É uma biografia de uma das maiores poetisas da literatura nacional.
Vicente Alves do Ó tentou e conseguiu criar um poema feito de imagens inesquecíveis sobre uma das poetisas mais amadas pelos românticos portugueses. É um dos filmes nacionais mais vistos em 2012 e ainda bem que assim foi, porque houve o cuidado em transpor para a tela toda a vida apaixonada e de certa forma incompreendida de Florbela Espanca, a poetisa, a alma rebelde e sensível, a eterna insatisfeita e ao mesmo tempo a sedenta pela vida. Trata-se de um regalo visual para os espectadores que ainda não conhecem a sua obra, mas acima tudo, é um excelente veículo para descobrir a mulher por detrás da escrita, para dar a conhecer a realidade da sua existência e sobretudo, é um excelente trabalho de composição de actriz Dalila do Carmo, que conseguiu dar corpo a esta personalidade fascinante. Outro dos pontos fortes desta produção é o guarda-roupa luxuoso, e pode parecer frívolo, mas ajudam a compor uma determinada época histórica e até a descortinar o estatuto social das personagens. O filme não aborda propriamente a sua obra literária, mas esta implícita, algumas das imagens deste filme remeteram-me de imediato para alguns dos seus poemas e também para a sua prosa, em particular, o sofrimento que a assolou após a morte do irmão. Todas as palavras que perpetuou no papel fazem tanto sentido depois de ver esta longa-metragem esteticamente irrepreensível e gosto de pensar que o realizador teve todo esse universo linguístico em consideração quando escreveu o argumento. Ela de facto era maior do que o seu próprio tempo, se tivesse de vivido de outra forma, mais recata e complacente com a sua própria realidade, provavelmente nunca teria sido a Florbela Espanca que aprendemos perdidamente a amar. Bom cinema!
