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Um actor nada ausente

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João Pires é conhecido do público pelo personagem Bino, um dos integrantes do quarteto de malucos do “balas e bolinhos”. Considera-se um actor amador, mas é geógrafo de profissão. Vive fora de Portugal, mas veio de licença sabática para gravar a terceira saga final.

Quais foram os desafios que encontrastes para a tua personagem desde o balas 1?

João Pires: Bem, já foi a uns anos.

Foram sete.

JP: Não isso foi o segundo. O primeiro foi em 2000. Eu fazia teatro amador com o Jorge Neto, o rato do filme. Participávamos em dois grupos que eram comuns e além disso éramos vizinhos desde a infância. Valongo é um meio pequeno e assim facilmente conheci o Duarte e o Ismael. Bem, o Duarte fazia parte de uma associação que eu não frequentava com assiduidade, mas ia de vez em quando. E o filme quando foi escrito foi idealizado para estes quatro personagens. Eles, o Ismael e o Jorge lembraram-se de mim e os moldes do filme foram sendo adaptados tendo em conta que seria eu a encarna-lo.

Eles deram-te algumas ideias sobre este personagem para o primeiro filme?

JP: A primeira vez que falamos sobre o assunto, foi logo do inicio, não tínhamos a noção que seria um filme, havia a ideia de uma curta-metragem, mas íamos fazer qualquer coisa. E então juntamo-nos os quatro, o Ismael sempre como mentor do projecto, fomos ajustando as coisas e decidimos avançar. No primeiro encontro que fizemos para o primeiro filme, foi um dos ensaios para uma das cenas, em que entrava como Bino, fizemo-lo numas escadas de um acesso a uma sala de teatro. E foi um primeiro ensaio. Ia a subir para tentar encarnar uma personagem que é uma pessoa completamente fora da realidade, seja porque é maluco, ou toxicodependente, o filme nunca explica muito bem o porque. Nessa primeira abordagem, eu estava a tentar criar um andar muito esquisito e nesse primeiro encontro tentamos visualizar algo que seria gravado mais para frente. Depois foi crescendo e sempre com uma perspectiva de solidariedade entre todos. Não havia dinheiro. Gravava-se quando se podia. Uns porque não podiam esse fim-de-semana, filmava-se a seguir e no fundo não era uma prioridade, mas que aos poucos foi ganhando espaço nas nossas vidas.

Quando sentistes que o teu personagem era reconhecido pelo público, que havia muitas pessoas que já o tinham visto? Foi no Fantasporto?

JP: No Fantasporto teve impacto. Considero que o período da minha vida onde senti mais isso foi na faculdade de letras, notei que havia muita gente a olhar para mim e senti-me observado. E pensei, mas o que se passa aqui? E ainda hoje não estou habituado. Nem tenho muito a noção do impacto que teve. Agora é lógico temos mais experiência e uma melhor concepção, mas na altura era, como as pessoas sabem quem eu sou?

Houve alguma evolução do teu personagem desde o primeiro até o segundo?

JP: Do primeiro para o segundo houve uma ligeira tentativa que o personagem parece-se mais sólido e ao mesmo tempo mais destacado. No balas 1 o personagem Bino tem uma ou duas falas e começamos a achar uma certa piada que a personagem fosse tão ausente de todo que nem falava e o engraçado estava aí. No regresso, optamos por tirar qualquer tipo de discurso, além do IO característico. No terceiro, é o personagem que menos evolução tem, porque o conteúdo do personagem é esse. Não haver nenhum tipo de evolução. É do tipo de pessoa que está ausente de tudo, e ninguém percebe porque ele anda ali no meio. Acho que ele representa um sentimento da população portuguesa, de ausência, de inadaptação. Voltando à evolução do personagem, foi de propósito este não crescimento.

Foi necessária uma preparação física exigente? Para passar esse tipo de ausência para o ecrã não basta estar parado.

JP: Sim, penso que sim. Porque seria muito mais fácil como actor amador que me considero, usar a palavra, porque podemos usar a nuance da palavras para transmitir sentimentos. Eu vejo isso em muitos filmes e no teatro. A parte física é mais difícil, porque não é tão explorada e tão óbvia, embora não tenha termo de comparação. Ainda a pouco tempo, estivemos a filmar duas cenas que demoraram algum tempo, porque era necessário que eu tivesse uma determinada expressão, num determinado local e isso exigiu muito. E se o tivesse que dizer, basta gravar duas ou três vezes e aproveitava-se a melhor fala.

Como pessoa que vês cinema, como percepcionas o cinema português? Há público para o cinema português? O “balas e bolinhos” é um caso isolado.

JP: Penso que este caso isolado, não é do acaso que aparece. É fruto do empenho que pusemos no projecto e que se reflecte no filme. Eu acredito que se houvesse mais gente a fazer o mesmo que nós, iriam ter o mesmo sucesso ou mais, porque é uma questão de trabalhar. Nós batalhamos muito por este projecto, mesmo que não seja hoje poderá ser amanhã e vamos conseguir, como aconteceu. Em relação ao cinema português, eu penso que há muito coisa boa e muito má. O problema são as distribuidoras e as salas, elas passam o que querem. Se eu tiver 40 salas a passarem o meu filme se calhar vai ser um sucesso, não sei. Se ninguém o fizer, ninguém o sabe.

Mas agora temos a internet que é um meio mais democrático que permite a divulgação de trabalhos.

JP: Sim, tu vês no youtube alguns vídeos com frequência e não sei se podemos chamar-lhes de filme. Numa abordagem filosófica é um pequeno apontamento da realidade, a criança que bateu em outra na escola, sob o ponto de vista conceptual. Mas, partindo do pressuposto que são pequenos filmes, nós podemos transmiti-los de uma forma democrática. Contudo, são pedaços, não é o trabalho de contar uma história e isso seria um filme, no âmbito mais clássico. Montar uma obra. É um pedaço da realidade que é retratado de uma forma mais artística ou menos. Agora isso exige trabalho e acredito que como nós, se escreverem um argumento e não estarem à espera de um subsídio, se foram à luta se calhar pode não ser tão difícil quanto pensam. Agora, não podemos é ficar sentados no sofá a clicar o próximo vídeo.

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