Una Mirada al Mundo Portugués

 

                                                                           

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O artista da marioneta

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Carlos Aveiro possui um longo percurso profissional no mundo das artes, pela animação hoteleira, como formador e como marionetista. Uma das suas muitas facetas, que o levaram a criar um espectáculo de raiz intitulado, fios, que mostra um universo de artistas de variedades em tamanho pequeno para toda a família.

Como é que começa esta a aventura com as marionetas?

Carlos Aveiro: Quando esteva a trabalhar na empresa costa crocieri, na altura era coordenador da animação do navio e claro, o mundo artístico junta-se todo. Um dos que trabalhava a bordo era um marionetista inglês e acabámos por trocar de impressões nos jantares. A minha curiosidade foi tanta que conversámos e convidou-me para assistir a um dos seus ensaios. Foi e de um momento para outro, ele passou-me uma marioneta para as mãos e eu comecei mexe-lo, a manipula-lo e foi aí que tudo começou. Voltei para Portugal e fiz pesquisas na área de marionetas em termos gráficos e de construção.

Então constróis as tuas próprias marionetas?

CA: Muito pouco, ma trabalho muito a ideia com várias pessoas que trabalham exclusivamente para mim. Inclusivamente travei conhecimento com vários marionetistas, construtores americanos, alemães e a minha companheira que é holandesa. Trocámos de impressões, e acabámos por trabalhar essa ideia e ela a vai executando.

Quanto tempo leva para construir um boneco de raiz?

CA: A trabalhar arduamente pode demorar uma semana, outros podem levar cerca de dois meses ou mais, porque à medida que os vamos construindo descobrimos novas potencialidades. É um trabalho moroso, não só pela escolha dos materiais, o ideal é madeira de pau francês por ser mais leve, mais pela componente intrínseca dos mecanismos que é necessário inserir. Alguns pormenores como os pés, as mãos e a cabeça são feitas de pasta de madeira, porque é fácil de moldar, depois vai ao forno que ganha tal consistência que não quebra.

Mas, o que o atrai é o imaginário que envolve? São os fios? É o manipular?

CA: Sempre estive ligado as artes. Foi responsável pela animação em hotéis, em casinos e sempre tive um grande fascínio pela arte de representar e vi na marioneta uma forma de expressão diferente que até 1992 eu não estava habituado. Com esse fascínio, consigo através do meu trabalho cativar não só as crianças, os adolescentes, mas também os adultos. Todo o público, quer seja português, ou francês, ou inglês. O espectáculo esta construído de forma que seja acessível a qualquer ser humano, independentemente da sua origem.

O "fios" porquê agora?

CA: Eu estreie um espectáculo em 1995 que era "a magia das marionetas". Desde então, tenho vindo a construir este que se chama fios. É novo. É uma estreia nacional. Em Portugal temos marionetistas com muito valor, mas não apresentam o seu trabalho como eu o faço. É como se fosse um espectáculo de variedades. Não conta uma história propriamente dita, assim consigo cativar o público mais jovem e o mais adulto e interajo permanentemente com eles. Vamos ter, um esqueleto com luz negra à mistura que se vai decompondo. Aliás, este personagem tem sido a delícia das crianças, no final, se perguntar qual foi a marioneta que mais gostaram, respondem sempre que foi o esqueleto. Acrescentei um stripper, uma galinha e avestruz.

Cria personagens independentes?

CA: Isso mesmo. Vou ter um pianista que ao mesmo tempo acompanha uma cantora de ópera. Um gato que vai tocar harmónica, um monstro muito simpático que vai dar as boas vindas ao público, em vez de um cicerone. Vai fazer umas traquinices, é ele que pede que o público desligue os telemóveis antes do espectáculo. No "fios" haverá uma grande novidade que é, não sou o único a manipular as marionetas, tenho uma pessoa comigo há dez anos, sempre como assistente e vamos fazer essa experiência neste espectáculo, ou seja, dois marionetistas ao mesmo tempo.

Não considera que manipular marionetas limita o seu trabalho como artista?

CA: Não me limita, antes pelo contrário. Repare não é que seja libertador, eu criei este espectáculo de forma que chegue ao maior número possível de pessoas, numa terra de turismo como é a nossa e depois da experiência que tive no estrangeiro. Adequa-se a qualquer tipo de público nesse sentido.

Fios porquê?

CA: A marioneta para ganhar vida precisa de fios. É engraçado porque isto foi crescendo. A própria construção do cenário vai decorrendo ao longo do espectáculo. Ele começa com fios pendurados, só que depois á medida que os bonecos fazem a sua intervenção, vão sendo colocados em suspenso nesses fios. Para que as pessoas estejam concentradas na marioneta que esta actuar, que estou a manipular, enquanto o meu assistente coloca o boneco que acabou de sair de cena, sob uma luz ténue que só vai abrir quando o espectáculo terminar.

Fazendo uma retrospectiva na sua carreira, sei que participou numa telenovela portuguesa, o que lhe trouxe essa experiência?

CA: Todas as experiências de televisão são sempre novas e enriquecedoras. Seja com outros actores, com a realização, ou mesmo com os assistentes de produção. É uma aprendizagem constante. Tudo conta, mesmo a minha experiência no estrangeiro. Essas vivências num determinado tempo na minha vida tem sido fundamentais para aquilo que sou hoje como ser humano, porque tenho uma visão diferente de uma pessoa que nunca as teve. Tem sido muito bom para mim, enquanto artista, actor e como professor na mensagem que passo aos meus alunos.

Então como se leva essa experiência até os formandos?

CA: Eles ficam embevecidos quando conto algumas das histórias. Exemplos concretos. No início, essa aprendizagem foi muito difícil. A partir 1997 perceberam, fruto de um trabalho de intercâmbio com outros países, em que esses formandos perceberam que eu tinha razão. De facto, "somos uns bichinhos do mato". Eu próprio senti necessidade de sair da ilha, para por em prática toda a minha vontade de ser artista. Foi animador, coordenei equipas, durante uma temporada foi artista num dos casinos do Algarve, tudo isso foi feito com diferentes equipas, das mais diversas nacionalidades.

Sim, mas os formandos que pretendem seguir uma carreira artística tem de sair da ilha, ou não?

CA: Têm cada vez menos do que na altura em que saí. Há um excelente trabalho que está ser desenvolvido pelo Gabinete regional de expressão artística e há uma série de entidades e instituições que estão a desdobrar-se num trabalho muito meritório nessa área. Noto que falta algum rigor ao nível da apresentação e orientação desses possíveis actores, falta-lhes "uma colher de chá". Isso tem a ver com a educação.

Do público é isso?

CA: Não, dos próprios miúdos, que parecem que não tem noção que devem ter diferentes experiências e serem bem orientados. Há produtores que têm esse cuidado, de realçar certos pormenores que são fundamentais na carreira de um artista. Eu, felizmente tive muita sorte a esse nível. Trabalhei muito, mas tive o prazer de contactar com pessoas fabulosas, o José Pedro Vasconcelos, um excelente produtor nacional, o Ray Geoffrey que é um maravilhoso director de atores. Eu procuro passar essa informação aos formandos.

Então, têm medo de sair da ilha é isso?

CA: Eles querem, por um lado é o medo, por outro lado, a Região olhou muito pouco para os seus artistas. Eu falo por experiência própria, as portas estavam todas fechadas quando voltei. Uma das pessoas a quem muito devo nesse retorno, foi a atual secretária regional de turismo, Conceição Estudante é uma personalidade muito importante neste meu relançamento depois de ter retornado à Região por isso tenho-lhe uma grande estima.

É porque não há uma mentalidade virada para a cultura? O facto de sermos ilhéus e um povo pouco dado as mudanças?

CA: Um pouco das duas coisas. O mundo está a mudar e a globalização em muito contribui para isso e temos de faze-lo.

E agora essas portas estão mais abertas?

CA: Muito mais. O trajeto que fiz no exterior teve de ser do zero aqui. Hoje sou reconhecido pelo meu trabalho, não só das marionetas, como na dramaturgia e na animação. Se calhar é essa preparação, essas características que as pessoas não estão capacitadas a enfrentar. A Madeira em termos de animação hoteleira é muito pobre. Limita-se a ter o pianista que toca. Não há animadores nos hotéis, nos locais por onde passei, nas companhias onde trabalhei, se hoje quisesse sair da ilha eu tinha o meu lugar garantido. A uns anos atrás, eu orientei um estágio de animação, num grupo hoteleiro, em que o programa contemplado era desenvolver actividades de piscina, acredite ou não, o director disse-me que o formando iria levar a cabo esse plano de calças e camisa. Repare isto é arcaico, não existe. Os nossos destinos concorrentes trabalham esse vertente de forma muito profissional, basta ir até as Canárias onde tudo acontece, há um programa para as crianças, para os adolescentes, para os seniores e vamos concorrer com eles de que forma? Contudo, há bons exemplos. Há um resort, o Enotel, que está a apostar forte na animação hoteleira, está a construir uma equipa. Esse sempre foi o meu grande sonho desde que vim até para a Madeira. Não tem sido possível. Temos muito talento nessas áreas, infelizmente os hoteleiros não estão preparados para dar orientação a esses animadores. Tem de haver responsável para o fazer e com experiência comprovada, o que acontece é que recebem ordens do responsável pelas bebidas, ou pelo director do hotel, o que é um erro crasso. Era importante que rapidamente perceber que é necessário apostar na animação hoteleira competente, porque há muita incompetência.

Falta de formação?

CA: Sim e de visão. Actualmente, os hotéis estão a virar-se para os artistas locais, mas obviamente não querem pagar, ou não podem. Eu pergunto, o que aconteceu no passado? Os artistas vindos de fora eram melhores do que nós? Não são. Mas, afirmo que os que por aqui passaram tinham muita qualidade, reconheço-lhes o mérito e foi sem dúvida uma mais- valia para nós e para o público em geral, contudo, temos muita qualidade cá dentro que esteve sempre subjugada para um segundo ou terceiro plano. Agora, tem uma capacidade financeira reduzida, mas mais grave do que isso dizem que não tem dinheiro, impõem-se questionar e quando tinham onde estavam?

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