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Quem é o meu próximo?

Escrito por  yvette vieira fts Bárbara Fernandes

É um novo livro de Paulo Borges, o filósofo, ensaísta e escritor que propõe uma nova abordagem a ética e a compaixão.

Salientou que este seu novo livro continha vários textos importantes.
Paulo Borges: O meu livro propõe o repensar da ética, aborda uma ética não antropocêntrica, que o homem não se veja como dono e senhor do mundo. Para esse efeito eu procuro repensar a categoria bíblica do próximo, pertence ao antigo testamento, faz parte da tradição judaico-cristã, e que quase sempre tem sido entendida como o meu próximo ser outro ser humano, mas na verdade o que Cristo diz na parábola do bom samaritano é que o meu próximo é todo aquele de que formos capazes de nos aproximar, através do amor e da compaixão. E nesse sentido eu pergunto, porque nessa categoria não poderemos incluir os restantes seres vivos, os animais e até o planeta? A natureza como um todo que hoje estamos a destruir tanto. Portanto, eu penso que este alargamento da categoria do próximo é fundamental para termos uma consciência ecológica que nos permita resolver a crise ambiental em que nos encontrámos. Depois os textos que salientei, o manifesto pela cultura, no fundo, é um texto visa repensar o sentido de cultura, digo que ser culto não é necessariamente ter lido muitos livros, ter estudado muito e tirado muitos cursos, ser culto é ser sensível ao bem comum seja humanos, não-humanos, é ser uma pessoa com uma consciência e um coração abertos que pense mais em termos do seu interesse pessoal, ou do interesse dos grupos em que se identifica e pertence, mas que seja capaz de pensar nas coisas de uma forma mais global. Ser capaz de pensar no bem comum e da comunidade, dos seres vivos e do próprio planeta.

Abordou também a carta pela compaixão da Karen Armstrong.
PB: De facto o segundo texto que publico e ao qual dou importância é o apelo à compaixão universal. É uma tentativa de responder a uma carta que foi escrita em 2009, pela professora Karen Armstrong, que é carta pela compaixão. Essa missiva propõe que a compaixão seja um valor fundamental do ensino das sociedades e que seja cultivado nas nossas crianças. É um documento que esta a ter muito impacto e que esta a ser apoiada por muitos governos, mas ao lermos a carta reparámos que continua a referir-se aos seres humanos, eu com outros amigos, no âmbito do círculo “entre-ser”, uma associação que temos em termos ética e filosófica, escrevemos uma carta pela compaixão universal em que propomos que esse sentimento de empatia se estenda não só para o próximo, para o bem humanidade, mas que abranja os animais e o planeta como um todo. Temos conseguido o apoio de algumas figuras conhecidas, o Dalai Lama, o Satish Kumar, temos o do presidente do instituto macrobiótico de Portugal, Francisco Varatojo e dois escritores, Manuela Gonzaga e o Miguel Real e a Joyce d’ Silva, do instituto de compaixão para os animais.

A carta na sua essência pretende compaixão para quem?
PB: Para os seres humanos, os animais e o planeta. No fundo é uma série de pontos em que assumimos a consciência de que todos os seres vivos estão interconectados e comprometemos a viver de uma forma que não seja lesiva para ninguém, nem para os humanos, os não-humanos, ou o planeta e que depois as pessoas possam pôr em prática na sua vida.

Mas, essa carta ganha esta dimensão porque vivemos numa sociedade com falta de valores no geral.
PB: Acho que isso é evidente, as nossas sociedades não têm valores, nem referências fundamentais, sem isso há sempre grupos de pessoas em conflito e competição com os outros. Valores fundamentais de todas as culturas, religiões e tradições são o amor, a amizade, a solidariedade, o respeito, a compreensão e a compaixão, esses sentimentos lamentavelmente não são providos nem pelas famílias, nem pelas escolas onde se podem ensinar as crianças a ser mais compassivas com os próximos, ensinamo-las a competir, a desenvolver as suas capacidades cognitivas e intelectuais, mas não se ensina a inteligência emocional e no mundo do trabalho como todos nos sabemos é competição generalizada numa sociedade narcisista e materialista. Isso tem gerado um conjunto de problemas em que nos encontrámos e a ideia é que são necessárias mudanças em vários níveis económico, político e jurídico e temos de viver numa sociedade mais justa a todos os níveis. Mas, se nós próprios não formos pessoas mais justas e compassivas é muito difícil, mesmo que essas medidas existam, que sejam postas em prática serão violadas. O que defendo é que comecem uma nova espiritualidade laica, cada um pode continuar com a religião que tiver, podem ser pessoas que tomam consciência que é importante desenvolver valores como a compaixão, como a compreensão e estendê-la aos outros. Qualquer ser humano quer seja ateu ou agnóstico pode ser sensível a este tipo de valores, da importância da compaixão, não ser indiferente aos sofrimento dos outros, sejam humanos, ou animais e fazer algo por libertá-los dessa dor.

“Quem é o meu próximo” vem na sequência do trabalho desenvolvido pelo círculo “entre-ser”?
PB: É uma associação que define que existimos em interconexão com os outros, em termos de filosófica e ética.

Os livros é um dos seus componentes?
PB: O que fazemos é divulgar estes valores. Este livro serve como porta da associação “entre-ser”.

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