Tu desenhas primeiro os acessórios ou as peças de vestuário?
SB: Já fiz de uma maneira e de outra, depende da colecção e da urgência ao nível de fornecedores também.
E ao nível dos materiais como é que fazes essa pesquisa? Sei que tens uma base que é o crochet e as rendas.
SB: Sim, mas não tanto em termos de materias, apenas da técnica em si. É isso mesmo que tento fazer, procuro utilizar fórmulas antigas com materiais novos para modernizá-las de forma a serem mais aceites pelo público mais jovem e pelos novos clientes.
Mas esse conhecimento que tentas obter é em termos de técnicas nacionais, ou também pesquisas outros países, como a Ásia?
SB: Portanto, como já tenho várias colecções já usei muitas técnicas. Eu sou especializada em malha e às vezes não tem a ver com pesquisa, mas sim, quando estou olhar para o meu "mood board", que é o conceito da minha colecção, procuro o que me ajuda a traduzir tudo isso em malha, como é algo que faço desde pequena sai-me naturalmente, tanto posso fazer ponto de bilros, como frioleira, como faço crochet de dois pinos.
Tem ainda alguma influência directa ou indirecta o facto de seres proveniente de uma ilha, de seres açoriana?
SB: A ilha tem sempre uma influência, porque é uma grande parte de mim, logo sendo criadora tudo influência, todas as malhas que aprendi e tudo o que sou é porque sou de lá.
Vamos falar da tua última colecção de primavera-verão 2015, o que te inspirou em termos das tendências para a criação das peças?
SB: Eu não vou buscar tendências. Eu pesquiso coisas que se estão a passar no mundo, arte digital, exposições e senti que tem sido algo que tenho vindo a desenvolver desde as minhas últimas colecções. O contraste entre tudo o que é man made, ou seja, o artesanato, depois o mundo digital e tecnológico. Acaba por ser nos padrões dos tecidos que se nota mais, o que quis representar é a natureza, as texturas, as flores, a água e o céu dentro de um padrão pixelizado que é o que representa a parte da tecnológica. E a partir daí desenvolver o meu próprio quadro artístico, a colecção coesa acaba por sair daí, dos padrões e do resto.
Há uma peça emblemática nessa colecção ou não?
SB: Há várias. O colete preto todo trabalhado à mão com franjinhas que eu acho que é muito importante. Depois na parte dos estampados, nos boomers que são os casacos, foram muito fortes e criaram muita identidade nesta colecção.
Dirias que é uma colecção mais estruturada em termos de modelagem das peças?
SB: Sim, foi mais estruturada, embora a colecção anterior caminhasse para isso. A ideia era criar estruturas novas, na mesma tendo a minha identidade. Mas, sou claramente mais marcante na parte dos padrões e do tecido em si do que nas formas. Aliás, o que acabo por vender são essas estruturas mais simples, porque como o padrão é forte, não se deve ostentar demasiado na forma.
Quem é a mulher que usa Susana Bettencourt?
SB: É uma mulher sem preconceitos, destemida e que quer marcar presença, daí que
as peças são tão fortes. Acho que essa mulher existe mais um bocadinho dentro de cada uma de nós. A minha grande aposta são os novos latinos, a América do Sul e a África e com a Ásia aprendi, ao longo das colecções, que se identificam cada vez mais com as minhas malhas.