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Escolhas

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A exposição da artista cénica, Margarida Menezes surge como a conclusão do processo de "site-specífic" de procurar o espaço físico ou cenográfico do livro de fotografia e texto "Escolhas" de Miguel Leitão Jardim, no qual se baseou a construção de uma instalação com o mesmo título em exposição no Salão Nobre do Teatro Municipal Baltasar Dias. A performance baseou-se no mesmo método e propos a exploração em site numa das áreas da instalação. O tempo e a luz, a casa e as palavras foram as ferramentas através das quais se desenvolveu o tema das "não escolhas", ou seja, aquilo que foi não foi seleccionado para integrar o livro e a instalação é articulada no tema das escolhas como um rebuscar de material fotográfico intríseco ao processo criativo.

Como surge esta instalação artística intitulada “escolhas”?
Margarida Menezes: A instalação resulta do lançamento do livro do Miguel Leitão Jardim. Ele falou-me da exposição de fotográfias e eu desafiei-o com o projecto como uma forma de divulgar os conteúdos, porquê não tentar o espaço físico dessa obra? E foi o que fizemos. Basicamente, estudámos o livro já no final e procurámos o espaço e objecto físicos, o tempo e as dinâmicas das imagens, ou seja, a relação entre o texto e a fotográfia e isto proporcionou-nos um labirinto, um espaço com várias estructuras e uma instalação quase literária, fotográfica e plástica.

Miguel Leitão Jardim: O ponto de partida foi uma série de viagens minhas em espaços museológicos. Especialmente Serralves, no Porto e as Mudas, na Madeira e ao contrário de outros trabalhos este surgiu de algumas dessas fotográfias que fiz e que me motivaram a continuar uma série que percebi que tinha, aumentá-la e dar-lhe vida. O enquadramento que surgiu resulta dos vários autores que foram convidados para escreverem sobre as várias imagens que estavam aliadas a este projecto.

Foi uma ideia inicial para a obra fotográfica convidar autores? Ou foi em conjunto?
MLJ: A ideia inicial foi minha e convidei vários autores para este projecto. No livro não há apenas prosa, existe também poesia.

Margarida, porquê um labirinto?
MM: O labirinto tem a ver com algumas fotográfias do livro e o que se faz é dar as pessoas a escolha do percurso, como os trajectos de vida, as nossas escolhas e esse foi o nosso tema para à instalação. Com base nisso também há uma performance, baseada na escolha e não escolha. As imagens que não foram seleccionadas para esta exposição serão depois aproveitadas, as páginas 32 e 33 que não existem na obra e que neste caso tem a ver com as nossas escolhas, daquilo que se deixa de fora e será isso que vou aproveitar para a performance que vou fazer.

Qual foi o fio condutor em termos de imagens?
MM: Isso foram escolhas do Miguel, ou seja, o trabalho dele foi seleccionar uma série fotográfica e convidar autores a escrever directamente para cada fotográfia. O meu trabalho foi, agora, buscar todas as coisas que ele não aproveitou para analisar para a performance.

Porquê consideraste este espaço do teatro Baltazar Dias que nada tem a ver com as imagens e a tua instalação?
MM: Esta sala é um espaço lindíssimo e nós assumimos o clássico como neutro, ou seja, toda a estructura do teatro, como as paredes, decidimos não usá-las para à instalação. Portanto, o projecto limita-se aos paineís e ao interior do labirinto que foi criado por nós. A questão mais relevante é como é que o espaço influenciou? Como decidimos que o espaço não é uma escolha? As suas características também não o são, por isso, a performance que irei fazer chamada página 32 e 33, incide sobre isso, sobre o tempo do espaço, a luz, a ressonância, então será uma interpretação numa área específica, de não luz, foi uma zona não escolhida e portanto a performance será efectuada de forma a que todas as características do espaço sejam assimiladas.

Muitas das instalações são quase toscas.
MM: Sim, o objectivo da instalação é conseguir mostrar um produto artístico com o mínimo de recursos possíveis e então entra a ideia do “low budget”, tentámos próprios criar todas peças da instalação, tudo o que pudesse ser construído por nós, seria, em vez de ser mandado fazer através de um designer gráfico. O objectivo é cativar a sensibilidade à arte e incentivar a criação artística, porquê? Porque a minha área é mais cénica, é o palco, então a minha visão de uma instalação é a criação de um cenário que o livro me sugere. Isso é a minha perspectiva como performer. Como não sou artista plástica, a ideia era combinar as fotográfias e os textos, mas materializando-as no espaço. Para mim é mais uma construção de um cenário, é uma instalação, porque não se trata de um espectáculo, ou uma peça de teatro, sendo, que a performance não terá cenário, é o próprio espaço.

E os blocos de cimento?
MM: Estão aí por dois motivos, simbolizam os alicerces e a força que uma casa tem advém disso, dos tijolos. O livro faz essa referência da casa, do espaço, daí a forma da obra ser quadrada. A casa é construída com tijolos e isso representa-nos, o nosso impeto artístico que coloca os blocos e que os mantém unidos. Essas peças são de um puzzle, ou de um labirinto, portanto, o tijolo representa a construção de alicerces que estão na base do ímpeto artístico, mas também representam o escolher ficar, ser um objecto imóvel, pesado e rústico.

Procuraste também criar com este labirinto muita interactividade com o público?
MM: A intenção é exactamente essa, envolver o público na arte de criação. As pessoas podem tocar nos alfinetes e correrem o risco de se magoarem. Quererem, ou não, entrar numa sala escura que é iluminada com um flash intermitente. Podem cheirar ou até morder uma cadeira feita de maças, mas, eventualmente tem de se aproximar e cheirá-las para conseguirem ler o texto, o objectivo é que usem o olfacto. Têm que girar, ou dançar em torno de uma coluna para ler o poema sobre o infinito, porque é essa minha ideia do eterno. Há várias peças que tem ser tocadas, afastadas para permitir a sensibilidade sobre uma fotográfia e é necessário até usar o espelho para ler um texto. O objectivo é criar uma ligação mais próxima com o público, eu enquanto artista cénica tenho dificuldade em criar esse elo, porque quando estámos em palco e mesmo que seja no meio de uma audiência há barreiras difíceis de ultrapassar, a presença de um actor, de um bailarino, ou performer, ao mesmo tempo restringe, ou constringe uma certa ligação com o público. Esta instalação permite um visitante entrelaçado com o objecto artístico, para que toque, que sinta, que entre no espaço, no cenário e isso, por norma, não são coisas acessíveis.

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