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Anjos da guarda

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É o paradigma da nova colecção de Teresa Brazão, no Funchal ateneu café, que ilustra um grande introspecção entre o passado e o presente, o presente e o futuro, contendo personagens religiosas que figuram os seus pensamentos. É também a vivência de sonhos aliados à condição de menina, a um desejo de protecção, como descreve, a própria filha Cristina Brazão.

O que a levou a pintar de novo, montar uma exposição depois de quase vinte anos?

Teresa Brazão: Eu só agora estou a fazer uma exposição, mas isso não quer dizer que tenha parado de pintar, eu pintava de vez em quando, só que durante a vida tem várias fazes e nem sempre temos disponibilidade mental para produzir uma quantidade adequada e suficiente que tenha todos os quadros tenham a ver uns com os outros. Tem de haver uma mensagem comum. Aproveitei a oportunidade agora que a minha filha decidiu abrir este espaço muito bonito e cuja estratégia de divulgação será o “casamento” com actividades culturais.

Mas, qual foi o tema central, que inspirou tudo isto?

TB: Eu fiz sessenta anos este ano e nós passámos a vida inteira a pensar em coisas que não são importantes, a partir de uma certa idade temos de vê-la de outra maneira. Já vivemos a parte mais activa da nossa existência e questionámo-nos, o que vamos fazer agora? E o que acontece as pessoas que estiveram connosco neste percurso será que continuam? Será que estão do nosso lado? Será que é fruto da nossa imaginação? É este tipo de discurso que tento transmitir as pessoas, são motivações mais metafisicas e foi isso que me fez pintar. Foi ver que neste momento que tenho uma essência completamente diferente. Os meus pais morreram, já tenho quatro filhos criados e seis netos, chegou a altura de pensar nas coisas de outra maneira.

É porque a morte também se aproxima que motiva essa reflexão? A ideia de final, de uma etapa que se encerra?

TB: Talvez, ou talvez porque chegámos a uma altura da vida em que tudo tem de ser relativizado, é como se tivéssemos passado a maior parte do tempo com pequenas coisas sem importância nenhuma, o que é importante é superior a isso tudo, são os afectos, é o amor, a relação entre as pessoas que cá estão e também as que não estão.

Há muito de ilha na sua pintura ou não?

TB: Nós como somos ilhéus temos sempre alguma coisa da ilha na nossa pintura, porque quando a fazemos é sempre uma parte de nós que fica. O facto de vivermos numa ilha faz com que as pessoas sejam construídas de uma determinada maneira, somos rodeados por água de todos os lados, é um espaço limitado e faz com que as pessoas se desenvolvam num determinado parâmetro. Acho que terá com certeza algo de aquilo que pensámos num determinado momento: que estamos perdidos no meio do Atlântico, embora tendo algumas portas que nos permitem sair daqui, temos de vencer essa limitação, abrir a nossa mente para impedir as limitações geográficas e forçosamente temos de ultrapassar isso.

As cores que utilizou é uma paleta de tons terra e quentes, tem alguma coisa a ver com a ilha?

TB: Sim tem a ver. O facto de todas as cores relacionadas com o cor-de-rosa e cor terra tem a ver com uma ligação a parte física. Esta história de se atribuir o tom rosa as meninas e o azul aos meninos resulta de conceitos medievais postos de parte que defendiam que os rapazes eram mais ligados as grandes questões, aos céus e as mulheres a parte terrena. Senti que teria de fazer isto assim, embora haja um quadro em tons de azul, porque sou mulher e a minha feminilidade acaba por estar presente nos meus trabalhos. Também a minha identidade e a relação das pessoas que me rodeiam que é feita dessa forma.

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