Vamos falar da colecção Hensel& Gretel que apresentastes para o Portugal Fashion. Porque escolhestes aquela paleta de cores e o tipo de linhas?
IC: Essa foi a minha colecção de finalista na minha faculdade. Depois eles seleccionaram alguns alunos para apresentar os seus coordenados numa plataforma para jovens, eu escolhi o conto, porque me inspiro muito vezes neste tipo de escrita e esse é um dos meus favoritos. Fui buscar muitas coisas as partes menos óbvias da história que é isso que gosto mais, por exemplo, o azul, o vermelho e branco, aliás, quase toda a colecção é nesses tons. As roupas que os irmãos usavam no conto original, são os trajes tradicionais da Alemanha. Há um vestido branco com riscas azuis e vermelhas que quis dividir, porque cada coordenado representa uma parte da história, o branco com renda representa a rapariga e o outro lado é o rapaz, inspirado numa camisa de homem, daí as riscas e ser todo mais recto. Uma outra peça é um vestido castanho que representa a casa dos doces, tem também um coordenado de calças beges que simboliza a parte em que o rapaz esta preso e a irmã dá o osso de galinha à bruxa para mostrar que ele estava magrinho. Eu quis marcar cada momento da história com um coordenado e torna-lo ao mesmo tempo desportivo e feminino.
Qual é o impacto de apresentar uma colecção no Portugal Fashion pelo menos para uma jovem designer como tu?
IC: É muito stressante, uma pessoa não pensa à partida, nem esta habituada aquele ritmo. Eu costumo ver desfiles, mas os bastidores são completamente diferentes, é tudo muito rápido. Não temos a noção da reacção lá fora, pensasse que é tudo muito calmo e controlado, mas não é bem assim. Para mim foi uma felicidade enorme, principalmente porque as peças que desenhei saíram iguais, desde os moldes à confecção, tudo o que imaginámos sai exactamente igual e isso é qualquer coisa de fantástico.
Em termos profissionais tiveste algum feedback?
IC: Do Portugal Fashion foi o lançamento porque tinha acabado a faculdade, mas sei que as pessoas que me conheciam gostaram muito e acharam que era a minha cara, é engraçado que consiga desenhar peças e que elas possam ser associadas a mim.
Outra das colecções que mostraste e é Elsker 82. Porquê esse nome?
IC : Essa colecção é engraçada porque é inspirada na bailarina e no soldadinho de chumbo e fui buscar o nome a um conto dinamarquês. A palavra quer dizer amor e o 82 é o número atómico do chumbo.
As peças tem uma forte componente de estampados, qual foi a inspiração?
IC: São 3 coordenados para mulher. Um dos requisitos do concurso era que fosse mais de 50% estampado e tínhamos uma empresa que nos ajudava muito nessa parte e gostei imenso porque foi a primeira vez que tive a oportunidade de trabalhar esta técnica e ver como é executada. Eu fui buscar elementos do conto para os desenhar. No macação consegue-se ver que são lantejoulas, a bailarina usa-os num xaile, então decidi fazer uma versão standartizada, depois tenho umas calças verdes com escamadas que representa o momento em que o soldadinho de chumbo vai parar a boca do peixe. As figuras dos soldado uso-as numa saia salmão e tem um blusão cinzento com um estampado mais gráfico, simboliza o momento em que as duas personagens são queimadas no forno e eu quis enfatizar isso. Eu fui buscar esses elementos da história para os estampados, é claro, que há alguns que não são assim tão evidentes, porque faço questão disso, obrigar as pessoas a pensar e quando é explicado o conceito aí tudo fazer sentido. Há muitas cores nessa colecção que foi buscar as fardas dos guardas no conto original, o azul, o branco e o vermelho e utilizo também os tons dos soldados portugueses, que é verde escuro. Os tons mais claros simbolizam a bailarina, ou seja, a ideia foi ligar duas coisas diferentes, mas que juntas fazem sentido.
Participaste num outro concurso que teve como temática "Namorar em Portugal".
IC: Participei três vezes, foi o meu primeiro concurso, em Braga, Vila Verde. Em 2010 foi um stress, nem sei como o ultrapassei, fiz um vestido sobre as mulheres fortes, de terem uma armadura e usarem o amor como um escudo, é uma peça de roupa muito estructurada e escura e não tão alusiva ao amor. Tem um colete feito todo manualmente e quase tive que voltar aos acessórios, porque tive que recortar os corações em várias cores e montá-los. Participei depois em 2011, fiz um coordenado para homem, foi inspirado na época mediaval, aí usei estampado, ele veste uma camisa rosa que parece que tem um colete, mas não é. Em 2012 idealizei um vestido inspirado nas bordadeiras mais antigas, por isso, é todo preto e branco que eram os tons que usavam na altura e tem uns calções de cintura alta todo bordado à mão por mim como os lenços dos namorados.
Então fala-me dos desafios para uma jovem designer em Portugal?
IC: É tentar procurar estabilidade na nossa própria marca. Não é um rumo certo, é sempre uma profissão muito instável, é tentar entrar em plataformas de maior projecção, como a moda lisboa, o portugal fashion. É um mundo complicado mesmo ao nível nacional e ir lá para fora ainda é mais difícil.
Então como comercializas as tuas peças?
IC: Comercializo tudo online, tenho uma página e no facebook. Vendo as peças que apresentei nos concursos e também se pretenderem um coordenado, ou efectuar alterações nas peças faço tudo através dessas plataformas.
E é difícil mesmo assim?
IC: Sim, porque as peças acabam por ter um preço muito maior e é necessário ter muitos contactos para poder obter a divulgação necessária para as pessoas poderem comprar. Participar num concurso é tudo muito bonito, mas nem sempre acabam no final por adquirir a peça.
O público português valoriza o design português?
IC: Eu acho que sim, as pessoas acabam por não comprar tanta roupa e vão até uma marca adquirir uma peça que sabem que é única e que dura mais. Apostam mais nas marcas portuguesas, não só em moda, mas em produtos e acho que isso valoriza o que é nosso.





