Os teus projectos surgem inspirados pela rua, pelo espaço onde vais intervir, ou primeiro tens uma ideia e depois escolhes a parede?
RR: Onde vou buscar inspiração é no mundo actual. Os meus últimos trabalhos na rua são o que sinto que deve ser transmitido, ou que as pessoas podem sentir, mas estão presas por algo. O silêncio foi o penúltimo que fiz, numa rua onde há muitas pessoas, que devem ter todas muitos problemas e preferem calar-se. É perto do rio, é um sítio muito tranquilo e achei que ali sim, era o local. Marco sempre uma palavra, o rosto vai mostrar o que quero transmitir as pessoas.
E o trabalho na Madeira, em Machico?
RR: É o grito, por vários motivos. O José Montero foi quem me ajudou neste projecto. É uma pessoa notável e falou-me no início de pintar uma porta, eu tinha pensado já no "grito", ele viu e gostou. Então porque o fiz? É o inverso do silêncio. O espaço escolhido está desabitado, mas já morou lá alguém e essas pessoas precisam de uma voz, de explodir e no entanto, também ao nível da sociedade, principalmente os portugueses que querem falar, discutir ao nível político estão sempre calados. O português é um povo assim, acomoda-se ao silêncio, as coisas estão mal, mas parece tudo normal. Os portugueses por serem assim têm de necessidade de gritar.
Como te vês daqui a uns anos? Achas que vais continuar activo no meio da arte urbana?
RR: Sim.
Ou também te vês num espaço, como por exemplo, numa exposição?
RR: Eu penso numa coisa de cada vez. Tenho muitos projectos na minha vida, estou a tirar um curso de cenografia, quero aprofundar isso e o stencil a que dedico todos os meus tempos livres. Mas, sim gostava e penso continuar activo com a minha arte e passar a minha mensagem as pessoas.
Na rua?
RR: Sim, sim, sobretudo na rua. Perdi o medo e a cautela sobre como devia fazer os meus trabalhos. Até as conversas com os amigos incentivaram-me a realizar o que queria realmente. Pintava sempre em telas num ciclo fechado que era a família, mas sempre comentava que queria passar para a rua. Até que passei.
Achas que actualmente a sociedade olha com maior respeito o trabalho de pessoas como tu, ou ainda acham que o grafiti, a arte urbana é marginal?
RR: Eu acho que faz com quem faz que a arte urbana seja marginal é quem fala sobre isso, porque se o grafiti fosse como nesta ilha, que as pessoas sejam incentivadas a pintar num espaço onde não estão a esconder nada, acho que é um acto que torna este tipo de arte mais aceite. Eu estava ontem a pintar e senti isso das pessoas, não olhavam com preconceito, mas se calhar se fosse na minha cidade olhavam para mim com outros olhos, porque não havia um projecto, era sou eu e a rua. Acho que já ultrapassámos a barreira do vandalismo, embora um grafiter seja mais rebelde com a rua, mais vadio e não tem medo...
De agredir?
RR: Sim, mas essa é a essência do grafiti. É um explodir com a sociedade. De certa forma acho que alguns poderiam ter mais cuidado com o que fazem na rua, não gosto de ver teatros e cinemas pintados com tags, respeito a liberdade de cada um, mas sinto-me um artista e acho que deveria haver mais projectos artísticos.
Gostavas que o mesmo acontece-se na tua cidade?
RR: Sim, em Guimarães, mas no Porto sobretudo agora que estou lá. É uma cidade que tem artistas muito bons que estão a ser completamente desprezados e alguns até fazem exposições e refiro-me hazul todas as suas obras estão a ser pintadas por cima pelo movimente anti grafiti. Também isso impulsionou-me a ir para a rua.