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Ilhéstico 3

Written by  yvette vieira fts yvette vieira, porta33

 

No último dia, a arte surge sob diversas formas, menos evidentes, mais estridentes, mais irreverentes ou interventivas, mas que deixam o seu rasto indelével pela cidade.

Na rua Conde Carvalhal, 6, na esquina existe um prédio com um café e se olharmos para cima para a varanda vemos o trabalho de Dayana Lucas, que ao abordar o seu projeto refere “quando aceitei o desafio de Miguel von Haffe Pérez não tinha a noção dos ananases de cerâmica que estão nas esquinas e até já tinha passado diversas vezes por aqui, mas nunca tinha reparado, na altura até pensei que se tratavam de plantas a morrer, com o pano ficam mais percetíveis. No fundo, este elemento acabou por ser bastante importante e embora tenha sido rápido, o desenho veio da ausência das folhas dos ananases, desenhei linhas muito abstratas e se calhar ninguém vai fazer essa ligação em relação a estes elementos de cerâmica, mas o meu trabalho tem como principio percecionar o gesto, a intenção e esta forma acaba por ser muito clara. A tinha usada é sangue de dragoeiro e também pensei trabalhar com a folha da bananeira, mas a questão do dragoeiro foi mais clara por causa da cor do prédio. Fazer isto foi um exercício muito forte, só estender e esticar o pano foi uma missão brutal, os desenhos, por outro lado, foram algo muito rápido comparativamente”.

 

Na rua Major Reis Gomes, 24, esta o café Estoril, que mantém no seu interior o estilo das velhas e quase desaparecidas “vendas” regionais que vendiam tudo um pouco e serviam bebidas, neste ambiente parado no tempo, Pedro Ramos, explica que “ estas peças vem prontas do atelier, eu sempre trabalhei e estudei, estive na construção civil e muitas das casas em trabalhei para recuperar ficavam todas na Graça, em Lisboa e ao deitar abaixo as paredes descobríamos paredes mais antigas, nas edificadas mais recentemente, com outras cores, texturas e materiais como pedaços de vasos, de azulejos e todas essas coisas começaram a puxar por mim e o meu trabalho reflete isso, faço uma recriação de algo que já tem uma idade, mas faço-o sempre dentro do atelier”.

 

“Os materiais são gesso e pigmentos que vou misturando e compondo, não há desperdício e mesmo as peças que se partem são usadas para outros trabalhos, se reparar estes bocados foram usados numa outra peça. Na construção de casas é isso que acontece. construía-se com o que havia e enfiava-se esse entulho nas paredes, isso nota-se na Graça, dentro do estúdio eu faço quase um trabalho antropológico das próprias peças, não vou recolher as coisas na rua, o que tento é criar uma imagem natural no meu atelier, que não é atual, que é uma mistura, as peças vão-se aglomerando e não me importo, pego nelas e faço uma nova peça e vou registando uma certa vivencia das cores, porque elas fazem parte dos nossos prédios, das paredes das nossas ruas que podem até ser lisas, ou com material a cair, ou com tijolo à vista e passamos por elas todos os dias e não reparámos e eu vou recriando essa imagem nas peças”.

 

Na rua nova de São Pedro, 56 deparámo-nos com o atelier de Patrícia Pinto, que descreve o seu trabalho para Ilhéstico, “No meu ramo de ação gosto de estar aqui na minha grutinha e isto implica uma exposição diferente de algumas partes de mim que não são tão públicas e outras que posso mostrar e com prazer, quando li o esboço deste projeto disse logo que sim à Porta 33, por todo o trabalho que tem desenvolvido e o que tem trazido para à Madeira, e como acreditei, quando decidi participar pensei nessa parte de mim que não é tão visível, por norma, as pessoas veem as peças prontas e eu quis mostrar o mundo interior ao exterior e quis exibir todo este processo desde à ilustração até a dimensionalidade da peça.

 

Por brincadeira e quem trabalha comigo sabe, eu dou nome as peças de roupa e achei que isso era importante, abordar essa questão como se a peça tivesse vida própria e fosse uma personagem, daí que achei que a montra era o sítio ideal. Criei esta peça que é a Joaquina, porque gosto do nome, acho que é uma mulher irreverente e com a qual me identifico. No fundo é um heterónimo como a Laurinda, a Ester e a Antonieta que são parte de mim e que se revelam quando vou trabalhando as peças e acho que é esta a historia da Joaquina e todas as que estão nuas que podem ganhar vida a qualquer momento. Esta é a minha forma de expressão mais intima e profunda, que me preenche pessoalmente e foi isto que quis partilhar com o “Ilhéstico””.

No Jardim Municipal do Funchal, nas casas de banhos públicas, Sonja Camara, fala sobre a sua intervenção sonora, o propósito da peça “queria que o som estivesse mais alto, mais audível queria que ouvissem o som da água a correr e das gotas a cair e queria que fosse incomodo essa água sempre a correr, acabou por tornar-se mais suave e é em stereosound. É a primeira vez que fiz uma peça sonora, faço música, tenho uma editora e trabalho como dj, mas aceitei este desafio e o processo de criação foi fácil a partir do momento em que o decidi fazer”.

 

 

Na Avenida da Arriaga, no átrio do Teatro Baltazar Dias, surge o trabalho de Rodrigo B. Camacho e Sara Rodrigues, que fizeram à sua intervenção na ribeira de João Gomes, que começa com a recolha de vida biológica e água no leito e no jardim do Museu da Quinta das Cruzes onde houve uma performance de quatro horas, esta peça de vídeo, segundo Maurício Reis, “é sobre a nossa relação não tão pacifica com as nossas ribeiras, elas são determinantes na questão da nossa identidade e muitas vezes muitos surgem problemas entre a atividade humana e força da natureza. Para esta intervenção requisitamos uma licença para trabalhar dentro das ribeiras e não conseguimos, eles entraram na mesma e este é o resultado, a música é da sua autoria”.

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