que é bom para elas também, porque quanto mais pessoas diferentes a gente conhece, maiores são as changes de crescer como ser humano, aprender a se desenvolver, quando se livram dos preconceitos, as pessoas são mais felizes, vivem melhor. Elas ficam muito sensibilizada com a minha história, porque mostra que as coisas que acharam que eram verdade quando foram crescendo não são.

Estão a pensar em publicar um segundo livro?
FC: Ainda não, existe a ideia de um filme, um documentário, Mas, ainda é um projecto.

É um documentário sobre as vossas vidas?
FC: Com outras mulheres também.

Para mostrar o quotidiano de mulheres em cadeira de rodas?
FC: De mães cadeirantes.

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