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Quando os lobos uivam

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Uma das grandes obras-primas da literatura portuguesa. O retrato de um país interior, em pleno Estado Novo.

Quando os lobos uivam é um livro corajoso, tendo em consideração a época que abarca, a altura em que foi editado e o tipo de escrita despudorada do autor. É uma das minhas leituras preferidas, por descrever um país que nunca cheguei a conhecer, nem quero. Para que entendam, tenho que recuar no tempo, ao ano de 1958, em pleno Estado Novo. Esta aventura literária teve um custo muito alto para o escritor, Aquilino Ribeiro. A sua ousadia foi desafiar o regime através da escrita, o que teve como efeito imediato um mandato de captura em seu nome e que todos os livros fossem apreendidos. A censura surgiu de forma contundente e o escritor foi considerado persona non grata por Salazar. O resto do mundo, contudo, amava desmesuradamente o autor. O seu nome foi proposto para o prémio Nobel da literatura, numa candidatura onde constavam mais de uma centena de nomes ligados à cultura e figuras públicas portuguesas. Vamos então, a tal história que tanta celeuma levantou naquela época. Manuel de Louvadeus é um homem que retorna a sua terra natal, passados dez anos que se apagaram num sopro, Arcabuzais, na serra de Milhafres, a sua beira amada. Para atrás tinha deixado uma vida dura e empobrecida, com a promessa de fortuna na Meca brasileira. O homem que vai ao encontro das suas origens, não é o mesmo. Não traz riquezas, regressa mais rico como ser humano, mais culto, com outra visão do mundo que o rodeia. É um homem que se insurge contra as autoridades vigentes, em prol da defesa das populações injustiçadas pela nova lei dos terrenos baldios. Um novo enquadramento jurídico que prevê a expropriação desses terrenos comunitários para plantar pinheiros. Uma decisão que incendeia as populações serranas, que dessas terras dependem para sua sobrevivência quotidiana.  A revolta começa. O poder central, embora longe faz sentir a sua mão pesada aos insurrectos. O que é descrito a seguir retrata sem subterfúgios, sem nuances, o funcionamento do sistema político e judicial da época. É o retrato genial de um país analfabeto, empobrecido e censurado. O porquê dos lobos uivarem? Mais, uma vez, prefiro ser desmancha-prazeres! Para descobrirem a razão deste título, sinto muito, vão ter que ler. Boa leitura!

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