A curta-metragem de Rita M. Pestana, foi selecionada para a competição internacional da 27ª. edição do Internationale Kurzfilmtage Winterthur, entre os dias 9 e 12 de Novembro, na Alemanha, onde fará a sua estreia mundial.
Cássia vive com o seu pai alcoólico e com os seus galos de briga. O seu dia a dia obedece a uma lógica de preocupação e melancolia. Entre conduzir o táxi do pai, pelas ruas de Belo Horizonte, e cuidar do seu galo de briga, Cássia caminha para o limiar entre permanecer nesta rotina ou descobrir o que será a sua vida sem as responsabilidades que lhe foram incumbidas e a fazem perder de si própria. Assim, apesar da dificuldade da despedida e do amor pelo pai, Cássia tentará libertar-se do que seria a permanência numa vida condenada a uma espiral de pesar e carrego.
Realizada por Rita M. Pestana, Rinha (2023, Brasil / Portugal, FIC, 23 min) propõe um confronto, a começar pelo próprio título: uma gíria que designa uma arena de luta de galos, uma atividade ilícita que envolve apostas, adrenalina e que é o próprio campo de batalha. Mas a guerra deste filme é muito mais sentida do que vista, como bem sabe a protagonista Cássia, de 34 anos. O galo que ela ajuda a cuidar e as lutas às quais ela comparece e aposta são nada mais do que uma fuga de si mesma e da sua luta interior.
Neste filme, assistimos a um recorte da vida desta jovem mulher, que vive com seu pai alcoólico de 70 anos. Cássia assume a profissão do pai como taxista, uma vez que ele já não é mais capaz de o fazer devido ao seu vício. A atmosfera de caos e ruptura do filme é feita da soma de pequenos gestos isolados ao longo de um dia. Fragmentos que funcionam como sintomas. Cássia move-se numa espécie de "zona cinzenta", uma zona de indefinição perpétua, em que ela se vê constantemente em ambientes maioritariamente masculinos e onde a razão nada mais é do que a ondulação dos seus próprios sentimentos e, a identidade do seu eu, nada mais é que a diferença entre as máscaras que carrega consigo.
Produzida por Pedro Fernandes Duartes (PRIMEIRA IDADE) e André Hallak (TREM CHIC), esta curta-metragem desenvolve um imaginário poético que advém sobretudo do trabalho de captação da luz natural e de uma direção de arte que se pretende realista. A câmara está nos pormenores, no enquadramento sufocante - daí a escolha do 4:3 - que não se dedica apenas a captar uma vida através da objetiva, mas a procurar símbolos desta vida e a mostrá-los de perto, para que no final nos fique a reverberar: até onde vai o limite entre o cuidar do outro e o cuidarmos de nós próprios?
Para além desta estreia mundial, a curta-metragem 2720, do realizador suíço de origem portuguesa Basil da Cunha, e a Ice Merchants também estão nesta edição do festival, na Competição Suíça III: Zeit des Aufstands e no Best-of European Film Awards, respetivamente.
Rinha | International Competition IV: Into the Abyss
· 9 NOV, 16:00 — Hall Maxx 3: Winterthur (Suíça)
· 11 NOV, 14:00 — Hall Maxx 3: Winterthur (Suíça)
2720 | Swiss Competition III: Zeit des Aufstands
· 10 NOV, 17:30 — Hall Maxx 6: Winterthur (Suíça)
· 11 NOV, 20:00 — Hall Maxx 1: Winterthur (Suíça)
· 12 NOV, 11:00 — Kino Cameo: Winterthur (Suíça)
Ice Merchants | Best-of European Film Awards
· 09 NOV, 17:00 — Kino Cameo: Winterthur (Suíça)
· 10 NOV, 17:00 — Hall Maxx 4: Winterthur (Suíça)
Rita M. Pestana
Rita M. Pestana nasceu em 1987, em Lisboa. Em 2009 formou-se em Cinema pela Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa com especialização em realização e montagem. Começou a trabalhar em 2006, como montadora, com o realizador Luís Alves de Matos (Montanha Fria, 2007), selecionado para vários festivais nacionais e internacionais. Premiada com a bolsa InovArt, em 2011, mudou-se para o Brasil para colaborar com o Coletivo Teia. No Brasil trabalhou como 1a assistente de realização de longas-metragens (entre elas "Os Sonâmbulos, Tiago Mata Machado; "Elon não acredita na Morte", Ricardo Alves Jr.) e montou várias curtas e longas metragens. Destacam-se "Baronesa" (Juliana Antunes, 2017); "Paloma" (Marcelo Gomes, 2022), "Hotel Fortaleza" (Armando Praça, 2021), entre outros.
Voltou, em 2020, para Portugal onde montou a longa metragem "Mulheres do meu País" (Raquel Freire, 2020), "Do Bairro" (Diogo Varela Silva, 2021) "Ouro Negro" (Takashi Sagimoto, a estrear) e foi anotadora de telefilmes para a televisão e da última longa metragem de Luís Filipe Rocha, "O teu rosto será o último". Ganhou prémio de melhor montagem pelo filme "Baronesa" no festival do Rio e de São Luiz do Maranhão.
Em 2018 Rita foi selecionada para a Berlinale Talents, dentro do Editing Studio, tendo como mentoras Susan Korda, Gesa Marten, Molly Malene Stensgaard e Sabine Brose. Durante um ano deu oficinas de Cinema para jovens entre os 12 e os 15 anos, no interior do Rio de Janeiro ao abrigo do programa "Imagens em Movimento". Actualmente encontra-se a montar, em conjunto com Claudia Rita Oliveira, o mais recente filme de Pedro Pinho e a finalizar a sua primeira curta metragem de fição, escrita e realizada por si.
FICHA TÉCNICA
PRODUÇAO: Pedro Fernandes Duartes (Primeira Idade);
André Hallak (TREM CHIC)
DISTRIBUIÇÃO: Agência da Curta-Metragem
REALIZAÇÃO: Rita M. Pestana
SCRIPT: Rita M. Pestana
FOTOGRAFIA: Camila Freitas
MÚSICA: O Grivo
SOM: Vitor Brandão
MONTAGEM: Rita M. Pestana, Tomás Baltazar
ATRIZ PRINCIPAL: Sinara Teles