Una Mirada al Mundo Portugués

 

                                                                           

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De madeira para el mundo

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A porta 33 desenvolveu um trabalho notável, ao longo dos seus 23 anos de existência, com o objectivo de dar a conhecer os artistas plásticos madeirenses ao mundo e promovendo o intercâmbio dos movimentos culturais de fora para dentro da ilha. Um labor dantesco que culminou com a sua presença na ARCO de Madrid e que apesar de todas vicissitudes ira continuar a fomentar as suas acções culturais na Madeira.

Qual era a realidade artística da ilha quando surgiu a porta 33 e em que circunstâncias aparecem?

Maurício Pestana Reis: Acho que era muito mais descondicional. Ou seja, ainda não tinha entrado esta prática que não é comum de uma escola de artes a formar pessoas em diversos graus. Isto no campo artístico.

Cecília Vieira de Freitas: Já nos anos 50 havia uma escola, o que não havia eram espaços positivos nesse sentido.

MPR: Não havia era tantos alunos como há hoje e tantos graus académicos como actualmente existem na Madeira. As pessoas colocavam-se à margem de uma aprendizagem oficial, universitária. Havia um lado experimental e de conhecimento intrínseco que levava as pessoas a tentarem alargar os seus horizontes por si próprios. Isto era a realidade do grupo da porta 33. Há 23 anos essa preocupação não era pura e simplesmente académica e de formação, era uma necessidade que as pessoas sentiam de experimentar, ver e conhecer um aspecto da realidade que é a cultura, neste caso, as artes plásticas. Por outro lado, não havia galerias comerciais, como surgiram na década seguinte e que até agora se mantém com algumas interrupções, mas já há um hábito do que é uma instituição desse género e do que representa. Não exista o museu de arte contemporânea do Funchal. As posições tomadas com algum mérito eram casuisticamente por uma ou outra pessoa e em espaços díspares. Entre eles, o Teatro Municipal do Funchal que teve alguma importância, o Museu de Arte Sacra até alguns átrios de hotéis madeirenses. Digamos que não havia um fio condutor que pudesse mostrar ao público e debater de matéria assídua o que é essa parte da cultura contemporânea que é dada a ver através de obras plásticas de grandes artistas. Foi essa necessidade de abrir os horizontes, que levou seis pessoas a iniciarem a porta 33. Esses foram os motivos que nos levaram a criar este projecto tendo uma raiz sistemática, de trabalhar próximo aos artistas. Desde que abrimos proporcionámos visitas à Madeira, não só para ajudarem a montar exposições, como também para debaterem e opinarem sobre o seu próprio trabalho. Este convite não foi só extensível aos artistas, como aos teóricos que pensam sobre a obra dos artistas com quem trabalhámos. Pensámos que era uma forma de realmente de tornar mais acessível a um público, que afastado dos grandes centros, devido a nossa condição periférica, as práticas artísticas que não são muitos acessíveis. Nós trazemos essas centralidades a Região Autónoma da Madeira. Esse trabalho foi conseguido, porque trouxe as pessoas até cá, jornalistas da comunicação social nacional e internacional, que retrataram e deram o devido destaque ao trabalho desenvolvido pela porta 33.

Outra faceta do vosso projeto foi levar os artistas madeirenses até a ARCO em Madrid, qual foi a importância deste evento para a porta 33?

MPR: Vamos para o ARCO nove anos depois de ter aberto a porta 33.

Mas, porque 9 anos depois? Porque tinham uma certa maturidade?

MPR: Não, a ARCO é uma feira internacional de arte muito profissional e muito exigente em termos financeiros. É muito cara e muito competitiva. No primeiro ano em que participámos foi o primeiro ano dedicado à Portugal. Todas as edições dedicam um grande espaço, um foco central, a um país.

CVF: Sendo que nesse ano a feira convida as galerias do respectivo país. O comissário selecciona essas instituições e por isso não pagam o stand. Tem algumas despesas, mas o país é convidado pela feira. Aí tivemos possibilidade de estar presentes, porque em anos anteriores, nem nos ocorria porque economicamente era impensável.

MPR: Esse ano foi muito importante. Integrados na delegação portuguesa e posteriormente confirmado pela direção da feira para nos deslocarmos até Madrid. E a partir daí sentimos a necessidade de fazer-nos representar na ARCO. Estivemos em cinco edições entre 1998 até 2005. O nosso stand destacou-se na altura, porque nós pedíamos a um artista para elaborar a concepção desse espaço de raiz e nessas edições em que participámos quatro artistas eram madeirenses. O Rigo, o António Dantas, a Lurdes Castro e o Rui Carvalho. Sendo os não madeirenses, o Pedro Cabrita Reis que é um nome incontornável na arte portuguesa e no cenário internacional. É um artista com um percurso e uma idade que não levanta dúvidas quanto à qualidade do seu trabalho.

CVF: No caso do João Penalva foi um projecto que nasceu aqui. Era um vídeo com uma longa duração. Todo ele foi filmado e pensado cá. Isto em 2001. Depois por motivos de ordem económica deixámos de ir.

Mas, qual é o feedback de um ARCO para a porta 33?Para além do facto de ser uma feira internacional e dar à vossa galeria uma grande visibilidade internacional?

MPR: Nós sentimos que as relações na Madeira mudaram. O nosso trabalho começou a passar melhor. A porta 33 tornou-se uma referência no ARCO. Os jornais da altura dedicavam muito espaço à cultura. Hoje em dia é muito pouco, é residual. Não só nas artes plásticas, como na música e o cinema. A sétima arte ainda é alvo de alguma cobertura mediática, mas não é o cinema propriamente dito, mas sim a indústria dos Óscares, de Hollywood que gera muito dinheiro. O cinema mais artístico e de autor vai aparecendo, mas muito pouco. A cultura é muito maltratada. Sabemos disso e não é novidade. Por outro lado, a experiência em Madrid foi importante por nós ter dado a conhecer a um meio que é mundial. No caso do vídeo do João Penalva, naqueles 3 dias que dura a feira, tivemos os principais directores dos museus de todo o mundo presentes no nosso stand. O vídeo foi praticamente todo vendido aí, para o museu de Luxemburgo, para a Fundação de Serralves e foi ainda, posto a circular nas principais instituições europeias. Foi mostrado inclusive no Japão e em Nova Iorque numa grande galeria. Nessa altura, também havia uma confiança no país e nas instituições. Hoje em dia, a energia é outra, as pessoas na Europa estão a passar por grandes dificuldades.

Quanto estiveram no ARCO sentiram que as pessoas tinham a noção que havia grandes artistas em Portugal?

MPR: Sim.

CVF: Em termos do meio há grandes artistas, não há é país para os defender. Qualquer pessoa em termos mundiais tem a noção que Portugal tem um grupo muito bom de artistas. O que precisámos é o empenhamento do próprio país.

MPR: É também preciso que haja colecionadores. Que haja políticas culturais sérias. No fundo, acontece como o que se verifica em alguns países da América do Sul. Como o Brasil, a Argentina, Cuba, Venezuela e México que estiveram arredados durante anos da cena internacional e agora devido a pujança económica recente e dos seus colecionadores. Hoje esses artistas estão espalhados pelos grandes museus e com validações em termos económicos muito elevados que até esse momento não existiam, eram artistas considerados de terceiro mundo e as pessoas não olhavam para eles. Portugal continua a estar inserido nesse patamar. Um país que não investe na educação e na cultura. Esse é o problema real português. Foi um tema muito debatido e pensado, há soluções em cima da mesa e nada é feito.

Desde 1989 até agora, pouca coisa mudou é isso?

MPR: Eu penso que não. Houve esse pico. Nos anos 90 houve essa confiança, os portugueses pensaram que era desta que saiamos da cepa torta, sentíamos isso nas instituições. A porta 33 quando apareceu não havia ainda o CCB, nem a Fundação Serralves, o museu do Chiado existia mas estava fechado, as pessoas não o podiam visitar. Repare no vazio nessa época em termos de arte contemporânea. E agora repare no panorama dessas mesmas instituições. Cada vez menos exposições, falta de meios, sabemos que, os principais museus do país não tem dinheiro para as despesas básicas. Essa energia é de uma geração perdida, foram dinâmicas que voltaram para atrás, porque as pessoas para estarem presentes nestes sítios tem de estar lá constantemente. Se recua, desaparece. Este mundo é muito competitivo e nesse aspecto Portugal perdeu uma grande aposta e repare que o país apareceu tarde no meio da arte contemporânea, porque Serralves aparece no final do século XX, qualquer país tem o seu espaço de arte contemporânea no fim do século dezanove. Cem anos depois aparece um e no entanto, sabemos das dificuldades que esta instituição tem em se impor e manter aquela energia que nos tinha habituado nestes últimos anos. Este é um retrocesso para os artistas, para Portugal sobretudo. À nossa imagem lá fora actualmente é só futebol.

Outra das componentes do vosso trabalho são as bolsas de estudo. Porque só vinte anos depois?

MPR: Estávamos a fazer vinte anos de existência e pensámos o que vamos fazer para assinalar essa data? Vamos fazer um livro e falar de nós. É um testemunho do que a porta 33. É uma data assinalável em termos de vida pessoal e institucional.

CVF: Foi também o ano em que não tivemos apoios nenhuns.

MPR: Tivemos alguma sorte por podermos beneficiar de estágios profissionais com alguma regularidade o que ajudou muito. Nesse ano tivemos um estagiário que se revelou com potencial. Ele tinha alguma formação académica, era licenciado pela escola de belas artes do Porto, mas tinha algo mais, que é uma grande curiosidade no bom sentido, é uma das características dos artistas, o sentir uma necessidade de descodificar o mundo que os rodeia e uma maturidade para se desenvencilhar sozinho numa escola de artes. A bolsa de estudo decorreu na AR.Co em Lisboa, que não é uma escola oficial, não há mestrados, nem doutoramentos. É um espaço onde os artistas estão a dar aulas e tem intercâmbios com universidades internacionais que reconhecem este estabelecimento de ensino. No nosso país não lhe é reconhecido o valor académico, mas fora sim. Daí as bolsas. A necessidade de sair do meio para um artista é premente e fundamental. Uma pessoa tem que se confrontar com outros meios, com outras formas de pensar e é fora da ilha que estão as pessoas avaliadoras desse percurso artístico e começámos aí. A experiência correu muito bem, no ano seguinte reconfirmámos a bolsa e proporcionámos mais dois semestres e no final ele concorreu aos ateliers da Câmara Municipal de Lisboa.

CVF: A Câmara municipal tinha diversos ateliers que estão ocupados pelos mesmos artistas anos e anos. A edilidade conseguiu libertar doze desses espaços e pôs a concurso dois e o nosso bolseiro ganhou um deles. O que significa que a nossa aposta foi válida.

MPR: O Nuno Henrique continuou a desenvolver as suas capacidades e acabámos por fazer uma exposição aqui no Funchal. Depois apareceu um jovem chamado Roger. A bolsa tem essa condição, a pessoa tem de ter nascido aqui e tem de residir na ilha. A ideia é colocar a pessoa em contacto com uma escola de arte, contactar com outros artistas, ser confrontados com outras realidades. No quarto ano, aconteceu-nos uma surpresa, o Roger necessitava de continuar, mas apareceu o Tiago Mendonça que é também um jovem valor e apesar de não termos dinheiro para duplicar a bolsa, pensámos vamos tentar dá-la aos dois e foi isso que fizemos e estamos a apoia-los a ambos. Agora se me perguntar, se para o ano conseguimos manter esta bolsa, tenho a impressão que não. Vamos morrer por aqui. O panorama é devastador. É desolador em todas as áreas. Até 2004 para além dos apoios regionais, tínhamos um orçamento extra de 50 mil euros, que para nós era muito dinheiro, do antigo Ministério da Cultura. Era essencial. Mas, a partir desse ano, o governo de Sócrates fez aprovar uma lei que impedia pessoas ou instituições fora de Portugal continental de beneficiar de quaisquer apoios desta instituição pública. Ou seja, não podemos concorrer aos fundos do nosso próprio país. Nesse ano, estávamos a trabalhar com artistas de primeira água. Podíamos ter dado o salto. Mas, quem nos tirou o tapete foi o próprio Ministério da Cultura.

CVF: Os apoios fora do continente erámos só nós na Madeira.

MPR: Nós e uma instituição nos Açores. Parece que há cidadãos de segundo e sentimos isso.

http://www.porta33.com/

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