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O detective da piada

Escrito por  yvette vieira fts Bárbara Fernandes

Salvador Martinha é um dos nomes emergentes da comédia em Portugal. É um comediante de stand up comedy que fala do seu dia-a-dia e das coisas que o irritam num espectáculo que tem na ponta da língua em tournée por todo o país.

O que tens na ponta da língua Salvador Martinha?
Salvador Martinha: Tenho na ponta da língua acima de tudo brisa maracujá, tenho uma espetada magnífica e este espectáculo.

Trata-se de um espectáculo de improvisação?
SM: Não, não. Há um conjunto de histórias e de ideias pré-definidas que tenho para a plateia e depois existe uma forte componente de improviso.

Diz-me como é que escolhes os temas, para além de serem da actualidade?
SM: Os temas são coisas acima de tudo que me irritam.

Tais como?
SM: Coisas, como por exemplo, a mania dos festivais de verão que toda a gente gosta e eu falo sobre isso, ou as calças que não me servem, porque como sou gordinho não consigo caber nelas.

Então não há temas tabus no teu tipo de humor?
SM: Só falo das coisas que quero.

Há profissionais que não gostam de abordar doenças, o chamado humor negro, fazer piadas, por exemplo, sobre pessoas com cancro. Por isso pergunto se no teu espectáculo de stand-up comedy evitas certos assuntos precisamente para não ferir susceptibilidades no público?
SM: Eu não penso dessa forma, eu não me limito desta, ou daquela maneira temendo as consequências, eu falo do que realmente gosto. Agora, o meu humor é de observação clean, eu não tenho grandes piadas sobre doenças, falo mais de coisas do dia-a-dia.

Então como preparas um espectáculo? Tu escreves os textos e depois como decorre o teu processo criativo? O Mark Twain dizia que para fazer um discurso de improvisação demorava três horas.
SM: Se vieres ao espectáculo o que vais sentir é que estou a contar histórias do agora, mas eu já trabalhei este repertório horas, horas e horas. Já o encenei em frente ao espelho, há um trabalho forte de escrita e de memorização e antes disto, respondendo à tua pergunta, todas as ideias que me surgem e que me irritam vou apontando. Imagina, numa ida ao supermercado o que me irrita? Escolho um carrinho e esta torto, volto para atrás e escolho outro, depois vou escolher cereais, chocapic, depois vejo pessoas a olhar para mim como se fosse um tipo anormal e é assim, vou anotando estas ideias e desenvolvendo-as.

Existem diferenças em termos do público? Tu andas em tournée com este espectáculo já há algum tempo. Notas que determinadas piadas funcionam melhor com o um determinado público que noutro em outra cidade ou localidade?
SM: Não, porque tenho sentido em todos os espectáculos que tenho feito que o público é mais ou menos semelhante. É uma audiência jovem, inteligente e com bom sentido de humor, que esta identificado um bocadinho com os temas de que falo. Sinto que é um público cada vez mais parecido, porque é uma audiência que já me acompanha.

Tu trabalhas em vários meios de comunicação social, estas na rádio, na televisão e em tournée. Qual é o meio onde te sentes mais à vontade?
SM: Eu sinto-me mais à vontade nos sítios em que há um maior número de pessoas a minha volta.

Ou seja em palco?
SM: Em todos os sítios onde estejam as pessoas com quem gosto de trabalhar, estou à vontade e o palco é um deles. O público vêm para me ver à partida e todas as pessoas que estiverem cá, eu vou gostar delas, porque pagaram um bilhete para ver.

Não te sentes também intimidado, porque tens de agradar uma larga maioria?
SM: Sim, claro, mas fui-me habituando a essa intimidação e faço disso algo fixe.

E qual é o meio onde sentes que obtens menos feedback? É na televisão, por exemplo?
SM: Sim, não tens um feeback imediato, em palco é o contrário, notas logo se estão a gostar ou não. Eu acho que onde há mais alegria é no palco.

E quando estas em palco e tens uma piada que não resulta, o que fazes nestas situações? Dás a volta ou continuas como se nada fosse?
SM: Partes para a próxima. Por vezes esqueces-te de fazer a introdução para uma piada porque sem isso não dá, ou dizes mal uma palavra e acabas por ser um detective de piada. Se o público não se identifica com a piada, regra geral tens sempre uma a seguir. Portanto, o que fazes quando vás para um sítio e perdeste a saída na estrada? Procuras a próxima saída, tens sempre que ter uma próxima. As piadas são como uma placa, sair por aqui! (risos)

E em relação ao público, como defines o público português no geral? Como é que eles tem vêem?
SM: São duas perguntas, acho que o público português esta cada vez melhor. Tem um longo percurso.

Temos pouco sentido de humor?
SM: Temos que desenvolvê-lo. Já o tem, porque o sentido de humor não é algo inato, num país o humor tem de ser desenvolvido e acho que esta a melhorar. Quanto mais comediantes existem, mais espectáculos com diferente sentido de humor existem, há mais espectadores de comédia, o que significa mais programas televisivos de comédia e o país vai evoluíndo. Os EUA ao nível do humor é uma nação muito evoluída, tem muita cultura do humor, se eu estivesse na América se calhar cada pessoa que viesse ao espectáculo já teria ido ver 3 stand-ups. O que acontece aqui? A maioria de espectadores vão ver pela primeira vez um show deste genéro, ou pelo menos metade. Não é algo negativo, é positivo, é um caminho que estámos a percorrer.

Tinhas alguma referência em termos de humoristas quando começaste?
SM: Tinha, até tenho vergonha de dizer porque é o que toda a gente tem, é o Herman José e como sou um bocadinho mais novo, os “gatos fedorentos” são uma outra referência, estava muito identificado com eles. Lá fora, gosto do Seinfeld e os Simpsons.

E agora que estas neste ponto da tua carreira como humorista, qual é o teu próximo salto?
SM: Tenho vários sonhos. Gostava de fazer uma série de humor baseado na minha vida. Gostava de fazer também um filme de comédia e tenho assim alguns projectos.

Gostavas de fazer uma série sobre a tua vida porquê?
SM: Porque é como o stand-up, no espectáculo eu falo sobre a minha vida e ainda não fiz nada em televisão que aborde esse aspecto de uma forma tão intima. Gostava de passar essa linguagem para a televisão.

E achas que o público esta preparado para algo desse género?
SM: Não sei, vamos ver. É um risco, é ir experimentar.

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