Os designers portugueses Jorge Moita e Daniela Pais criaram uma mala que revolucionou a forma como vemos o vestuário. Uma criação do grupo KRVKURVA que ganhou maior projecção no estrangeiro. Contudo, em 2002, ambos venceram o troféu nacional Sena da Silva, do CPD, para a área de design de produto. Um sucesso desta dupla de designers que se vêm repetindo através das várias edições limitadas das La.Gas um pouco por todo o mundo.
Como deram início ao conceito La.Ga?
Daniela Pais: O conceito da mala nasceu de um projecto da faculdade para o final de curso em que começei a abordar a temática da textura de um material inserida numa colecção de moda. "Na corda Bamba e sem rede”, em 2002. Cercada pelo mundo da informação em expansão fornecido pela Internet, eu escolhi para explorar e apresentar como um tema final de meus estudos de Arquitectura de Design de Moda , o objecto da informação e entropia. Utilizando imagens de satélite do rio Amazonas e imagens microscópicas dos olhos humanos para imprimir em Tyvek e depois para destruir e repor em uma ordem diferente um tecido novo que foi criado. Na colecção os padrões e o imaginário estão jogando com pontos de referências e olhando para a possibilidade de um novo equilíbrio.
Porquê a escolha deste material? "
DP: É um material que parece folha de papel, é leve, são 50 gramas que suportam 55Kg, é resistente às partículas radioactivas e químicas e pode ser lavado na máquina. Ao princípio usamos o tyvek para as peças da colecção, no entanto, para vestuário não se adequava porque era um material muito duro. Então decidimos usa-lo para fazer acessórios. O formato, ao contrário do que se diz, não é uma lágrima, a ideia subjacente é de como se de uma peça de vestuário se trata-se, algo que se veste usando-o ao ombro. A ideia é sempre usar materiais pouco convencionais.
Como surgiu o sucesso da La.Ga?
DP: Foi com a nossa primeira encomenda, através da Gala Fernandez, a project manager da fábrica features da Benetton. Ela estava em Portugal e eu decidi levar o protótipo que inicialmente era branco comigo, ela viu, gostou e fez de imediato uma encomenda para 200 unidades, que foram vendidas em Itália. Devemos o nosso sucesso à sua visão, dai a nossa homenagem, através do nome da mala, é Gala, só que invertido. Os padrões gráficos só surgiram mais tarde, quando as pessoas começaram a interrogar-se se não era possível usar outro tipo de cor e ilustração, e assim em 2003 a KRV KURVA desenvolveu vários projectos para uma evolução deste produto, “you turn at her service” foi na realidade um convite a vários artistas internacionais para que fosse feito uma intervenção gráfica sobre o produto. A colecção “To love is not a option” foi feita por vários ilustradores gráficos portugueses para dar uma nova vida a La.Ga em termos visuais. A ideia é sempre inovar, com uma consciência social, mas sem esquecer que se trata de uma peça de design.
E em Portugal? Como atingiram o sucesso?
Primeiro foi lá fora e só depois é que foi cá. Foi curioso porque na Expo 2005, estivemos a convite do governo português no Japão e o sucesso da mala foi tal, os japoneses como sabe são fanáticos pela beleza sob todas as formas, que as pessoas compraram a La.Ga e pura e simplesmente colocaram-na nas paredes como se fosse uma obra de arte. A La.Ga mais recentemente, em Agosto 2010, com uma parceria com o Pavilhão do Conhecimento/ Ciência viva ( a proposito do aniversário do pavilhão) foi alvo de uma nova edição. Chama-se "Love is Science" / "Amor é Ciência" e é feita graficamente com as moleculas que o nosso corpo liberta quando estamos apaixonados. Esta edição para mim tem um significado especial porque faz uma transição a meu ver no uso da La.Ga em termos graficos, passando a dar mais importancia ao conteudo da mensagem e tenta transmitir um conhecimento em primeiro lugar e não apenas uma imagem visual.
E os empresários estão sensíveis a essas inovações?
Não, os empresários em Portugal não estão sensibilizados para investir nos designers portugueses. Eu trabalho na Holanda e vou a muitas feiras e exposições, os designers holandeses contam-me que produzem, na maioria dos casos, as suas colecções de vestuário e calçado aqui em Portugal. Nós somos bons a criar os produtos dos outros, mas nem marcas próprias temos. E não falta pessoas com capacidade, e não falo por mim, para produzir excelentes conceitos de design. Eles é que não querem, ainda subsiste a mentalidade do vêm do estrangeiro é melhor.
E a coleçção elementum?
Trata-se de um conceito que surgiu de três vectores, modelos industrializados, a sua sustentabilidade e a maneira como consumimos o vestuário. Usei materiais de origem natural e esta colecção permite usar um peça em forma tubular sob várias formas. Permite criar uma nova noção do nosso corpo, de forma simples , acessível e mais ecológica.
É assim que inicia ao processo de criação? Pelo tipo de material?
Sim. O meu processo de criação tem início com o material mesmo antes de sequer o inserir num contexto de uma colecção, sempre pela via do têxtil.
Quais são as suas influências no design?
DP: A Stella Mac Cartney por causa da forma como aborda o vestuário de uma forma sustentável e Issey Miyachi pela estrutura.
E no futuro que pretende fazer?
DP: Continuar a desenvolver o meu projecto Elementum e o meu filho, ele é o meu maior projecto neste momento.
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www.danielapais.com/
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