A Look at the Portuguese World

 

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Yvette Vieira

Yvette Vieira

Monday, 30 September 2019 11:40

Rui david em contraluz

Rui David edita “Contraluz” e divulga single "Sol da Primavera" em dueto com Manel Cruz e apresenta o novo álbum dia 12 de Outubro, no Auditório Fernando Paredes, às 21.30 horas com a participação especial de Jorge Palma.

O músico e compositor portuense edita hoje o seu álbum de estreia, “Contraluz”. Um disco entre o intérprete que Rui David sempre foi e o autor que vem sendo. Daí a contraluz, porque há alguma coisa que se revela e outra que se esconde.
Meses depois de ter dado a conhecer o trabalho que estava a desenvolver em estúdio com a sua super-banda, num concerto com lotação esgotada na Casa da Música, chegou o momento de conhecer o tão desejado disco. A concretização de um sonho antigo que regista tudo o que o músico aprendeu ao longo destes anos que tem dedicado à música.
Composto por 11 canções reveladoras da sua história, ora nas suas palavras e composições, ora nas palavras e melodias de outros como Jorge Palma, Manel Cruz, Carlos Tê, Miguel Araújo e Tiago Torres da Silva, “Contraluz” é a confirmação de que chegou o momento de Rui David. Depois de um longo percurso dedicado às canções, à composição e à interpretação, o músico apresenta-se, finalmente, em disco e em nome próprio.
Mas não está sozinho. Com ele, em estúdio, esteve uma banda de luxo composta por Peixe dos “Ornatos Violeta” na guitarra eléctrica, guitarra acústica, ukelele, teclados e glockenspiel, Ruca Lacerda que integra os “Supernada” na bateria, percussão, caixa, guitarra acústica, guitarra eléctrica, charango, bouzouki, ukelele, teclados e glockenspiel, Eduardo Silva da banda “Foge Foge Bandido” no contrabaixo, baixo eléctrico e voz e Francisco Fonseca também dos “Supernada” na bateria e percussão que, juntos, asseguram uma unidade conceptual assente numa linguagem contemporânea e simultaneamente simples. À banda, juntou-se ainda Nuno Prata e a sua guitarra acústica, Marcos Cavaleiro com os bombos tradicionais, Daniel Dias no trombone, Ianina Khmelik no violino, Luís Norberto Silva na viola, Nikolai no violoncelo, e ainda a Banda Bingre Canelense nos coros.
Com direção musical de Peixe, “Contraluz” foi gravado, produzido e misturado no Largo Recording Studio por Ruca Lacerda e Peixe, e masterizado por Nuno Mendes no El Estudio.

Depois de “Sem Medo”, tema da autoria de Jorge Palma com que Rui David se destacou no Festival da Canção 2018, e do single “Homem Novo”, com letra e música de Carlos Tê, segue-se “Sol da Primavera”, composto e interpretado em dueto por Manel Cruz. Este é o single que acompanha a edição de “Contraluz”.

Monday, 30 September 2019 11:36

5ª edição porto tech hub

A 5ª edição da conferência anual da associação que reúne algumas das mais conceituadas empresas na área das TI decorre no dia 11 de outubro, na Alfândega do Porto.

Cerca de 1.000 participantes são esperados para mais uma edição do evento que promove a discussão e partilha de conhecimentos em torno da área da Tecnologia, este ano sob o tema “Art, Culture and Tecnologies”. São 23 as empresas que constituem a Porto Tech Hub (PTH), uma associação sem fins lucrativos voltada para a promoção e capacitação tecnológica na cidade do Porto, que trabalham em conjunto para a organização desta grande conferência anual. Com a intenção de proporcionar networking, partilha de conhecimentos e experiências profissionais e pessoais em torno do universo tecnológico, a conferência da PTH é já referência em matéria de eventos institucionais, contando com cinco edições de sucesso e largas centenas de participantes.

Para esta edição, o tema explora dimensões múltiplas que vão desde a intervenção da tecnologia nas práticas artísticas à própria Cultura das organizações, com nomes ainda por desvendar mas que prometem, à semelhança dos anos anteriores, deixar rendida a audiência. As inscrições para a conferência já se encontram disponíveis a preço reduzido. Paralelamente, decorrem também as candidaturas ao programa SWitCH, dinamizado por esta associação em parceria com o Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP). Esta formação tem por objetivo o combate ao desemprego, através da requalificação de licenciados e da sua rápida inserção num mercado com carência de profissionais qualificados, com excelentes perspetivas de uma carreira profissional, como é o caso das TI, em particular em empresas ligadas ao desenvolvimento de software.

Monday, 02 September 2019 17:06

Mar em volta

“Aqui onde o mar aconchega o céu
E o céu espelha a alma no mar,
Onde reina um coração verde de magia e encanto …
Aqui as montanhas ecoam sobre os vales
O palpitar duma respiração suave
Que alimentam as árvores e as flores cujo perfume
Invadem, incessantemente, o brilho do sol…”

A Chiado editora publicou uma antologia de poesia madeirense, num total de 34 poemas sobre a ilha. João Rodrigues foi um dos autores com quem falámos sobre poemas, poetas e a sua inspiração.

Em Julho passado a editora havia lançado um desafio, através das redes sociais, apelando ao lado mais poético dos madeirenses, independentemente de serem autores já publicados ou não, com o objectivo de integrar uma antologia de poesia intitulada, “Mar em volta”. Os potenciais autores foram desafiados a enviar um texto inspirado na ilha da Madeira. Um dos escritores selecionados foi João Rodrigues que, decidiu participar “graças a um convite de uma amiga que viu o link e mo enviou, como achei interessante decidi participar com um poema. Sentei-me, inspirei-me, escrevi o texto e enviei”. Questionado sobre o que escreve em termos de poesia, o autor, respondeu que “escrevo de tudo um pouco, inclusive sobre o ambiente, o mar, os sentimentos e o amor. Neste caso o tema foi a ilha e consegui de uma forma abrangente expressar o que é à Madeira. A forma de escrita não foi, contudo, em quadras, “pode ter rimas, mas não há quadras neste texto, é tudo sequencial. Não quer dizer que não possa escrever poemas sob a forma de versos e que isso me possa inspirar, como já aconteceu. Eu tenho um blog onde publico poesia, tenho algumas frases de cariz popular e inclusive tenho um conto que escrevi há vários anos para um concurso no qual não cheguei a participar, porque o escrevi muito encima da data limite e não o consegui rever a tempo de enviá-lo, por isso esta lá.
Numa antologia sobre a ilha da Madeira dedicado a todos os ilhéus, será que os madeirenses gostam dos seus poetas? Paulo Rodrigues responde, “eu vou ser sincero, eu não estou muito familiarizado com a poesia na Madeira. Posso dizer que não sei quem são os atuais poetas da ilha, ou que tipo de poesia fazem e muito menos conheço as obras mais recentes desses autores. Já vi, por outro lado, poetas madeirenses mais antigos e verifico que alguns dos seus poemas são diferentes do que eu tenho por habito de escrever, por isso, não sei até que ponto a minha escrita pode ser considerada boa e que proporcione uma leitura motivante ao se ler.
E será que podem fugir a ilha? “Sim, nos podemos viajar onde a nossa imaginação nos levar, pode ser na Madeira, como na lua, o impulso de um poeta não é escrever sobre onde se encontra, mas sobre onde a alma e o coração o mandam”

https://sentimentosdumpoeta.blogspot.com/p/pemas.html?m=1

Sunday, 16 June 2019 20:25

O torto arado

Itamar Vieira Júnior escreveu um romance cativante sobre a realidade de uma cidade do interior do Brasil, no Sertão da Baía, na Chapada Diamantina, que fala sobre a vida de duas irmãs que irão mudar o rumo da vida da sua pequena comunidade para sempre. O autor deste maravilhoso livro foi o legitimo vencedor do prémio Leya 2018.

Começaste a escrever este livro com 16 anos e já tinhas a ideia de que seria sobre a vida de duas irmãs e a sua família. O curioso é que a diferença de idades entre elas é de apenas um ano e até parecem gémeas, até os nomes são parecidos e descreves a sua vida desde a pré-adolescência até a vida adulta. Então porque decidiste escrever sobre duas mulheres?
Itamar Vieira Júnior: Poderíamos até falar num romance de formação, porque abrange um período da vida delas desde à infância e vai até a vida adulta. O que me fez escolher esta história entre irmãs, talvez porque tenho três irmãos e somos quase todos da mesma idade e a diferença de mim para o que irmão que vêm depois é de um ano e acho que é a mesma coisa entre a Belonísia e a Bibiana. Para mim foi muito natural falar sobre irmãos e dessa relação que é conflituosa e ao mesmo tempo solidária e acho que daí veio a ideia das irmãs. Falar sobre o cenário rural, aos dezasseis mesmo não tendo contacto direto com essa realidade, veio do meu interesse pela literatura. Quando terminei o secundário, eu já havia lido romances regionalistas de Guimarães Rosa, Jorge Amado e José Lins do Rego e Raquel de Queiroz e eu estava muito influenciado pela diversidade da paisagem, os conflitos narrados e isso era um Brasil que eu conheci apenas através da literatura. Eu comecei a escrever esse livro, cheguei até as oitenta páginas e depois abandonei, eu não tinha a maturidade suficiente, foi um impulso, um instinto que me fez escrever, o que foi bom porque as página, entretanto, se perderam e eu reescrevi o livro mais tarde e aí já tinha uma passagem pelo campo do Brasil e conhecia muito essa realidade e assim pude falar com detalhes e propriedade no livro sobre esse tema.

E quando começaste a visitar o Brasil interior, foi aí que encontraste a localidade específica deste livro, onde toda a narrativa acontece e isso te levou a reescrita?
IVJ: Sim, eu fiz um doutoramento em estudos étnicos e africanos com enfase na antropologia e fiz um exercício etnográfico nessa minha tese e trabalhei numa comunidade do Sertão da Baía, a Chapada de Diamantina, eu passei de dois a três anos nessa comunidade em contacto com as histórias, com pessoas do Jarê, com a paisagem que é um lugar belíssimo cheio de referências, que ao mesmo tempo sofre com a seca e onde existe um pântano muito húmido que aparece muitas vezes no livro. Aquilo era o cenário perfeito, era o lugar em que eu queria reviver aquela história do passado, que comecei aos dezasseis anos, e recomecei a contar a história dessas duas irmãs e a partir dessa perspetiva da servidão de uma vida privada de direitos que é a realidade dessa população.

E foi também daí que decidiste que uma das personagens seria muda. Isso também é uma metáfora para o facto dessa população não ter uma voz.
IVJ: Exatamente. Eu penso num país diverso como o Brasil que tem muitas etnias e como bom seria nas instâncias de poder, no parlamento, que houve representação de todos esses elementos da sociedade e as pessoas pudessem propor e legislar para diminuir essas diferenças sociais. Para mim escrever sobre esta história era fundamental, havia uma lacuna grande na nossa literatura sobre estes temas que não fossem apenas urbanos, principalmente como nos últimos anos, que não fosse um livro sobre a classe média branca do país e queria retratasse os problemas muitos específicos desta zona. A literatura de um país é o retrato de uma cultura e deve ser abrangente, deve estar aberta, deve incluir o máximo de seguimentos e contar a história do país.

Existe um estudo que pinta a imagem muito má da mulher negra na literatura brasileira, ou ela é prostituta, criada ou escrava, apesar dos direitos de as mulheres estarem consagrados nas leis, ainda existe esse estigma. Foi por esse motivo, porque escolheste que as tuas porta-vozes fossem mulheres negras? Com personalidades tão fortes?
IVJ: Eu tenho uma família em que as mulheres têm grande protagonismo, eu acho que os homens sempre foram sombras pálidas delas, elas é são as protagonistas, o que é um paradoxo, já que, a gente sabe que numa sociedade machista como na América do Sul, no caso Brasil é assim, mas o que é interessante é perceber, porquê isso ocorre? Porque as mulheres fora de casa não têm voz, mas dentro de portas elas reinam. Elas dominam tudo e eu sempre tive essa imagem forte das mulheres da minha vida e encontrei essa realidade no sertão brasileiro, no sertão nordestino, em que as mulheres assumem esse protagonismo, porque como os homens não tem recursos para trabalhar e as vezes morrem jovens, elas acabam por assumir esse papel principal na comunidades, elas se tornam lideres politicas como a Bibiana e a Belonísia e eu tive esse cuidado de não estereotipar também esses personagens negros. Embora, se trate de uma comunidade rural que podíamos chamar de comunidade quilombola, que na Venezuela, Panamá em Cuba temos os chimarrões e na Colômbia, os palanqueiros essa ocorrência é comum em toda à América Latina. A Bibiana é filha de um agricultor com uma vida muito regrada e carente de tudo, mas ela sai, ela estuda, se forma como professora e volta para a comunidade e tem outra visão política, porque esteve em contacto com outros grupos de onde ela vivia. Ela traz essa bagagem política com o Severo, o marido, porque eu entendo uma mulher negra quando diz que as personagens que surgem nesses romances, no cinema, ou no teatro são esses estereótipos e estamos focados nisso. Tudo isso é um reflexo da sociedade brasileira, existe uma mudança, mas é recente. A gente já encontra na universidade mulheres negras e em lideranças políticas, como a Maria de Franco que foi assassinada. O que vejo com mais gravidade, na literatura, em determinados contextos é que elas não assumam esse protagonismo, então o interessante é dar-lhe esse foco, podemos até falar das dificuldades da diversidade, ela pode ser até uma empregada doméstica, porque não falar sobre uma? O que é que existe de demérito nessa profissão? A questão é que ela se tornou numa emprega doméstica pelas circunstâncias sociais e porque não problematizar isso? Trazer isso ao público? Eu acho que podemos fazer isso mais vezes. Eu li um romance, o ano passado, que não foi lançado ainda aqui chamado “ Armas sonolentas” da escritora brasileira Carola Saavedra e ela traz três protagonistas mulheres e uma delas é uma mulher indígena que é emprega doméstica e não tem nome e o que é interessante é que ela pode ser qualquer uma daquelas mulheres que saíram jovens, do campo brasileiro, para as cidades para servir as pessoas mais abastadas e ela nos faz sentir compaixão por essa mulher e nos faz colocar no lugar dessa personagem. Isso é o que a literatura tem, esse papel em que a gente faz um acordo tácito quando escreve, ou lê um livro nós assumimos a vida dessas personagens, pelo tempo em que estamos envolvidos com essa obra, a gente se coloca na pele deles e sente o que eles sentem. É uma empatia enorme, eu tenho a certeza se o “Torto Arado” lhe tocou, você nunca mais vai olhar para mulher camponesa do Brasil, de uma realidade muito diferente, sem interesse, porque a vida dela é muito rica e essa riqueza surge do trabalho que ela faz.

Disseste que escreveste um livro para os brasileiros, porquê?

IVJ: Porque é uma realidade que muitos brasileiros ainda desconhecem. Embora, tenha uma apelo universal, porque esse problema pode ser transportado para várias populações ao redor do mundo, dos refugiados, dos emigrantes, os brasileiros desconhecem ou fingem que não sabem da realidade que existe de servidão no campo, das pessoas que ainda vivem cativas de certa forma e eu escrevi esse livro vindo de uma pesquisa que fiz na universidade nessa linha e a pesquisa não tem o alcance como uma obra literária, ou artística e que o teatro pode ter, eu acho que tem um alcance muito mais abrangente. Não adiantava fazer a ciência escrevendo um artigo, ou uma tese, eu queria escrever um trabalho que tivesse esse alcance capaz de atingir pessoas de outras profissões, de outras origens e contar essa realidade para a sociedade brasileira.

Mas, abordas a questão dos sem terra, esta família esta no cerne dessa questão, embora não sejam escravos, são escravizados porque trabalham uma terra que não lhes pertence, nem sequer podem criar raízes, não podem construir casa e até as colheitas são escolhidas pelos proprietários dos terrenos. Isso é também porque a sociedade finge que o movimento não existiu?
IVJ: Eu acho que eles fecham os olhos, porque nunca se resolveu essa questão. A gente tem exemplos como o México, a França e até aqui na região do Alentejo em que houve uma reforma agrária após a queda do Salazarismo. O Brasil nunca teve uma reforma agrária e esses problemas sociais permanecem. O que se fez é uma lei de terra em 1850 e deu acesso a quem tinha dinheiro para pagar por ela e uma massa de trabalhadores escravizados, de indígenas de comunidades nativas e de outros pequenos agricultores não tiveram acesso a nada disso e continuam até hoje a trabalhar como bolsero, ou em regime de servidão e ao longo das épocas essa população é brutalizada e eles vivem conflitos intensos. Só em 2017, que são os dados mais recentes de organizações não governamentais no Brasil que ajudam essas pessoas sem terra, contabilizaram 71 mortes de trabalhadores do campo por conflitos relacionados com as terras. Então, eu ouvi que algumas pessoas do meu convívio por questão de trabalho, haviam sido assassinadas por questão de terra, é uma guerra brutal e sei que não é uma realidade apenas do Brasil, em algumas países da América Latina a gente encontra essa questão e eu precisava falar sobre isso, porque apesar desses dados gritarem nos nossos ouvidos, as pessoas parecem fechados a essa realidade? Precisámos resolver esse problema do acesso à terra, é uma questão de dignidade humana, não estamos a falar de um bem, mas sim de um lugar onde a pessoa possa construir a sua casa, onde possa viver, sem medo de ser expulsa por alguém com arma, ou título, é preciso dar oportunidade de trabalho e dignidade a todas essas pessoas.

A maior parte dos teus personagens não tem nomes, tem os apelidos que as pessoas lhe dão, porque decidiste fazer isso? É pelo facto de na sua maioria serem analfabetos, ou por serem descendentes de antigos escravos?
IVJ: Eu quis ser fidedigno a realidade dessas pessoas, o sobrenome está relacionado com os que tem o poder, os apoderados e aí surgem alguns sobrenomes, a família Peixoto, que são os donos. Nas pessoas mais humildes, o sobrenome não importa, nem para eles, nem para olha para eles, o mais comum é que os conheça pelos apelidos e era forma de que aqueles nomes tão comuns como a Bibiana e Ana, a Salustiana encontrassem representantes no imaginário das pessoas, que elas pudessem ler aquele prenome e dizer, eu imagino a Salu conheci uma assim no campo, era uma forma de dar um movimento mais abrangente a esses personagens.

Um dos aspetos que gostei do livro foi o teres abordado o lado mágico, do mundo dos espíritos misturado com a religião, que advém da imposição do cristianismo sobre estes rituais pagãos, que são os encantados. Essa realidade ainda é muito patente no interior do Brasil?
IVJ: Eu lembro do Gabriel Garcia Marques falando da sua literatura e os críticos literário falavam de realismo mágico e ele dizia que não tem nada de mágico é só realismo. Quem conhece a realidade da América Latina sabe que é possível que se fale de uma pessoa que morreu, que volta a vida e que conviva e são dois mundos diferentes. Para nós que vivemos em cidades, em sociedades diferentes, a viver nessa cultura ocidental meio hegemónica e cientifica a gente costuma relegar essas manifestações para um espectro mágico, para além do real, mas esse real para algumas pessoas pode englobar tudo isso, falar sobre isso foi muito natural, não que viva isso, o eu fiz foi tentar aprofundar e pesquisar essa religiosidade de uma forma crível e fidedigna e apresentar essa cosmo visão, que é uma visão muito própria deles que engloba esses elementos da natureza e da espiritualidade e do que esta além da vida, isso é muito real para eles, é uma coisa que continua acontecendo.

Também referiste que é algo específico a esta região.
IVJ: Sim, que é o Jarê que é uma crença que acontece nessa região que é a Chapada de Diamantina, que é uma coisa que eu também não conhecia, mas que é secular e que já existe desde a ocupação dessa área. No Brasil você também encontra religiões Xamânicas e eu moro em Salvador uma cidade com grande número de descendentes de África e as religiões de matrizes africanas são muito comuns, em Salvador tem mais terreiros de candomblé do que igrejas, embora haja muitas igrejas porque foi capital da colónia e foi fundada pelos portugueses que levaram à religião católica até o Brasil, mas essa convivência nunca foi pacífica. A liberdade de credo e de religião ela surge na segunda metade do século XX para cá. Um dado interessante que você talvez não saiba é que um dos projetos de lei da liberdade de crença foi graças ao Jorge Amado, quando ele foi deputado federal na década de 40 e 45. Ele conseguiu aprovar uma lei que trata da liberdade religiosa no Brasil, porque antes essas crenças eram perseguidas pela polícia, eles não se podiam manifestar-se em público, a não ser que fosse da religião cristã, ou protestante, tudo fora disso era reprimido e graças a Jorge Amado que é um grande escritor que todo o mundo conhece e um dos brasileiros mais proeminentes do século XX, embora tenhamos o Paulo Coelho, foi possível a liberdade de crença no Brasil.

Qual foi no processo de reescrita o personagem com quem te debateste mais, nesse processo criativo?
IVJ: Eu que todos os personagens foram difíceis, mas dos que protagonizam o livro eu tive de ter muito cuidado com as irmãs, porque uma fala e a outra não e que não falava precisava de ser comunicada e ao mesmo tempo ela precisa de comunicar. Como ela não pode falar, ela fala através da natureza e do mundo que esta à sua volta e ela vêm incorporando aquilo e tem um momento do livro em que fala dos animais, da natureza e falam por ela. A personagem mais difícil de escrever foi a encantada que esta na última parte do livro.

A Miúda?
IVJ: A Santa Rita Pescadeira que é um espírito que atravessou o tempo, os séculos, ela fala da escravidão que já não esta na memória das pessoas, porque elas foram brutalizadas e em algum momento da vida as pessoas esqueceram, ou não querem falar sobre isso, porque é algo que os envergonha e entristece. A Santa Rita viveu períodos distintos e ela sabe que essa servidão é um processo da escravidão. Ela é um personagem que não tinha uma vida material, até o ritmo e fala não podia ser escrito como algo que fosse muito estranho a narrativa e para o leitor.

O que eu achei curioso desta personagem é que noutros autores brasileiros também referem estes espíritos, eles utilizam uma linguagem e um calão que eu não entendia muito bem, contudo foi mais fácil de deduzir o que a tua personagem queria dizer, porque tivestes esse cuidado, não é? De não te exceder neste tipo de linguagem para que os leitores pudessem entendê-la?
IVJ: Sim, a literatura tem de ter essa linguagem que permita que seja acessível a maioria das pessoas. Por mais particular que seja o retrato que esta passando, você pensa no leitor também. O escritor que escreve um livro pensando em si próprio, isso é uma viagem egoísta, quando a gente escreve esta a faze-lo para um público e a linguagem literária é algo que nos envolve, que é musical e que algo que nos convida a ler e a passar página e que abranja o máximo de pessoas.

Mas, querias voltar à Santa Rita Pescadeira.
IVJ: Foi um desafio escrever sobre esta personagem porque não tem uma vida material grande, ela é o vento, é movimento, ela se transforma em chuva e é muitas coisas. Eu pensei como fazer isso? E fazê-lo de uma forma crível e que no livro se transforma nesse espírito e possa ser alguém muito cativante que as pessoas gostem. Nesta crença e noutras no Brasil, as pessoas que incorporam esse tipo de espírito são chamadas de cavalo, é como se o espírito montasse nela e quem esta vivo não é mais a Miúda que a recebia, é a Santa Rita Pescadeira. Como a Miúda morre, na terceira parte do livro, e a Santa lamenta que ela morreu e que as pessoas que ficaram já não a conhecem, nem falam mais dela, nem sequer sabem quem ela é, ela é a história que esta desaparecendo e então, ela resolve intervir nessa realidade para provocar mudança e passa acompanhar essas irmãs e toda aquela tragédia que se abate em Água Negra. Se reparar tem uma parte do livro que é escrita na segunda pessoa, ela primeiro fala com a Bibiana e depois como Belonísia como se Santa Rita estivesse aqui sentada entre nós e ela vai contar-nos sobre a irmãs. Eu precisava, por isso que ela fosse uma personagem cativante e interessante que fosse crível e foi o desafio eu não fiz isso sozinho, foi graças as muitas histórias que ouvi no campo que me ajudaram a compor essa personagem e que é um lado muito rico da cultura Brasileira e que você vai encontrar também em outros povos, que falam dessas crenças que transcendem a realidade e transitam entre o mágico e a realidade.

Como o pai que também era mais do que um mágico, um curandeiro.
IVJ: Sim, o Zeca Chapéu Grande filho de Donana que tinha um chapéu grande, ela adotou um sombrero que era do marido e aquilo virou um sobrenome.

E porque só dizes a Miúda? Deduzi pela leitura e pelo tipo de letra utilizado que a conotação desta palavra só podia ser diferente no Brasil.
IVJ: A Miúda é um apelido de uma mulher, geralmente pequena, que não crescerem muito e que tem um especto de criança. Aqui em Portugal miúda é associado a criança, lá não é um substantivo usual, geralmente é um apelido. Então a Miúda da história é uma integrante da fazenda, que vive na mesma condição dos outros habitantes e ela aparece antes como a manifestação da Santa Rita e é como se ela pescasse, com os braços ela imita as ondas do mar e ela faz todo esse movimento. Na terceira parte ela já é idosa, morre e ninguém mais lembra da Santa Rita Pescadeira. Ela representa muitas mulheres.

Quando ela apareceu no livro eu pensei até que era uma entidade espiritual e não física até perceber que se tratava de uma pessoa quando referes que ela morre derivado a idade.
IVJ : Eu nunca pensei que isso ia causar confusão em Portugal, mas ainda bem que estão conhecendo outra conotação para esse nome. Mas, quando escrevi o livro eu pensei nas muitas das miúdas que conheci pelo caminho e é um nome muito comum no interior, principalmente no Nordeste.

Tu no final, o dono, o Salomão morre e ficámos sem saber qual das irmãs o matou. E deduzi que deixaste que o leitor fizesse as suas elações quanto à irmã assassina e fizeste isso de propósito como no princípio do livro, em que também não esclareces de imediato qual das irmãs ficou muda.
IVJ: E quem narra essa parte é a Santa Rita Pescadeira, a encantada. Ela começa no último capítulo a dizer que sente muita falta de ocupar o corpo e de se materializar na terra, ela encontra as irmãs nessa aflição e sente a necessidade de agrada-las, de ajuda-las e então ela incorpora em Bibiana e quando esta acorda não sabe porque tem sangue nas mãos, elas estão tão machucadas, tem bolhas e tem até de coloca-las na água fria. E ela entra também na Belonísia e sabe que ela é a força da natureza, que conhece bem a fazenda como ninguém, não tem medo de nada, mas é a Santa Rita que a esta possuindo e é ela que intervêm nessa realidade. É uma forma de ajudar essas mulheres retirando o peso de um crime, embora tivessem todas as justificativas para fazê-lo como forma de vingança, mas é a Santa Rita Pescadeira que conhece essa história ancestral da escravidão e que para libertá-los naquele momento sabe que é preciso fazer algo antes que sejam expulsos daquelas terras. Isso é que é importante que não foi a Bibi, ou a Belo a cometer o crime, mas sim a Santa Rita que usa os corpos daquelas mulheres corajosas para fazer justiça. No fim foi a Santa, mas usou uma das irmãs.

Porquê o título?
IVJ: Eu ainda quando novo quando estava mergulhado na literatura lusófona, como Eça de Queirós, o Júlio Dinis e ficava encantado com os poemas de Tomas António Gonzaga sobre a terra tudo isso se juntou com a minha descoberta literária contido num verso onde tinha o Torto Arado e eu penso nesse instrumento agrícola que atravessou um século, como os personagens o atravessam ao mesmo tempo. O Torto Arado é antigo, distorcido que não faz bem o seu trabalho, não faz sulco bonito na terra são até deformados e isso mostra essa distorção da sociedade, dessas pessoas que tem comportamentos terríveis, que tem de ser modificados e foi um título que se encaixou bem e para mim era perfeito.

Saturday, 01 June 2019 12:08

Bolonha 20 anos depois


Duas décadas depois da assinatura da Declaração de Bolonha, a Universidade de Aveiro (UA) recebe uma conferência nacional de reflexão e debate sobre a implementação e o futuro do processo que transformou o ensino superior europeu. Com a presença de Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, o encontro “Bolonha ,20 anos depois” decorre a 19 de junho, no Auditório da Reitoria da UA.

Apoiado pelo Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) e pelo Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), na conferência estão igualmente confirmadas as presenças de Eduardo Marçal Grilo, signatário da Declaração de Bolonha enquanto Ministro da Educação, Pedro Lourtie, o diretor-geral do Ensino Superior que acompanhou as negociações da declaração, Stephane Lauwick, presidente da European Association of Institutions in Higher Education (EURASHE), João Picoito, antigo vice-Presidente da Nokia, Robert Napier, presidente da European Students Union (ESU) e João Pinto, presidente do International Board da Erasmus Student Network (ESN).

Na perspetiva de Jorge Adelino Costa, Vice-reitor da UA para o Ensino e Formação, “estas datas simbólicas são sempre excelentes pretextos para promovermos a reflexão sobre o passado e a discussão sobre os desafios que o futuro nos impõe”.
Tendo em conta a importância do Processo de Bolonha na transformação do ensino superior europeu, explica Jorge Adelino da Costa, “tomámos a iniciativa de promover este evento e de criar mais uma oportunidade para que o tema seja debatido”.

O responsável recorda que “o facto do professor Eduardo Marçal Grilo, enquanto Ministro da Educação, ter sido o signatário da Declaração por Portugal, foi um argumento adicional para realizarmos este evento, tendo em conta o cargo de Presidente do Conselho Geral que hoje exerce na UA”.

Todas as informações sobre a Conferência em http://www.ua.pt/bolonha20anos

Saturday, 01 June 2019 11:45

Golpada de dea loher

 

A nova produção do Teatro Aberto, em Lisboa, vai estrear a 14 de Junho, Golpada, de Dea Loher, com encenação de João Lourenço.

Considerada uma das vozes mais inventivas e poéticas da nova dramaturgia europeia, como comprovam os muitos prémios que têm distinguido a sua obra, Dea Loher escolhe para as suas peças histórias figuras do quotidiano e confere-lhes uma dimensão filosófica e universal ao apresentá-las na procura de respostas para grandes questões como o sentido da vida, as possibilidades de transformação da sociedade ou a realização dos sonhos individuais. Golpada, estreada em 2015 pelo Deutsches Theater, Berlin, é a mais recente peça do Teatro Aberto.

Maria e Jesus Maria são gémeos. Vêm de um meio desfavorecido, têm trabalhos mal pagos e, desde crianças, um grande sonho: ser ricos, ter muito dinheiro para comprar tudo o que lhes apetece, agora já, não um dia mais tarde. Jovens e destemidos como são, urdem um plano para concretizarem o seu sonho quando de repente, como que por acaso, lhes aparece um certo senhor Milagre com uma proposta irrecusável. Os seus exóticos vizinhos, a vidente Madame Bonafide e o realizador Otto-Porno, avisam-nos dos perigos que correm, mas nada nem ninguém consegue travar a força daquele sonho com uma vida melhor.

Com humor, poesia e um olhar atento a tudo o que é profundamente humano, a conceituada autora alemã Dea Loher (de quem o Teatro Aberto apresentou Imaculados, em 2008) conta em Golpada uma história de contornos policiais que celebra a irreverência da juventude e o poder da fantasia. Com um enredo cheio de momentos surpreendentes e música interpretada ao vivo, o espectáculo apresenta-se como um concerto a várias vozes e um desafio para nunca se deixar de sonhar com a alegria e a liberdade.

VERSÃO
João Lourenço | Vera San Payo de Lemos
DRAMATURGIA
Vera San Payo de Lemos
ENCENAÇÃO E CENÁRIO
João Lourenço
DIRECÇÃO MUSICAL
Renato Júnior
FIGURINOS
Ana Paula Rocha
VÍDEO
Nuno Neves
INTERPRETAÇÃO
Ana Guiomar | Carlos Malvarez | Cristóvão Campos | Rui Melo | Tomás Alves
MÚSICOS
Giordanno Barbieri | Mariana Rosa
SALA VERMELHA, TEATRO ABERTO
De 14 de Junho a 28 de Julho

Wednesday, 29 May 2019 17:29

Photo Ark em vilamoura

Inauguração acontece no Dia Mundial da Criança, o Photo Ark de Joel Satore, em Vilamoura, no Algarve. 

A partir de 1 de junho, Vilamoura prepara-se para receber um evento cultural único, de grande impacto e projeção nacional e internacional: a Photo ARK,  a Nova Arca de Noé, de Joel Sartore, exposição com a chancela da National Geographic.
Numa organização conjunta da Câmara Municipal de Loulé e da Inframoura, esta é uma exposição da National Geographic composta por dezenas de fotografias de animais da autoria do fotógrafo Joel Sartore. Trata-se de um projeto que pretende fotografar todas as 12 mil espécies que existem em cativeiro, para criar um enorme arquivo, capaz de sensibilizar o público para a conservação das espécies animais: uma espécie de Arca de Noé fotográfica. O autor estipulou o prazo de 25 anos (de 2005 a 2010) para levar por diante este projeto. Nos últimos dez anos, Joel Sartore captou mais de 7 mil espécies, sendo que 12 das fotos foram tiradas em Portugal. Depois da sua passagem pelo Porto e Lisboa, com mais de 150 mil visitantes, Vilamoura acolhe agora esta mostra fotográfica num recinto com 400m², num ambiente privilegiado na envolvente da prestigiada Marina.
Para o presidente da Câmara Municipal de Loulé “é um prazer, enquanto autarca mas também como cidadão, acolher no Concelho de Loulé uma iniciativa com o cunho da National Geographic, sobretudo por tratar-se de um projeto de vai ao encontro dos valores que também este Município partilha: a preservação da espécie animal e sustentabilidade do Planeta”.
A exposição poderá ser visitada a partir de 2 de junho até ao dia 30 de setembro na Marina de Vilamoura . ma Av. Cerro da Vila, junto ao Hotel The Lake Resort, entre as 14h30 e as 23h30.

Monday, 20 May 2019 17:35

Animar 14 com regina pessoa

Regina Pessoa estará em Vila do Conde para apresentação do seu mais recente filme e da sua obra em animação na festa de encerramento da ANIMAR 14.

A ANIMAR 14 chega ao fim com um programa para toda a família em que os mais novos são o centro das atenções. A Festa de Encerramento acontece a 25 de maio no Teatro Municipal de Vila do Conde. Nos últimos três meses, a equipa da Solar, a Galeria de Arte Cinemática, promoveu, de forma intensiva, várias atividades dedicadas à formação dos mais novos para o cinema: sessões de cinema, ateliês de cinema, oficinas de pixilação, brinquedos óticos e "stop-motion" e visitas guiadas à exposição patente, entre outras. Do ensino básico ao secundário, mais de quatro mil alunos da região Norte puderam participar neste projeto, quer em contexto escolar, quer fora dele.

Nesta edição, o programa inclui a exibição de curtas-metragens realizadas durante o ANIMAR 14, e a apresentação da retrospetiva integral em animação de Regina Pessoa, com a presença da realizadora, cujo ponto alto será a estreia do seu mais recente filme "Tio Tomás, A Contabilidade Dos Dias".

Até sábado, dia 24 de maio, ainda será possível visitar a exposição ANIMAR 14, patente na Solar e no dia seguinte, será a festa de encerramento no Teatro Municipal de Vila do Conde a partir das 16 horas.

PROGRAMA

16h00- Curtas-Metragens produzidas em ateliês e reportagem sobre todas as atividades;

17h00- Estreia do novo filme de Regina Pessoa,Tio Tomás, A Contabilidade Dos Dias, com a presença da realizadora
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retrospetiva integral da sua obra em cinema de animação

Thursday, 16 May 2019 11:21

Monda apresenta cal

Monda em concerto para apresentar o álbum Cal a 31 de Maio, pelas 21.30, no Capitólio, em Lisboa.

Os ingredientes de que é feita a inspiração que distingue o colectivo Monda, estão presentes em cada um das suas canções. As raízes, sentimentos e emoções que caracterizam a sua música, têm um calor muito próprio. Com uma aproximação clara às novas tendências musicais, a matriz Trad/Folk dos Monda é condimentada pela sua clarificação de sonoridades muito particulares, com arranjos e instrumentos diversos, atravessando muros e fronteiras.

Monda é tudo o que as planícies do Sul nos oferecem. Serenidade, força e distinção. Ao vivo, muito mais que a celebração do Cante, com novas cores e novos contornos, A música desta banda torna-se numa festa genuína, luminosa e emocionante, que canta fundo para o mundo, as raízes dum país inteiro. 

Saturday, 11 May 2019 16:46

Faz-te homem

Uma comédia com João Didelet e António Machado, com estreia no dia 17 de Maio,pelas 21.30, no Coliseu do Porto Ageas.

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