Depois da fertilização o saco de ovos tem capacidade para quantas aranhas?
AS: De 100 a 200 tarântulas bebes.
A taxa de sobrevivência é muito alta nestas ilhas?
AS: Não, uma das razões advém do facto de terem muitos predadores, como as lagartixas, ou mesmo as outras espécies de aranhas. Por vezes, o próprio meio ambiente tem influência, devido a uma escassez de alimento, basta haver um ano mais seco, ou uma inundação devido à chuva. Só a partir de um certo tamanho deixam de ter predadores e passa a ser ela própria o caçador, ou seja, só conseguem ser mortas pelas da sua própria espécie, ou por espécimens maiores, ou ainda mais jovens. As tarântulas mais velhas são comidas por norma pelas mais novas.
Então em média quantas sobrevivem? As colónias possuem quantas aranhas?
AS: Tem mais de 1000 mil no vale da Castanheira.
É na mesma uma taxa de sucesso muito elevada?
AS: Sim, mas o vale é bastante grande. Mas, pode oscilar no caso da seca de 2002 a população desceu significativamente. Foi um ano muito seco, com muito pouco alimento, a maioria morreu com a secura e elas começaram a caçar-se umas às outras. Como faltou o alimento base recorreram a outras espécies mais pequenas e aí a população baixou. No Vale da Castanheira existem tricets com 15 metros que nos permite fazer as contagens das aranhas todos os anos. Só em 2002 a contagem desceu bastante em relação aos outros anos. Cheguei nesse ano a ver inúmeras tarântulas comidas pelas da sua própria espécie.
Não comem então só as outras espécies de aranhas?
AS: Não, são também canibais.
Também me referiu que existem outras espécies de aranhas no arquipélago.
AS: Sim, é verdade ao todo são 53 espécies identificadas, mas existem mais ainda.
Ninguém imagina numas ilhas algures no Atlântico que haja tanta diversidade.
AS: Sim, é verdade. Só para as Desertas estavam identificadas 10 tipos diferentes de aranhas até princípios de 2010, entretanto, verificou-se que haviam mais, graças ao estudo de dois investigadores, o Pedro Cardoso e o Luís Crespo, ambos biólogos, da Universidade dos Açores. Como conhecia as espécies por identificar, foi com eles aos locais, apanhei alguns exemplares e depois começaram a identifica-las através da genitália da fêmea e do macho e chegámos as 53 espécies diferentes.
Mas, há mais?
AS: Sim, ainda há algumas por identificar.
Então como é que chegaram até aqui?
AS: O que acontece com as aranhas em geral, é que quando eclodem os ovos, elas em pequeninas lançam um fio de seda para o ar, a partir do momento em que vento bate nesse fio da base, e se sente mais leve, ela corta-o e voa, o que lhe permite atravessar um oceano apenas empurrada pelas correntes de ar. A maioria chega até aqui assim. No caso das tarântulas, e de espécies de maior porte, chegam em troncos que flutuam no mar. Verificámos que depois do 20 de Fevereiro, uma aranha chamada "dysdera crocata", que é comum na Madeira e nas Desertas não existia, no final de 2010 notámos a existência dessa espécie na reserva, quando antes não tinham sido nunca avistadas. Julgámos que vieram arrastadas pelo temporal em troncos de árvore que permitiu que chegassem até aqui. E actualmente, esta aranha esta presente nas Desertas.
Então muitas não são endémicas das Desertas.
AS: São endémicas da Madeira e Porto Santo. Outras são comuns na Europa e depois temos as espécies que são exclusivas destas ilhas, que basicamente é a tarântula das desertas e uma aranha mais pequena, que é a "araneae madeiren". Entretanto já ultrapassámos as 10 espécies endémicas que existem só na Deserta Grande. Estão mais ou menos identificadas só falta mesmo colocar o nome.
Em todos esses anos de actividade com aranhas nunca houve um azar?
AS: Claro que sim, acho que já foi mordido por quase todas as aranhas venenosas. (risos)
Então esta imune!
AS: Sim, quando era mais jovem uma vez cheguei a ficar com febre, agora, levo uma picada e não acontece nada. (risos)