Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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Conta-me como foi

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Trata-se de um dos maiores êxitos da televisão portuguesa dos últimos tempos. Uma série que descreve um Portugal oprimido pela ditadura de Salazar.

É sem sombra de dúvida a minha série de televisão preferida. E vou claro, dizer porquê. Retrata de forma exímia uma era, um país que desconhecia por completo, ou seja, um Portugal sob a égide de uma ditadura, através do olhar de uma criança. Sou de uma geração que não conheceu, felizmente, qualquer tipo de opressão política, sempre vivi em democracias e fui com verdadeira curiosidade que comecei a ver um país que desconhecia por completo. A família Lopes é o protótipo de qualquer agregado familiar, ou remediado como eles próprios se intitulam e bem, da classe média portuguesa do final dos anos 60. E nós somos os vouyers privilegiados de um tempo dominado pelo medo. Tudo nesta série de ficção é de uma qualidade superior, apesar de se tratar de um conteúdo televisivo adaptado de um original espanhol, não houve, felizmente, um copy paste. Pelo contrário, “conta-me como foi” têm uma dinâmica própria, com um argumento consistente, um cenário cuidado, fruto de uma pesquisa extensa sobre a época.

O trabalho dos actores é outra das suas mais valias. Devo dizer que todo o elenco e maravilhoso. O trabalho de caracterização da Rita Blanco, a matriarca da família Lopes, é um portento. Ela é a génese das mães portuguesas, modesta, muito galinha, terna e ao mesmo tempo lutadora. O Miguel Guilherme, o pai Lopes, dispensa palavras, conheço o trabalho deste actor, nos palcos, no cinema e na televisão, e há algo que ele simplesmente não sabe fazer, é faze-lo mal. A avô, retratada pela excelente actriz, Catarina Avelar, é simplesmente maravilhosa. Quanto a Rita Blutt e o Fernando Pires, respectivamente a Isabel e o Toni, as suas estreias televisivas não poderiam ter sido mais auspiciosas. O Luís Gamito, o Carlos e narrador já na idade adulta destra história, é a jóia da coroa de um grupo de actores magníficos. E os adjectivos são poucos, acreditem. O elenco de suporte também não fica em nada atrás, são actores de primeira água.

Outro dos pontos altos deste programa de ficção é a forma como a dinâmica da família Lopes acompanha a evolução histórica do nosso país, das suas convulsões sociais, económicas e políticas. O mesmo espanto e incompreensão infantil do Carlos perante a ditadura é quase o mesmo para nós, felizmente graças ao 25 de Abril de 1974, nunca vivemos esse período. Assistimos também ao nascimento da televisão pública em Portugal, a preto e branco, e como a caixa que mudou o mundo, também passa a mudar os hábitos dos portugueses. A música têm também um papel não menos fundamental nesta série. Ouvimos, ao longo de cada episódio, os maiores êxitos que marcaram o cenário musical da altura. Ironicamente, também se nota a falta de alguns dos grupos que marcaram a história da música mundial, o caso dos Beatles, precisamente porque a nação estava fechada ao mundo.

Creio que esta série e a sua homóloga espanhola que granja igual sucesso no país vizinho, deviam ser alvo de um estudo sociológico para explicar o porque de um sucesso tão retumbante. Nostalgia de uma era? Ou simples curiosidade do público? Veja e decida.

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