Este trabalho teve muito de si e de uma memória do Bernando Sassetti.
ML: Absolutamente. Fiz o disco basicamente de autor, depois da morte do Bernardo e como foi um músico com quem partilhei não só o palco, como muitos outros projectos, gravámos discos juntos, divertíamos juntos e eu sinto-lhe muito a falta. E ele é talvez a primeira pessoa do meu universo que perdi e não estava à espera, por isso, queria dedicar-lhe o disco.
Porquê terra seca?Musicalmente é mais seco?
ML: Não, eu queria que fosse uma metáfora. Eu imaginei uma terra seca, uma área onde há pouca gente, é pouco habitada e para ser poder viver nela é preciso qualquer coisa para que essa terra se torne fértil e achei bonita a ideia de um universo musical que não era muito habitado. Eu não gosto de dizer que fiz algo que nunca ninguém fez, porque isso nunca é bem assim, alguém fez sempre algo parecido, achei é que havia pouca coisa e pouco explorada e utilizei-a.
Há pouco falavámos de como é reconhecido pelo seu trabalho com a Maria João e disse-me que vão voltar a ser uma dupla.
ML: Nós nunca deixámos de o ser, o que temos feito é mais projectos para além do que fazemos juntos. Vamos para a África Austral, a Namíbia, Zimbawe, Botswana e África do Sul e para o Brasil em Maio. Agora, ela tem outras coisas, como eu também tenho. E portanto, a conta disso as pessoas pensam que deixámos de tocar juntos, mas não.
Depois dessa tournée pretendem gravar um novo trabalho discográfico?
ML: Fizemos um álbum há um ano e meio, ainda não fez dois. Acho que nesta epóca e tendo feito 14 discos juntos, o ritmo não pode ser igual. Fazíamos um disco por ano e acho que agora não pode ser igual, mas vamos fazer mais.
Tem participado em muitos projectos musicais, entre eles alguns com músicos com menos experiência, muito jovens até. Gosta de apostar nesses riscos?
ML: Eu atrai-me arriscar em coisas diferentes e que nunca experimentei. Gosto de muita coisa em termos musicais, o clássico, o jazz, pop e rock e claro que não posso fazer tudo, mas de vez em quando se acho que posso aproximar-me de outras áreas e são experiências enriquecedoras, isso atrai-me e vou fazendo. Há um terceiro lado na sua pergunta, o que me atrai não é tocar com nomes sonantes, eu gosto de tocar com músicos que respeito e podem ser conhecidos ou completos desconhecidos, se gosto deles e acho que são óptimos músicos tenho que ir.
E o projecto com o André Fernandes?
ML: O André é um músico incrível e que tem o que acho muito importante num músico, há alguns assim mas não muitos, a música dele tem uma cara, uma identidade, que é ele. Se ouvir um dos seus temas no carro, sem saber que é dele, tenho a certeza que o reconheço. Ele convidou-me para este projecto e eu aceitei logo, não há dúvida nenhuma e estou muito contente.
Olhando para atrás nesta carreira que já é longa e bem sucedida ainda existe algo que gostaria fazer e nunca fez?
ML: Eu espero que muitas (risos).Eu nunca olhei para o futuro de uma forma fechada, criando metas que sejam estanques. No sentido em que a partir do momento em que as faça fica resolvido, não, uma das coisas que acho encantadoras na música e na arte é a diversidade, esse lado da vida de ser estar vivo, de se ir experimentado. Há muitas coisas que ainda não sei que vou fazer, mas também o não saber é fascinante, porque o mundo esta em constante movimento, as pessoas aparecem, a música também muda e sempre que algo me fascina, aparece logo a ideia de experimentar.