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Roberto Gomes, um espírito indomável

Escrito por 

b.d2

É um dos nomes mais promissores da BD em Portugal e recentemente ilustrou a vida de um herói da república. Um trabalho que não esgota o seu talento pouco reconhecido no nosso país.

Como surgiu a tua paixão pela Banda Desenhada?

Roberto Gomes : Os primórdios mesmo foram na escola secundária, onde conheci um dos meus melhores amigos, que já desenhava com frequência. Eu já o fazia mas nunca com muita seriedade, ou mesmo que havia profissões que utilizem o desenho. E ao vê-lo desenhar, tive uma epifania, quando vi a BD e reparei que existiam pessoas por detrás disto, e ai caiu-me a ficha e eu me apercebi, que se eu desenha-se e continua-se a treinar, eu poderia desenhar como aquele rapaz. E foi assim.

E em termos de carreira?

RG: Isso foi muito mais tarde e não sei se posso dizer que tenha criado nome na banda desenhada. As oportunidades têm sido muito poucas. Eu tenho formação em design gráfico e a BD surgiu mais como algo secundário, a partir de determinada altura. E quando surgem projectos, eu vou alternando. A BD apareceu na faculdade, quando eu frequentei um workshop com um artista bastante conceituado que é o José Carlos Fernandes, e que depois mostrou interesse pelo meu talento. E propôs-me um desafio, ele tinha um conjunto de histórias na gaveta que ele pretendia entregar a outros desenhadores para fazerem algo diferente. E propôs-me desenhar uma história, eu ilustrei, ele gostou e daí resolvemos fazer um livro de 72 páginas. Pertence a uma colecção intitulada,”the black book histories”. Já saiu o volume um, com outro desenhador e o meu é o volume dois, que têm como subtítulo “Mar de Heraldo”.

Guia-nos pelo processo de criação de um livro de arte sequencial.

RG: O José Carlos escreve pequenas histórias e não guiões e o desenhador tem a liberdade de as interpretar como quiser. O desenhador constrói a sequência de imagens, um storyboard, decide através das palavras dos textos o que deve ser representado por imagens, aí as palavras deixam de fazer sentido, algumas cortam-se no texto para não haver redundância com o que esta ser imaginado e basicamente é isso. Ou seja, nós criamos as imagens sequenciais.

E qual foi o teu maior desafio? E o mais difícil?

RG: O último livro que desenhei foi o José Mendes Cabeçada Júnior, um espírito indomável. Era a cerca da vida de uma figura histórica e tínhamos que condensar uma existência, cheia de factos importantes em 40 páginas. E isso foi um desafio. E os prazos nunca são alargados e é uma grande responsabilidade, tinha que ter uma aparência final com qualidade e contar bem a história. E depois foi encomendado pela Câmara Municipal de Loulé e eles queriam que fosse o José Carlos a desenhar, mas ele tinha muito trabalho e não podia. Então eu decidi basear-me no estilo dele, acrescentando o meu, e criando uma simbiose com as minhas particularidades e as dele, ou seja, do que costuma fazer nas suas BD. E assim nasceu este livro único, com pequenas influências do José Carlos e que têm o meu desenho.

 

 

Quais as tuas principais referência na BD? O José Carlos Fernandes e mais?

RG: É sempre uma pergunta ingrata e cometemos sempre injustiças, ao nível nacional que é o Miguel Rocha, ele tem um trabalho extraordinário, por isso foi uma influência e a BD japonesa, a Manga. O meu desenho tinha muitas influências japonesas que foram-se perdendo ao longo do tempo. Eu era um assíduo espectador do dragon ball. O meu amigo é que me levou a descoberta deste tipo de BD, porque ele tinha uma colecção assinalável. Mas, depois com o José Carlos e conheci outros desenhadores e comecei a criar o meu próprio estilo.

Trabalhos para o futuro?

RG: Acabei uma prancha de três tiras para um concurso. É uma adaptação de um texto de Nicola Tersla e eu criei para a banda desenhada. Eu não sou argumentista, sou apenas o ilustrador. Eu sou a bom a imaginar como contar por imagens uma história, ou um texto literário. Não sou bom a escrever. E por isso, prefiro manter-me com pessoas que saibam escrever.

 Qual é o cenário da arte sequencial em Portugal?

RG: Eu não sou uma boa fonte para tirar elações sobre o assunto. O que noto é que ao longo do tempo tem vindo a degradar-se. Ao nível dos autores nacionais, para uma BD chegar a um leitor, ela tem muitas etapas, e elas vão falhando, é impossível chegar ao fim e imprimir 2000 exemplares. E as pessoas saberem que saíram para o mercado e surgir o interesse nessa leitura.

Mas, há público no nosso país?

RG: As editoras tem muita dificuldade em sobreviver e não tem mãos a medir. Tentam fazer dinheiro com o mais possível, e às vezes há uma edição que salvam as sete ou oito que não lucraram nada. Por isso, andam sempre com a corda na garganta. Há também um gap, que é falta de publicidade. No mundo do cinema, o êxito de um filme depende da forma como é feita a divulgação. E o mesmo acontece na BD, também temos que apostar nessa vertente, não é só colocar os livros nas prateleiras da Fnac e estar à espera que as pessoas vão ter com o livro, porque como a concorrência é muita temos de ir ao encontro das pessoas para que conheçam o nosso trabalho. Fazer uma tour nacional de livraria em livraria. Eu acho que se houver saída passa pelo digital, por essa nova plataforma. O modelo tradicional não parece estar a resultar.

http://www.robertogomes.carbonmade.com/

http://www.blackboxsyndicate.blogspot.com/

http://www.kaztorama.deviantart.com/

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