O português é um obstáculo quando pensas num filme?
NR: Não, obviamente que há línguas, como o inglês, que tornam mais fácil a internacionalização. Isso não quer dizer que um filme em português ou outra língua qualquer não venha a ter sucesso. Pode ser um estigma para alguns realizadores, para mim não o é. No entanto, o facto de um filme ter ou não diálogos, quando se esta a falar de uma curta-metragem que é divulgada na internet poderá ser mais vista se for em língua inglesa, ou nenhuma língua de todo, isso é uma verdade. Falando de filmes para salas de cinemas, as pessoas não dão importância a isso, vão independentemente da língua, há filmes portugueses que conseguem ter sucesso lá fora, como existem filmes espanhóis que conseguem também quebrar essa barreira. Poderá ser um entrave quando se fala de filmes curtos na internet, que é um meio de divulgação, mas quando falámos de salas de cinema isso não constitui um problema.
No entanto, o Vicky e o Sam não é falado em português.
NR: É verdade, trata-se de um filme que esteve presente em vários festivais de cinema e obteve um total de 24 prémios nacionais e internacionais e foi alvo de 75 selecções para festivais em todo o mundo. E é falado em inglês, porque através da internet é mais fácil chegar a todo lado. Se fosse em português poderia ser um filem com sucesso ao nível interno, mas o mesmo não se poderia dizer em termos internacionais, mesmo legendado, porque as pessoas não estão habituadas a ler legendas em outros países e quando estamos a falar de um filme com muito dialogo e que é rápido, o português era um entrave em termos de propagação.
O que estes prémios representam para ti em termos de carreira profissional? É um incentivo? Ajudam de que forma?
NR: O prémio acima de tudo é o reconhecimento que o filme tem alguma qualidade. Quando é selecionado para um festival à partida só esse facto indica que já houve uma escolha, porque há muitos trabalhos que concorrem e só uma parte é seleccionada. Os prémios são muito relativos, porque estamos a falar de um júri constituído por 3 ou 4 pessoas que podem gostar ou não do filme, ou apreciaram outros igualmente bons. No caso da “Vicky e o Sam” surpreendeu pelo número de galardões que arrecadou, no fundo conseguiu unanimidade em termos de gosto.
Achas que como jovem cineasta que o teu país não reconhece esse teu trabalho?
NR: Eu penso que reconhece, embora o meu trabalho se resuma a curtas-metragens. Penso que consegui ter uma visibilidade ao nível interno, não tanto quanto desejaria, obtive mais reconhecimento no exterior. Tive alguns prémios em termos nacionais que foram muito importantes, sinceramente esperava mais de Portugal. O que não quer dizer que no futuro as pessoas não possam reconhecer o meu trabalho de uma forma diferente. No nosso país um realizador de curtas-metragens é visto ainda com alguma desconfiança. A partir do momento em que surge uma longa-metragem, que vai para as salas de cinema, as pessoas aí sim, já podem avaliar melhor o realizador. Se bem que acho que o cineasta vê-se pelas suas curtas, se não fez um filme maior, é porque não teve meios, nem dinheiro para o fazer.
Então achas que devido as dificuldades inerentes em termos financeiros para poder produzir uma longa-metragem a única opção que vos resta para dar a conhecer o vosso trabalho é fazer pequenos filmes?
NR: Sim, normalmente os realizadores, salvo algumas excepções, devem começar pelas curtas-metragens. É um formato que permite o realizador com um orçamento mais reduzido, mas também num espaço de tempo menor, mostrar do que é capaz. A não ser que tenha dinheiro próprio, porque acho difícil que um produtor aposte em alguém sem ver algum dos seus trabalhos. Normalmente, as curtas-metragens são feitas com investimentos pessoais e depois vão para os festivais e são reconhecidos ou não.
Quais são os desafios de fazer uma curta-metragem?
NR: Os desafios de fazer um curta são idênticos de uma longa-metragem. A diferença reside nos custos, são menores e o tempo dispendido é menor. O desafio é a vontade de o fazer, porque apesar de tudo não fica de borla.
Não é mais difícil contar uma história em tão pouco tempo?
NR: Não necessariamente. É possível contar uma história em 30 segundos, é o caso da publicidade. O ritmo da narrativa, a montagem é que é diferente. Há filmes de 3 horas, porque precisam desse tempo para contar uma história, mas o tempo é sempre muito relativo no cinema.
Tens neste momento um novo projecto que é uma longa-metragem.
NR: Para já não posso adiantar muito, porque ainda estou a escreve-la, esta na fase de argumento, vai ser produzido no final do ano e início do próximo. Espero que seja o mais breve possível, mas é um processo longo.
Mas, vai ser rodado em Portugal?
NR: Ainda não sei, depende de muita coisa. Neste caso não sei, mas quem sabe?
Agora falando de cinema num âmbito mais geral, como é que vês na actualidade o cinema português?
NR: O cinema português, e estou a falar num passado recente, tem melhorado, no sentido de se aproximar mais do público. A prova disso é que no ano de 2012 foi o mais visto nas salas de cinema ultrapassando os blockbuster americanos, o que é um bom prenúncio, isso quer dizer que o publico nacional aceita melhor os filmes, quer sejam mais comerciais ou menos comerciais, isso aqui não interessa. O importante é que o cinema foi feito para uma audiência e para levar as pessoas ao cinema. E se aos poucos formos fazendo as pazes com o público, acredito que dentro de poucos anos, o cinema nacional será muito mais visto que o que vêm de exterior. Seria uma grande vitória.
Como jovem cineasta defendes que deve haver um Estado que comparticipa no financiamento de filmes, ou achas que o seu papel é irrelevante nesta matéria?
NR: É irrelevante, acho que o Estado nestes últimos anos, investiu mal no cinema. Mal em termos gerais, com algumas excepções. Estamos a falar de filmes com orçamentos consideráveis, meio milhão de euros, que iam para as salas de cinema e tinham 100 a 200 espectadores, há casos assim e ninguém ouviu falar deles. A maior parte dos projectos que eram financiados até haver este corte por parte do governo, eram filmes que ninguém conhecia, que não eram feitos para o público, eram realizados para agradar simplesmente o seu criador. Eu não posso aceitar isso, porque sou um cineasta que vê o filme como algo para um público e não para uma pessoa que o faz para si própria. Deve mudar alguma coisam na forma como os subsídios são distribuídos para se ter uma realidade diferente da que tem sido até agora.
Mas, não achas que esse preconceito por parte do público acontece porque muitos desses filmes não são promovidos de forma adequada?
NR: Essa é uma das razões, porque eu costumo perguntar na produtora, quando fazemos workshops de realização, quais são as fases da produção de um filme e a ideia que se tem em Portugal é que só existem 3, a pré-produção, a produção e a pós-produção. O filme está feito com o ultimo corte da edição e esquecessem-se que precisam de uma quarta, que é promoção. Uma grande fatia do orçamento tem de ser e deve ser utilizada para esse fim, porque se assim não for ninguém vai ver, se o filme não for promovido como é que alguém vai saber que ele existe? Só se de facto não houver esse interesse, porque o que conta é faze-lo, ganhar o dinheiro e pronto. É um processo egoísta quer da parte dos produtores e realizadores que tem acontecido até hoje ao ponto de não se querer saber do público para nada e não pode ser.
Há cineastas que não sabem pura e simplesmente como promover os filmes, também não será um dos motivos?
NR: Também poderá ser por alguma ignorância, por não se interessarem. Mas, há produtores e realizadores em Portugal que sabem que é importante e fazem-no junto das televisões e das restantes entidades e bem. Ao nível internacional também não acontece, o filme é promovido em Portugal e não vai além-fronteiras. É complicado perceber como tudo funciona, porque não há regras, não há nada, tudo funciona ao acaso. É difícil comentar isso, eu faço as coisas a minha maneira, a promoção é importante para mim.