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O grito das ruas

Escrito por  yvette vieira fts josé zyberchema

Renato Ribeiro expressa as suas ideias sobre o mundo e a sociedade actual através do stencil nas ruas da sua cidade. Considera-se um artista urbano, porque a sua tela são as paredes dos recantos abandonados, ou mesmo os muros por onde passam as pessoas preocupadas com o seu dia-a-dia. Pretende, sobretudo, faze-los acordar perante a realidade que nos rodeia e "grita" essa visão onde menos se espera...

Fala-me do teu percurso como artista urbano, ou não te consideras como tal?
Renato Ribeiro: Sim, sou artista urbano, não sou grafiter.


Então, diz-me qual é a diferença entre os dois?
RR: Artista urbano é um grafiter também, mas eu faço stencil e não grafiti e isso são duas técnicas completamente diferentes. O stencil ajudou muitos que não conseguiam desenhar para passar uma mensagem, um grafiti não, é outro tipo de talento, têm de ter outra postura perante a rua, essa é grande diferença. Eu comecei com 16 anos com retratos revolucionários, tipo Che Guevara. Depois a minha família pedia-me imagens deles próprios e de outras pessoas, então comecei a praticar mais a regra de stencil e nunca foi pago por isso. Respeito muito a rua e só comecei a ir para lá quando me senti preparado e quando tive a noção daquilo que queria fazer para mim e para as outras pessoas.


Tens uma assinatura muito pessoal? O que te distingue dos restantes?
RR: É uma assinatura muito íntima, é como uma tatuagem também, foi um desenho que fiz há alguns anos que, ao nível pessoal significa muito e achei que não me importava ser reconhecido mais por uma imagem da minha assinatura e não um nome específico.


Porque não escolheste um pseudónimo, quase todos os artistas urbanos o usam.
RR: Não queria colocar um nome por vários motivos, podia assina-lo, primeiro que tudo, porque onde faço mais trabalhos é no Porto onde vivo há 3 anos, embora seja de Guimarães. Agora existe uma associação que é anti grafiti que apagam todos os trabalhos que sejam feitos na rua, então se dou a cara por esse nome podem chegar até mim. Mas, o motivo não é esse. É mesmo uma questão pessoal e intima.

 

Os teus projectos surgem inspirados pela rua, pelo espaço onde vais intervir, ou primeiro tens uma ideia e depois escolhes a parede?
RR: Onde vou buscar inspiração é no mundo actual. Os meus últimos trabalhos na rua são o que sinto que deve ser transmitido, ou que as pessoas podem sentir, mas estão presas por algo. O silêncio foi o penúltimo que fiz, numa rua onde há muitas pessoas, que devem ter todas muitos problemas e preferem calar-se. É perto do rio, é um sítio muito tranquilo e achei que ali sim, era o local. Marco sempre uma palavra, o rosto vai mostrar o que quero transmitir as pessoas.

 


E o trabalho na Madeira, em Machico?
RR: É o grito, por vários motivos. O José Montero foi quem me ajudou neste projecto. É uma pessoa notável e falou-me no início de pintar uma porta, eu tinha pensado já no "grito", ele viu e gostou. Então porque o fiz? É o inverso do silêncio. O espaço escolhido está desabitado, mas já morou lá alguém e essas pessoas precisam de uma voz, de explodir e no entanto, também ao nível da sociedade, principalmente os portugueses que querem falar, discutir ao nível político estão sempre calados. O português é um povo assim, acomoda-se ao silêncio, as coisas estão mal, mas parece tudo normal. Os portugueses por serem assim têm de necessidade de gritar.


Como te vês daqui a uns anos? Achas que vais continuar activo no meio da arte urbana?
RR: Sim.


Ou também te vês num espaço, como por exemplo, numa exposição?
RR: Eu penso numa coisa de cada vez. Tenho muitos projectos na minha vida, estou a tirar um curso de cenografia, quero aprofundar isso e o stencil a que dedico todos os meus tempos livres. Mas, sim gostava e penso continuar activo com a minha arte e passar a minha mensagem as pessoas.


Na rua?
RR: Sim, sim, sobretudo na rua. Perdi o medo e a cautela sobre como devia fazer os meus trabalhos. Até as conversas com os amigos incentivaram-me a realizar o que queria realmente. Pintava sempre em telas num ciclo fechado que era a família, mas sempre comentava que queria passar para a rua. Até que passei.


Achas que actualmente a sociedade olha com maior respeito o trabalho de pessoas como tu, ou ainda acham que o grafiti, a arte urbana é marginal?
RR: Eu acho que faz com quem faz que a arte urbana seja marginal é quem fala sobre isso, porque se o grafiti fosse como nesta ilha, que as pessoas sejam incentivadas a pintar num espaço onde não estão a esconder nada, acho que é um acto que torna este tipo de arte mais aceite. Eu estava ontem a pintar e senti isso das pessoas, não olhavam com preconceito, mas se calhar se fosse na minha cidade olhavam para mim com outros olhos, porque não havia um projecto, era sou eu e a rua. Acho que já ultrapassámos a barreira do vandalismo, embora um grafiter seja mais rebelde com a rua, mais vadio e não tem medo...


De agredir?
RR: Sim, mas essa é a essência do grafiti. É um explodir com a sociedade. De certa forma acho que alguns poderiam ter mais cuidado com o que fazem na rua, não gosto de ver teatros e cinemas pintados com tags, respeito a liberdade de cada um, mas sinto-me um artista e acho que deveria haver mais projectos artísticos.


Gostavas que o mesmo acontece-se na tua cidade?
RR: Sim, em Guimarães, mas no Porto sobretudo agora que estou lá. É uma cidade que tem artistas muito bons que estão a ser completamente desprezados e alguns até fazem exposições e refiro-me hazul todas as suas obras estão a ser pintadas por cima pelo movimente anti grafiti. Também isso impulsionou-me a ir para a rua.

 

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