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A arte em geral

Escrito por  yvette vieira fts Barbara Fernandes

 

É um ensaio sobre a arte que pretende desconstruir e de certa forma desmistificar este conceito para o público em geral. Trata-se da segunda obra do autor Jorge Baptista de Figueiredo.

Porquê decidiste escrever um ensaio sobre a arte em geral? O que te atraiu neste tema?
Jorge Baptista de Figueiredo: A genése do livro "a arte em geral" foi escrita em simultâneo com o livro de poesia "opus1". Portanto, para descomprimir da poesia dediquei-me à prosa e nada melhor do que uma temática sobre a arte. Desenvolvi uma série de textos que visavam sobretudo descomplicar este assunto e abordar de um diferente prisma o tema complicado que é arte fazendo-a até um certo ponto descer à terra e torná-la inteligível quer para mim, quer para o resultado final que são os leitores.

Um dos factos curiosos sobre este livro é a forma em que foi escrito, que não é casual. Fala-me um pouco sobre esse processo.
JBF: Este livro tem uma dupla função, que é a temática propriamente dita que é a arte e outra é instrutiva para mim em termos de forma, que é o ensaio. É uma prosa à la Saramago, sem paragráfos, foi uma intensa aprendizagem para mim nesse aspecto. Procurei aprender esse estilo, mas também adquiri bases para futuramente poder escrever desta forma e já me sinto muito mais à vontade. Os capítulos são feitos num fôlego, em que procurei que os textos tivessem um deslocamento, ou seja, substância em termos de vocabulário para não ser muito superficial, mas sem perder a leveza e o caracter que queria no livro.

Um dos primeiros capítulos abordas o entretenimento, aliás dizes uma coisa curiosa, que a " arte respira reciprocidade por todos os poros e isso inclui o entretenimento". Isso não é uma incongruência?
JBF: O entretenimento faz parte da arte, embora seja a sua parte mais períferica. Agora para ser ter percepções mais profundas de camadas de arte é preciso ir além do entretenimento, entrámos aí na parte mais imaterial, com mais substância, que poderá fazer reflectir. Quando deixámos a parte do entretenimento passámos para a parte mais existencialista, que o capítulo de facto aborda.

Outro dos pontos que focas é a definição de artista, que afirmas ser "o grau de personalização do seu trabalho podendo o seu traço surgir sem reservas", mas mais à frente referes que a produção artística advém de estéticas, trilogias, ou revoluções, ou ainda correntes estéticas, então o artista não é o verdadeiro criador absoluto?
JBF: É uma boa questão. Vamos dividi-la em três partes, a primeira é que as obras de arte no passado e que foram relevantes eram contemporâneas do mesmo, ou seja, o presente era precisamente aquele tipo de abordagem artística. Uma obra preponderante era no passado contemporâneo, sendo isto factor relevante nesse tempo em questão. A segunda questão, a personalização do artista é a sua mais-valia, o que o faz diferenciar de todo o resto, quanto mais for personalizado for, existe uma maior identificação desse mesmo artista e consequentemente irá emergir o seu traço, é o seu cunho pessoal e por sua vez é a sua emancipação. O ponto três que o livro foca é o processo binómio entre expansão e especialização, que aborda precisamente a contemporaneidade dos nossos tempos, em toda a gente pode fazer arte, basta ir até a loja da esquina comprar um set de DJ, ou cores e marcadores, os meios de fazer arte estão ao dispôr de toda a gente, isso é reflexo da expansão. Agora para fazer arte é preciso uma especialização, apesar de todos os meios, esta fase é tão importante como a anterior, mas também é a compreensão da teoria e da práctica, só assim se tem um trabalho sério e relevante na arte.

 

 

Então um artista sério para ti tem de reunir essas 3 condições?
JBF: Estes pontos sintetizam e muito o que deve ser um artista de corpo inteiro, nos nossos dias.

Mas, nem todos conseguem atingir esse patamar, sendo assim, só os génios conseguem faze-lo?
JBF: O génio antigamente trabalhava na períferia, era aquele indíviduo, contudo, é necessário referir que é 90% de trabalho e o restante de genialidade. O segundo aspecto é que a pedagogia não trabalha na períferia da formação do hipotético génio, mas esta no cerne para formar e espicaçar o aluno, ou determinado artista, conforme as suas apetências, sendo que esse processo é uma obra de arte, esse descoberta interior, a viagem em que não interessa a chegada, mas sobretudo o trajecto.

Ainda sobre este tema, abordaste as obras-primas, e dizes " que uma obra-prima de arte tem de ser entendida no seu tempo", se assim não for acaba por ser amorfa?
JBF: Não, uma obra-prima não tem necessariamente ser entendida no seu tempo, aliás, a história esta cheia de exemplos em que são entendidas à posteriori. Eu entendo que uma obra-prima vibra, não é amorfa, vive de equilíbrio, de substância e informação, é algo que faz saltar os sentidos e os sentimentos. É a personalização da visão do artista conjuntamente com o equilíbrio da utilização das ferramentas e o saber passar a mensagem. Há um conjunto de factores que transformam uma peça numa obra-prima, que é sobretudo, uma obra epistemológica, é revolucionária, mas não no sentido em que se esteja à espera que assim seja, traz-nos sim algo de diferente, recentemente descoberto, é a aerodinâmica da arte.

Então se muitas vezes uma obra-prima é reconhecida fora do seu tempo, deixa de ser revolucionária?
JBF: Não deixa de ser revolucionária. O que acontece é um fenônemo sociológico, puro e só. A obra já lá esta, mas no seu tempo se existe ou não capacidade interpretativa e entendimento, isso é outra questão. Podemos ter uma obra que em determinado meio não é legível e se calhar noutro seria entendida. Um quadro de arte abstracta poderá ser legitimamente apreciado em Nova Iorque e o mesmo não acontece em outras zonas que não vale a pena mencionar. Depende também muito do quadro evolutivo da comunidade em questão.

Falas também de obras que geram repulsa, essas também não podem ser consideradas obras-primas, uma vez que, provocam uma reacção no público que as vê?
JBF: Muitas vezes as obras-primas são confundidas com manobras de excêntricidade, que são formas de chamar à atenção, como acontece muitas vezes no mundo da música, por exemplo, como no caso dos pussy riots, que obedece a uma estética punk, de finais do século XX. Trata-se de um revivalismo e que no seu meio em particular tem como função alertar as pessoas para uma temática, os artistas optaram pelo choque, onde existe toda uma conjuntura social em que esse tipo de comportamento é usado como forma de expressão artística, é uma forma como outra qualquer dependendo do enquadramento.

Num outro capítulo falas de poesia e referes "que é energia positiva que despoleta o melhor que há em nós" e quando é depressiva?
JBF: A poesia continua a despoletar o melhor que há em nós, mesmo que hipoteticamente depressiva, ou quando descontrói, sendo que o melhor que há em nós só surge depois quando estamos descascados, quando retirámos hipoteticamente essa área mais sombria, sentimó-nos mais despidos, mas capazes de olhar para a luz. A poesia demonstra o que existe do melhor que há em nós, após um processo de descontrução e também porque não, o seu lado mais sombrio.

Há um capítulo dedicado a contenda da música clássica franco-alemã, qual é a importância deste tema tão específico no teu ensaio?
JBF: A minha formação é musical, continuo a ser músico, paralelamente à função de escritor e preocupam-me as temáticas relacionadas com esta área. O que nos leva a um raciocínio ligado à música e a arte em geral, neste caso a contenda franco-alemã é um tema que nunca tinha visto ser abordado, pelo menos que conheça. Entre os século XIX-XX, os alemães sempre foram mais austeros em termos de abordagem das artes sob todas as formas, desde a música, a pintura, etc. Os franceses sempre tiveram outra abordagem mais expansiva, que se encaixa na música, mas também em outras expressões artística europeias.

Falaste que a arte é uma faísca benigna dentro de nós, será?
JBF: Isto faz com que a arte desça dos píncaros, ou das prateleiras, como este livro. Deve ser de utilização diária e não algo que possa estar empoeirado em cima do naperon, portanto, a arte é uma ferramenta que nos permite ver com acutilância o real e interagir sobre dois aspectos, fazer com que todas as temáticas do dia-a-dia possam ser abrangidas pela ela e depois por mais insignificante que isso seja, ou seja, é preciso quebrar esta barreira de que a arte é puramente contemplativa e passar a ser uma práctica quotidiana e utilitária.

1 comentário

  • Ligação de comentário you could look here sexta, 25 julho 2014 22:55 postado por you could look here

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