A Piódão Group é uma marca sustentável, de que forma vocês exercem essa sustentabilidade na produção?
LN: Os nossos tapetes são todos 100% recicláveis, sendo a lã um produto natural.
PP: Primeiro estamos a trabalhar na Europa e as restrições ao nível ambiental não são tão pequenas quanto isso. Ao nível dos produtos, eles são totalmente degradáveis. O latex se estiver envolvido em humidade, passado um tempo desfaz-se, desaparece. A fita é de algodão e há pontualmente poliéster nas bordas. Em termos de sustentabilidade tem a ver com outra coisa, tem a ver com o reaproveitamento dos serviços, temos que ter obrigatoriamente porções fixas de lã, porque as tinturarias não fabricam quantidades exactas, se houver algum erro, convém contudo pedir sempre mais. O que acontece? Imagine, num tear o espaldar só ocupa uma parte e o que fazemos na parte vazia? Nada, fazemos o tapete, cortamo-lo e sobra uma pequena área. Essas sobras vão para o lixo numa situação normal quando não podem ser aproveitadas para tapetes, o segredo é investir em duas áreas, primeiro na coleccção pré-a-porter com pequenos elementos, pequenos tapetes no espaço livre que fica junto dos tapetes acabados, usasse assim os restos de cores para fazer esses tapetes. O único elemento novo que se usa aqui é o latex, porque nos permite improvisar num espaço vazio que ia para o lixo os restos que sobram de outros tapetes, É o reaproveitamento total de elementos. Portanto, um terceiro aspecto que tenho de referir é que os nossos produtos duram, mas não são descartáveis, um dos nossos tapetes pode durar mais de 15 anos, por ter um bom material e uma qualidade visual, há um diferença entre comprar um tapete de cinco e cinco anos, e outro de 10 anos ou mais que contribuem para a racionalização dos recursos na íntegra. A sustentabilidade é feita assim, através do aproveitamento dos desperdícios, uma procura em racionalizar a produção com base nesse ideia, os próprios produtos não tem metais pesados e a questão de trabalharmos num contexto europeu que exigem produtos certificados que passam pelo crivo de determinadas instituições em que todos os resíduos provenientes das tintas passam por uma central de tratamento de águas residuais.
A lã é 100% nacional?
LN: É importada, há alguma da Nova Zelândia e do mercado nacional. Não temos capacidade para fazer isso.
PP: Cada tipo de carneiros tem o seu tipo de lã, como por exemplo, o shetland, o angorá e a caxemira, são lãs mais adequadas para a roupa, ou acessórios de moda, se fossem usadas em tapetes garanto que não duravam 15 dias, pelo comprimento, pela elasticidade e comportamento da própria fibra que é totalmente diferente. A lã mais adequada é dos carneiros da Nova Zelândia e existe a possibilidade de usar algumas variantes da Austrália. O que acontece em Portugal é que os animais são diferentes, só parte da lã pode ser aproveitada, temos de fazer uma selecção, então pegam na mecha tiram-lhe os resíduos, depois tem de fazer uma penteação para poder separar os filamentos mais finos, dos mais compridos que podem ser misturadas com a lã da Nova Zelândia. As fibras portuguesas são mais elásticas e suaves, a neozelandesa é mais áspera e as duas misturadas permitem elasticidade, suavidade e brilho. O que posso dizer é que esta fibra é totalmente importada, contudo, ela é fiada totalmente em Portugal.
Quais são os melhores mercados para os tapetes da Piódão Group?
LN: Os mercados nórdicos e europa central. O tapete é mais tradicional vai para a França, a Inglaterra, são mercados onde o conforto térmico é importante e o design. Pela forma como a lã reage as humidades equilibra o ambiente da casa, ao contrário do que se afirma que contribuem para as alergias, o que não é verdade. Um dos mercado novos é os EUA, onde havia inicialmente uma grande resistência as fibras de lã e quentes, mas em termos de produto esta a ter um grande sucesso.
Qual é o próximo objectivo a curto-prazo do futuro da marca?
LN: A curto prazo a Piódão Group esta a intentar implementar-se em alguns mercados considerados novos, emergentes, como é o caso da Europa de Leste. E consolidar alguns mercados mais tradicionais.
E a longo-prazo para além dos tapetes pretendem produzir outros produtos com lã?
LN: Temos ideias interessantes para tornar os tapetes mais fashion, estamos a amadurecer uma parceria com um estilista nacional, de renome e a testar algumas novas matérias-primas para os tapetes, com base de madeira.
PP: Se formos muito trendy desaparecemos do mercado, se formos pouco vendáveis é um problema, temos que apostar em colecções que sigam as tendências, mas também em produtos estáveis que permitam um grande visibilidade que eventualmente se possa passar ao mercado, porque a moda acaba por ser cíclica. A longo-prazo as acções com designers são importantes, os testes com materiais novos também, as misturas de fibras podem ser trazidas para este universo. Há outro aspecto relevante que é reinventar o tapete, ou seja, este material pode ser usado no mobiliário, em cadeiras, nas camas, nas paredes, no limite pode ser usado no isolamento das casas.
LN: A tecnologia do tufado associado ao tapete é uma técnica de tecelagem.
PP: A dificuldade aqui é encontrar os materiais adequados, no caso, de um tapete na parede, há a questão dos micro-organismos que não se conseguem limpar com a mesma facilidade e à vontade que se estivesse no chão. Por outro lado, estamos numa altura em que há uma ditadura de marcas absolutamente horrenda, se uma nova marca começar funcionar bem, para além da gama própria, a curto-prazo e longo-prazo há sempre uma porta aberta de uma forma orgânica de ir acrescentando materiais e produtos que sejam complementares. A produção de tapetes não é um componente dos têxteis lar, vendemos artigos de decoração e o complemento dos tapetes é uma gama de têxteis-lar de cariz completamente diferente, depois podem vir acessórios, apliques e mais algumas coisas. É necessário para uma marca ter uma linguagem coerente, este processo é evolutivo, se resultar ganha nome não como uma empresa de tapetes, mas sim como uma com soluções para decoração. Os custos de publicidade e marketing vão sendo muito menores à medida que formos acrescentando novos produtos, porque as pessoas percebem que a marca não é só tapetes, é de decoração. No limite, se me é permitido sonhar, eu diria que é para aí que nos iríamos.
LN: Neste momento estamos a produzir para algumas marcas conceituadas de mobiliário tapetes naturalmente de marca branca. O ideal será nós como marca com uma linha própria criar esse mobiliário, já que temos uma gama muito mais alargada do que eles, que possuem uma oferta pontual. Levantando a ponta do véu um dos produtos que nos interessa são as mesas de centro, como é um produto que não está ligado a uma outra peça decorativa é facilmente adicionado a uma marca que tem tapetes, porque sublinha a linha, a seguir seria o sofá que é uma ligação muito natural e que se faz muito rapidamente. É só haver o espaço para uma decisão e começa-se logo a fazer uma colecção.