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Jóias de escamas

Escrito por 

 

Isabel Silva Melo é licenciada em Escultura pela escola superior de belas artes do Porto, uma formação que em muito contribui para as suas peças de bijutaria de autor feitas de escama de peixe, que modernizam uma tradição secular açoriana.

Primeiro queria abordar esta técnica ancestral das escamas de Peixes nos Açores.
Isabel Silva Melo: Sim, que eu tenha conhecimento é uma técnica utilizada desde o século XVIII, na altura os pescadores tinham embarcações muito pequenas e quando não iam com muita frequência ao mar esta era forma que as esposas tinham de ajudar na economia familiar, durante o inverno. Habitualmente trabalhava-se sempre em branco, faziam-se pequenos palmitos para ornamentar as imagens religiosas, era uma arte destinada unicamente ao contexto religioso, em comunhões e baptizados para ornamentar também as crianças. A escama do peixe era trabalhado com um canutilho, que era um fio prateado ou dourado, ainda utilizo esta técnica como no contexto religioso, mas uso a cor evidentemente. Para usar esta técnica em termos de bijutaria retiro o cantilho e aproveito a própria configuração da escama que é linda, é quase como fosse um apontamento de uma pétala e depois “brinco” com este material.

É qualquer tipo de escama de peixe que se pode utilizar?
ISM: Não, habitualmente nos Açores trabalha-se com vários peixes, mas eu gosto mais da veja, porque tem uma escama grande e tem um desenho de uma pétala, neste caso em concreto a fêmea é vermelha e mais chamativa, ao contrário do que acontece na natureza onde os machos são mais exuberantes, aqui são cinza-acastanhado e não tem piada nenhuma. Também gosto do bodião porque tem uma escama longa, que dá a sensação de folhas pequenas, existe ainda a tainha que cá se trabalha imenso, mas eu não gosto muito.

Quais são os desafios que enfrenta utilizando esta técnica ancestral para a confecção de brincos, alfinetes e outras peças de bijutaria?
ISM: Eu tive uma formação promovida pelo centro de artesanato e pelo museu, era um workshop de escamas de peixe onde aprendi a trabalhar a forma tradicional com o canutilho, mas depois cheguei a casa começei a “brincar” com o material e tive a sorte de gostar muito da escama do ponto de vista plástico, elástico, de flexibilidade e começei a trabalhá-lo à minha maneira. Eu tenho tenho de vergonha de dizer, mas é fácil, eu dobro, redrobo e faço o que quero, vou inventando e as peças vão saindo.

Qual é a peça que as mulheres gostam mais?
ISM: Talvez os brincos inspirados nas bungavílias, tudo aconteceu num dia que estava a chover imenso, eu tenho uma planta enorme em frente de casa e depois decidi transpor isso para a escama. O primeiro que fiz tinha quatro pétalas, depois apanhei uma flor e vi que tinham apenas três e agora os brincos são executados com esse número de escamas.

E qual é a peça mais emblemática que produz? Que diga logo que é Isabel Silva Melo?
ISM: Eu não sei dizer.

Ou o que distingue o seu trabalho de uma outra designer de jóias que use escamas de peixes?
ISM: Não sei explicar, isso vai ter de perguntar as minhas clientes.
(risos). Eu estou sempre a variar as peças, não as faço da mesma forma como no início, foi cerca há ano e meio que dei início ao projecto, gosto de introduzir outros materiais, desde o acrílico, a renda, o bordado, vidro murano, gosto de ir misturando e conjugando materiais inusitados que não fariam parte deste contexto. Tenho agora um artesão da ilha da Santa Maria que me vai trazer pedras polidas e quero ver como isso funciona. Adoro “brincar”, faço a conjugação das cores consoante a época do ano, tenho agora uma colecção de inverno, para além da de verão.

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