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Vou para casa

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Um filme do incontornável Manuel de Oliveira sobre a idade maior. Uma visão pessoal sobre a vida de um actor no final de carreira, com a prestação do magnífico  Michel Piccoli.

Falar de “vou para casa” é falar do cinema muito pessoal de Manuel de Oliveira. Este filme narra a história de um actor numa fase descendente da sua vida. É o percurso do homem que perdeu quase tudo, o filho, a família, alguns amigos, a quem nada mais resta senão o neto. É a sua esperança, sua tábua de salvação e é a ele que se agarra para não mais se perder na sua dor.  Escolho este filme porque traça a história de um homem que se apercebe das suas fragilidades fruto do tempo e nem assim se dá por vencido. Não é um filme fácil eu sei. Já estão a pensar, mais uma seca do Manuel de Oliveira. Pois é. Para acabar de uma vez por todas com essa típica frase associada ao centenário homem, eu vou fazer minhas as palavras do meu professor de televisão, de sobrenome também curiosamente, Oliveira que explicou numa aula de forma simples a genialidade do cineasta e creio que muitos já o devem saber.

Manuel de Oliveira usa apenas uma câmara por sequência de cena. Vou passar a explicar e a culpa é dos americanos. Vejamos o caso de Steven Spielberg, este cineasta o que faz? Coloca várias câmaras nos pontos mais impossíveis e inimagináveis para filmar uma única cena. Depois, todos aqueles pequenos segmentos são montados numa única cena que resulta na tal perseguição infernal que nós tanto gostamos e a uma velocidade alucinante, porque a ideia de rapidez resulta desses vários pontos que foram previamente filmados, cortados e colados. Que faz o nosso cineasta mais incompreendido? Para a mesma cena, coloca uma única câmara e são os actores que interagem entre si, num único espaço, perante a lente. O resultado é uma sequência que parece lenta porque estamos já habituados a velocidade imprimida pelo senhor Spielberg e os seus congéneres.

E se o tempo parece que não passa nos filmes de Oliveira, recordemos o nosso próprio quotidiano. Se eu filmar todas as acções do meu dia, com uma câmara, sem cortar qual é o resultado final? Não é um Oliveira com certeza! Mas, também não é uma obra-prima alucinante. E esse é outro lado do génio de Oliveira, ele obriga-nos a ter a noção do tempo. O tempo passa como tem de passar, devagar e certo. E recordo sobre este tema, do tempo que passa, um livro de Umberto Eco, “ o nome da rosa”. É a história de um monge franciscano muito especial, que tenta descobrir o autor de uma série de mortes num mosteiro, mas onde se pode estabelecer a analogia com Oliveira? Em termos de noção temporal, o autor, descreve por capítulo apenas uma parte do dia do quotidiano dos frades, porque como ele próprio refere no prefacio, na idade média o tempo era medido pelo nascer e pôr-do-sol. Tinham um sentido de urgência menor. Vivia-se mais. Agora nos nossos dias, corre-se mais contra o tempo. Percebem, agora o Manuel de Oliveira? Os seus filmes quaisquer que sejam são para serem saboreados como um bom vinho. Calmamente e sem pressa. Exorto-vos a redescobrirem o cineasta, só que desta feita sem o comando na mão e sem levantar-se da cadeira. Vão ver que vão gostar. Bom cinema!

http://filmesportugueses.com/vou-para-casa/

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