E quais eram as perguntas mais frequentes?
FC: Se é possível amamentar, ter parto normal, se vai criar escaras, machucados por estarmos na cadeira de rodas e a chance de as ter é muito maior, porque eu conheço o meu corpo, eu tenho uma almofada adequada ao meu peso, então eu não tenho escara, mas quando fico grávida, cada mês o meu peso aumenta e a pressão sobre a almofada vai aumentando, se eu não moldo mês a mês essa diferença, vou ter escara. Então essas dicas, vão passando entre as mulheres. Depois perguntam: se é difícil ser mãe numa cadeira de rodas? Primeiro eu não sei como ser mãe de outro jeito, e então não sei se é mais díficil.
Então ser mãe de gémeos é diferente? Comparando a tua experiência com mães de gémeos que andam?
FC: Eu não sei como ser mãe de um filho só, eu só sei ser mãe de gémeos, de dois ao mesmo tempo e de cadeira de rodas, deve ser estranho isso, fazer as coisas uma vez, eu estou acostumada a fazer tudo duas vezes. Então as pessoas acham que sou uma vencedora, porque cuido de duas crianças, mas gente, para mim é normal, eu não sei fazê-lo de outro jeito, talvez me atrapalhasse se tivesse só um.
Quais são os teus maiores receios agora?
FC: Eu tenho medo de morrer antes de eles ficarem adultos e de algum dia precisarem de alguma coisa que eu não possa dar. Só disso.
A tua viagem foi de tal forma forte que inspiraste a personagem da Alinne Moraes em "viver a vida", que foi uma das personagens mais marcantes da telenovela e aliás foi uma das preferidas do público. Tu achaste que foi um bom retrato do que ser mulher estar numa cadeira de rodas?
FC: Sem dúvida que sim, claro que numa novela ela é blindada por um cenário, por ser na televisão, então não deu para mostrar tudo, mas deu para ver uma parte mais importante. Eu acho que a grande conquista da novela é que uma mulher linda, a Alinne Moraes, numa cadeira de rodas foi recebido como uma tragédia pelo público. As pessoas a começaram a fazer o que fazem quem elas gostam, a torcer para ela voltar a andar, então havia uma torcida muito grande para a Luciana, voltar a andar. Quanda ela começou a sair, a passear, a se exercitar e a namorar, as pessoas começaram a perguntar-se, será que ela e o Miguel se vão beijar? E eles vão poder ter vida sexual? Eles vão casar? E vão ter filhos? As pessoas não se perguntaram mais se ela ia voltar a andar. Elas queriam saber se a Luciana ia conseguir ser feliz e a cadeira de rodas ficou tão parte do cenário e da história que ninguém se importava mais, então eu acho a grande conquista dessa novela é que existe final feliz com a cadeira de rodas.
E, agora, depois de ter percorrido o Brasil com este livro e no estrangeiro, quem é vem ter contigo para falar sobre esta história da Maria da rodas? São só cadeirantes ou não?
FC: Não. Eu acho até mais mais pessoas sem deficiência do que com deficiência. Porque a sociedade, nós, crescemos com a ideia que as pessoas com deficiência devem ser protegidas, cuidadas por instituições e o mundo mudou e quando as pessoas vêem histórias como a minha abrem o olhar, ampliam o entendimento, o que é bom para elas também, porque quanto mais pessoas diferentes a gente conhece, maiores são as changes de crescer como ser humano, aprender a se desenvolver, quando se livram dos preconceitos, as pessoas são mais felizes, vivem melhor. Elas ficam muito sensibilizada com a minha história, porque mostra que as coisas que acharam que eram verdade quando foram crescendo não são.
Estão a pensar em publicar um segundo livro?
FC: Ainda não, existe a ideia de um filme, um documentário, Mas, ainda é um projecto.
É um documentário sobre as vossas vidas?
FC: Com outras mulheres também.
Para mostrar o quotidiano de mulheres em cadeira de rodas?
FC: De mães cadeirantes.