Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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A cidade submersa

Escrito por 

É uma cidade emergente pela mistura do antigo com o moderno. Do velho com o novo. É Aveiro, renovada e airosa.

Naquele dia em que desci do comboio para a plataforma soprava um suave vento pela estreita e vestuta entrada da estação, peguei na mochila e sai contrariando a brisa teimosa, nada mais chegada quase morri de decepção. Esperava-me uma rua igual às outras. Onde estava a magia de corredores de água que circundam a cidade? Indaguei. Menina, não é aqui, siga o seu nariz. Vai sentir na sua pele a maresia salgada. Assim fiz. Passado pouco tempo lá estava como que a minha espera a ria calcorreando os edifícios. A luz da manhã insistia em cegar-me com a sua alvura perfurante. O sol lançava raios que eram entre-cortados pela incessante passagem dos barcos moliceiros, que em vez de sal trazem consigo turistas e curiosos. Eu faço o mesmo. Entro nessa embarcação aparentemente estreita e muito colorida, tão frágil que parece que se vai partir em mil pedaços. Sento-me e deixo que me guiem. A Veneza do sul chamam-lhe. Talvez. A mim parece-me muito mais airosa e menos mal cheirosa. A nossa viagem começa devagarinho ao som ininterrupto do motor que galga ria acima em direcção a laguna com os seus socalcos artificiais alagados prontos para a secagem que irá transformar-se em sal. A brisa aos poucos transforma-se num ventania mais fria e refrescante. Estamos mais próximo do mar. A nossa presença perturba várias aves que levantam voo num grande alvoroço.

É hora de voltar. Mais me espera ainda. No retorno á terra, tempo de usar um outro meio de transporte, mais de acordo com esta cidade sem sobressaltos. A bicicleta. Existem muitas a nossa disposição. O dia está tão lindo. Impulsiono as rodas que vão mostrando um roteiro pré-definido que mentalmente me havia imposto na véspera. Na praceta dezenas de faces coloridas saúdam-me. São várias numa só, mesmo em frente o teatro aveirense e à Câmara Municipal. Sigo pela calçada e avisto edifícios ricamente decorados. Parecem inspirados em arte déco. Nos espaços deixados em branco sobressaem azulejos com diagramas complexos que agraciam as paredes centenárias. Volto a pedalar até o Milenário. É como um duelo arquitectónico, de um lado, a Sé Catedral, do outro o convento de Jesus. Qual o mais belo e imponente? Fica ao vosso critério.

Ao princípio Aveiro parece igual as outras, mas não é. O antigo mistura-se com o novo. Eis-me na universidade. Ao pólo que fará de mim uma doutora. Cheguei a um mundo novo. Onde a imaginação só tem limites impostos apenas pelo raciocínio implacável. É uma das instituições de ensino mais avançadas do país em termos de novas tecnologias. É por isso que aqui estou á procura do futuro em forma de canudo. A inovação paira no ar. Dirijo-me a secretaria central para preencher os formulários que farão de mim uma aprendiz. A fila é densa. Não faz mal, tenho todo o tempo do mundo. Agora sou adulta. Sinto um aperto no estômago. Para trás deixei o meu conforto, o meu nicho, o colo da minha mãe. Chega, que tristezas não pagam dividas. Olho em volta, vejo espelhos do meu rosto ansioso e ao mesmo tempo confiante, como imaginei, o futuro é agora. 

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