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Nas fronteiras do olhar

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Sara Bernardo é uma artista plástica que se deixou fascinar pela fotografia documental, com cariz social, mas que pretende em simultâneo que essas imagens que capta possuam uma vertente mais artística. Um projecto de sonho que pretende seguir como forma de vida.

Como é que surge esta paixão pela fotografia embora tenhas vindo das artes plásticas?
Sara Bernardo: Comecei pelas artes plásticas, mas foi mais pelas áreas de escultura e instalação.Só que entretanto em 2010, quando surgiu a oportunidade de fazer voluntariado na GAS Porto ( Grupo de Acção Social) trabalhei numa instituição para idosos, durante um ano e eles entretanto convidaram-me para ir numa missão por dois meses em Timor. A verdade é que eu já queria fazer fotografia, mas nessa altura despertou mais a vontade de fazer fotografia documental e não tanto enveredar pela artes plásticas.

Então fala-me um pouco das diferenças entre a fotografia documental e artística?
SB: É um tópico muito discutido hoje em dia e há uma linha muito ténue a separar as duas. Eu estou interessada em cruzar esses dois métodos, como é que a fotografia documental pode ser apresentada como artística. É uma questão difícil de definir, para mim, a documental tem um lado mais humano que a artística não tem. E foi isso que me chamou para esta área a aproximação com as pessoas.

Na fotografia documental, também há um caracter social?
SB: Sim, neste momento estou a começar um trabalho em Londres dedicado aos refugiados e neste precurso em que acabei o mestrado e tive um percurso mais académico, porque estamos sempre restrictos áquilo que estamos a fazer, querendo ou não, acaba por acontecer. Mas, o objectivo principal é virar-me mais para o âmbito social.

Tens também trabalhos de fotografia mais artísticos pelo que vi, são fotografias em que ampliastes objectos, como por exemplo, os protozoários.
SB: Esse trabalho pertence a um site que tenho há muito tempo dedicado mais as artes plásticas. São fotografias com uma lente macro, são coisas super banais que as pessoas tem no dia-a-dia e obviamente estão expostos ao tempo, com alguma instalação de luz e com alguns cuidados os resultados foram esses. A página de interner mais recente e a qual me dedico é mais é a fotografia documental.

 

 

Agora os teus trabalhos actuais versam sobre os refugiados. Porquê essa temática?
SB: Para já é um tema que me interessa imenso pessoalmente. Depois aqui em Londres faz todo o sentido, porque há uma multiculturalidade tão grande.

Porquê a preto e branco?
SB: Este trabalho não bem definido se é a preto e branco ou a cores.

Mas, tens algumas imagens a cores e outra sequência a preto e branco.
SB: Tenho, normalmente quando é "street photography" gosto de usar preto e branco até porque é uma referência ao fotojornalismo. É mais nesse sentido e também depende muito do que quero transmitir e o quero fotografar.

Então o que faz sentido ter em algumas fotos a cores?
SB: Depende muito da informação. Os retratos, por exemplo, o que abre o site é tão rico e tem tantos detalhes que não fazia sentido ser a preto e branco, pelo menos para mim.

Quando há muitos elementos envolvidos preferes a cor é isso?
SB: Tem a ver com os detalhes, mas se for fotografar uma cultura que vive muito da cor, da luz, que é quente e mais acolhedora vai para as cores de certeza.

A secção "street photography" passasse nas ruas da cidade, mas as imagens também são muito ricas.
SB: Sim, mas há uma relação com a história de fotografia muito grande, por isso serem a preto e branco.

Este é teu projecto de mestrado?
SB: Esse já terminou em Setembro de 2013 e o projecto final esta na parte de ensaio, o que se chama colloquium com umas entrevistas de som.

Então o que pretendes fazer de futuro? Deixar a fotografia de parte um pouco e desenvolver de novo as outras áreas mais artísticas?
SB: Não, acho que é o contrário.

E que tipo de fotografa queres ser?
SB: Idealmente sendo mais um objectivo de sonho será muito ligado as ONGs, missões e projectos meus.

Pretendes permanecer em Londres para atingir esses objectivos?
SB: Agora em Fevereiro vou começar um estágio para uma instituição "save the children" na equipa da fotografia. Pelo menos mais três meses fico cá. Depois gostava de ir para o Brasil, para lá viver, pela cultura, ao nível das artes esta a crescer bastante e é uma boa aposta.

Mas, não em Portugal? O que falta cá para pessoas como tu?
SB: Não, porque faltam muitas oportunidades. Aqui acontece muita coisa sem ninguém envolvido, eu trabalho muito sem ser paga e as pessoas fazem-me favores e eu também não pago e há muitas facilidades. Londres é uma cidade muito viva há sempre coisas a acontecer, para ir ver e fotografar. É uma vida que não se encontra aí. E quando digo isto, não se trata do dia-a-dia, é uma espécie de vibração. Em Portugal, quando vou para casa, no verão e no natal, é sempre uma energia tão embaixo, é sempre tudo muito complicado e isso faz como que me identifique menos com o estilo de vida do nosso país.

Como te defines como profissional, achas que és mais artística ou não?
SB: Acho difícil colocar um rótulo. Mas, o que me interessa é tentar cruzar os métodos da fotografia documental ao nível da pesquisa e de como nos aproximámos de uma identidade que trabalhe com um grupo pessoal, com as pessoas e retirar coisas daí. Quer seja através do registo de fotografias, de entrevistas, de recolha de objectos pessoais e apresentar esse projecto que teve uma pesquisa tão documental e fazer algo artística. Foi o que tentei fazer no meu projecto de mestrado, pessoas a partilhar uma história que escolheram, ligadas a um objecto que também seleccionaram e com uma parte escrita por elas.

http://cargocollective.com/sarabernardo
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