Houve alguma evolução do teu personagem desde o primeiro até o segundo?
JP: Do primeiro para o segundo houve uma ligeira tentativa que o personagem parece-se mais sólido e ao mesmo tempo mais destacado. No balas 1 o personagem Bino tem uma ou duas falas e começamos a achar uma certa piada que a personagem fosse tão ausente de todo que nem falava e o engraçado estava aí. No regresso, optamos por tirar qualquer tipo de discurso, além do IO característico. No terceiro, é o personagem que menos evolução tem, porque o conteúdo do personagem é esse. Não haver nenhum tipo de evolução. É do tipo de pessoa que está ausente de tudo, e ninguém percebe porque ele anda ali no meio. Acho que ele representa um sentimento da população portuguesa, de ausência, de inadaptação. Voltando à evolução do personagem, foi de propósito este não crescimento.
Foi necessária uma preparação física exigente? Para passar esse tipo de ausência para o ecrã não basta estar parado.
JP: Sim, penso que sim. Porque seria muito mais fácil como actor amador que me considero, usar a palavra, porque podemos usar a nuance da palavras para transmitir sentimentos. Eu vejo isso em muitos filmes e no teatro. A parte física é mais difícil, porque não é tão explorada e tão óbvia, embora não tenha termo de comparação. Ainda a pouco tempo, estivemos a filmar duas cenas que demoraram algum tempo, porque era necessário que eu tivesse uma determinada expressão, num determinado local e isso exigiu muito. E se o tivesse que dizer, basta gravar duas ou três vezes e aproveitava-se a melhor fala.
Como pessoa que vês cinema, como percepcionas o cinema português? Há público para o cinema português? O “balas e bolinhos” é um caso isolado.
JP: Penso que este caso isolado, não é do acaso que aparece. É fruto do empenho que pusemos no projecto e que se reflecte no filme. Eu acredito que se houvesse mais gente a fazer o mesmo que nós, iriam ter o mesmo sucesso ou mais, porque é uma questão de trabalhar. Nós batalhamos muito por este projecto, mesmo que não seja hoje poderá ser amanhã e vamos conseguir, como aconteceu. Em relação ao cinema português, eu penso que há muito coisa boa e muito má. O problema são as distribuidoras e as salas, elas passam o que querem. Se eu tiver 40 salas a passarem o meu filme se calhar vai ser um sucesso, não sei. Se ninguém o fizer, ninguém o sabe.
Mas agora temos a internet que é um meio mais democrático que permite a divulgação de trabalhos.
JP: Sim, tu vês no youtube alguns vídeos com frequência e não sei se podemos chamar-lhes de filme. Numa abordagem filosófica é um pequeno apontamento da realidade, a criança que bateu em outra na escola, sob o ponto de vista conceptual. Mas, partindo do pressuposto que são pequenos filmes, nós podemos transmiti-los de uma forma democrática. Contudo, são pedaços, não é o trabalho de contar uma história e isso seria um filme, no âmbito mais clássico. Montar uma obra. É um pedaço da realidade que é retratado de uma forma mais artística ou menos. Agora isso exige trabalho e acredito que como nós, se escreverem um argumento e não estarem à espera de um subsídio, se foram à luta se calhar pode não ser tão difícil quanto pensam. Agora, não podemos é ficar sentados no sofá a clicar o próximo vídeo.