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O bater dos D'Alva

Escrito por  yvette vieira fts Bárbara Fernandes

O Ben e o Alex eram amigos e um dia decidiram fazer música juntos, como gostaram muito da experiência, decidiram deixar cair o Alex, o Ben, o Teixera e o Monteiro e passaram a ser os D'Alva e dessa fusão multirracial inusitada nasceu um projecto musical chamado “#batequebate” e o resto é história, como se costuma dizer.

Qual foi a ideia unificadora para este vosso primeiro álbum?
Alex D'Alva Teixeira: No início não começámos a trabalhar para o disco, trabalhámos juntos, porque somos amigos e o Ben viu-me tocar. Eu tinha uma banda de garagem e ele tinha uma proposta em maquete para esse grupo, mas a banda terminou e depois a ideia foi desenvolver um álbum para mim, porque eu é que escrevia as canções e tinha sentido gravá-las. Depois essa maquete transformou-se num EP e continuámos a escrever música.

Depois acabaram por fazer um disco em conjunto.
Ben Monteiro: Nós já estavámos a fazê-lo em conjunto, a diferença é que era em nome do Alex e depois passou a ser do colectivo, mas a verdade é que desde o início que estámos a trabalhar juntos.
ADT: Não foi intencional criar os D'Alva, mas aconteceu naturalmente assumirmos o que estava a acontecer e assumi-lo no palco, saiu o Alex e o Teixeira e ficou o D'Alva e foi assim que decidimos fazê-lo.

Porquê o título “#batequebate”?
BM: É uma expressão que usámos numa canção nossa e foi logo no momento em que estavámos a pensar num título para o disco, eu já estava a pensar nisso, que devia ser mais do que uma palavra, ou uma frase, mas sim, um jogo de palavras que foneticamente tivesse ritmo e depois lembrei-me que o “batequebatequebatequebate” é uma coisa muito africana, a polirritmia e como temos descendência africana fazia todo o sentido. Tem também a ver com a percussão que é outro aspecto importante para nós, aliás, existem canções nossas que começam com esse tipo de ritmo.

Ainda bem que referiste o ritmo, porque estive a ouvir o EP e há muitas influências dos músicos dos anos 80 e 90, como já disseram, mas também tem muita batida e sons ritmados, foi algo que aconteceu e foram-se dando conta isso, ou foi intencional?
ADT: Acho que foi um misto das duas coisas, na verdade quando percebemos que erámos os D'Alva, não tínhamos esse intuito. Na maioria dos primeiros discos a banda não tem um som, não tem uma personalidade, nós andávamos à procura dessa identidade e percebemos que era importante incluir as influências da música africana que ouvimos enquanto fomos crescendo e também da música brasileira. Em bandas anteriores onde estavámos não podíamos fazê-lo, portanto não havia espaço, agora, era para nós.

BM: Aliás, vamos tocar com um formato diferente, que é o redux com menos membros da banda, quando tocámos com todos os músicos somos seis, excepto o Simão, somos cinco a bater em alguma coisa, em instrumentos de percussão, isso é um inferno para o técnico de som que tem de colocar mais microfones (risos). Eu pensava que conforme os concertos fossem avançando íamos reduzindo em termos de tamanho, mas temos mais peças de percussão, porque para mim é uma pulsação e metemos-lhe emoção por cima, portanto faz todo o sentido que seja todo ritmado e sincopado. É também muito dançável, o vosso trabalho remete-nos para esses trabalhos discográficos dos anos 80, 90 que eram discos de dança.
ADT: Não é propriamente um disco de dança na medida em que isso hoje em dia é relativo. Hoje em dia a música de dança tem uma conotação diferente, mas é claramente um disco festivo e uma coisa interessante quando nós dámos de conta que a canção esta no bom caminho não só estámos a canta-la repetidamente, como estámos a dança-la.

Qual é a linha deste álbum para além do ritmo e o facto de ser dançável, tem a ver um período feliz da vossa vida, já que é um disco festivo.
BM: Há um aspecto interessante que é quando escrevemos o álbum não era uma altura alegre para nós, mas por alguma razão a música saiu assim, não sei se estavámos a combater essa fase. É como falar de uma canção sobre raquetes de praia, ou estarmos a falar de ansiedade, em todas essas coisas estámos a abordar as nossas experiências e a nossa visão das coisas. Eu penso que nas nossas canções, porque as escrevemos em conjunto, não existe nenhuma palavra que nos arrependámos, ou que não retrate o que estavámos a passar e as pessoas que estavámos a ser naquela altura. O tipo de som é tudo estético, o que atravessa as canções é que funcionam independentemente do estilo que lhe damos, ou seja, se estivessemos um piano os temas iam todos funcionar, quer sejam coisas mais contemplativas ou mais simples, como uma boa refeição, não falseámos isso, a vida tem isso, tem os momentos em que acordas e tomas um bom pequeno-almoço e depois se calhar tens uma má notícia e no fim estas com um amigo e esta tudo bem. Tentámos ser coerentes, ao mesmo tempo a música pop tem uma reputação de ser superficial e não a olhámos de essa maneira, porém também não impingimos um fundo se não existe, se estámos a falar sobre raquetes na praia estámos a abordar isso, se quisermos falar de sair da cama para enfrentar seja o que for, então pronto, aí mergulhámos mais fundo e olhámos para vida com todas as suas cores e texturas.

Teve algum tema que depois de gravado e ao ouvi-lo os tenha surpreendido?
BM: Há uma canção em particular que existe no EP que se chama “aquele momento” é que nós íamos colocar outra canção no disco e essa não ia entrar, mas decidimos fazer mais uma música sem pensar e o que nos apetecesse fazer. Esta canção ficou acabada, veio de ser masterizada e lembro-me de ouvi-la umas cinco vezes por dia, ia para rua a passear que é algo que costumo fazer e com o Alex acontecia o mesmo e ouviámos essa música

ADT: Foi quase terapêutico. Não foi uma altura fácil por vários motivos desde profissionais, a pessoais e essa música é que me dava ânimo para acordar de manhã e ir para o trabalho.

Vocês são muito perfeccionistas?
ADT: O Ben é mais do que eu. Sou quanto baste.
BM: Não acho que é uma questão de perfeccionismo, é atenção ao detalhe.
ADT: Sim, há o perfeccionismo, existe a excelência e são coisas diferentes. Todos sabemos que o perfeccionismo é inatingível, mas tentámos fazer as coisas com um determinado saber e sabemos que o estámos a dar.

Neste álbum apuraram até onde acham que podiam?
BM: Eu penso que não deixámos nada por virar. OK, há uns anos eu estava a falar com um amigo nosso, o Miguel Ferradura que é quem fez a mistura do nosso disco e eu disse-lhe que o Alex tem menos anos a fazer música do que eu, mas eu disse o que poucos músicos podem afirmar, que não há nenhum segundo do nosso álbum de que me arrependa e não mudava rigorosamente nada. É um privilégio isso.
ADT: O mais interessante foi que aprendemos muito mais com estes dois anos em que estivemos na estrada, a produzir música para outros artistas e se calhar o próximo registo dos D'Alva não vai ser uma repetição mais sim uma continuação, provavelmente vamos começar onde acabámos.

Focaram o facto de escreverem as canções em conjunto, escrever em português foi sempre um ponto assente? Nunca consideraram outras línguas?
ADT: Pensámos nisso, há várias razões, acima de tudo na altura fazia sentido, parece calculista, mas percebemos que para a música que estavámos a fazer se queríamos ser ouvidos tinha de ser na nossa língua, também pelas coisas que queremos expressar.

BM: Pensámos em outras línguas porque há pessoas de outros países que ouvem a nossa música, não percebem com o que estámos a dizer, mas relacionam-se de alguma maneira com o som e se críamos uma relação ainda maior com a palavra tanto melhor. Nós percebemos desde o início que é limitativo por causa da língua, porque a sonoridade que estámos a fazer não é só para Portugal. Mas, se algum dia quisermos gravar numa outra língua terá que fazer sentido.

ADT: Até já tivemos propostas nesse sentido por membros da indústria internacional a dizer que o “frescobol” seria um hit se fosse em inglês, mas achámos que não faria sentido.

BM: Não há orgulho nenhum em fazê-lo em português, existem colegas que fazem questão disso, mas a mãe do Alex é brasileira, o pai é são tomense, ele nasce em Luanda e cresceu em Portugal. Eu, por outro lado, a minha mãe nasce no Rio de Janeiro, o meu pai é de Cabo Verde filho de inglês com cabo-verdiana e eu nasço em Lisboa, só aqui já temos várias línguas e dialectos, portanto, não é por aí. Usámos o que nos faz sentido e não vamos usar uma língua só para chegar a outros sítios, tudo em D'Alva é porque faz sentido que assim seja, mas com desafios, alguns registos em português para a escrita ser leve e coesa e foi difícil, mas acho que conseguimos.

Transpôr o vosso disco para o palco é difícil? Porque embora tenham a versão redux, no álbum tem muitos sons pré-gravados.
ADT: Em redux tem muita coisa que tem de ser gravada. Mas, quando estámos com a banda toda é tudo tocado ao vivo e mesmo outros músicos já nos deram os parabéns porque achavam difícil um disco com tantos sintetizadores e até mesmo com sons de bateria que parecem sintéticos, trazer isso para o palco com uma banda instrumentos reais. O Ben a produzir teve sempre essa preocupação de como é que é que as coisas vão funcionar?
BM: Nós pensámos muito isso, podíamos fazer sons para rádios e transpôr para o palco ia ser difícil, esse é outros compromisso a alcançar. Recordo-me que ainda faltava um ano para o disco sair e já estavámos a ensaiar os temas do EP e lembro-me a dizer ao pessoal da banda que ia ser duro, mas quando dali a um ano o disco saisse não estámos a aprender a tocá-lo em cima do palco, já o sabíamos tocar. E vemos muitos artistas que quando sai o álbum estão a aprender a tocá-lo ao vivo e só passado dois ou três anos é que finalmente soa tão bem, ou melhor ao vivo. No nosso caso, as pessoas dizem-nos que entendem o que estámos a fazer quando vem a amálgama de cores e sons quando nos vêem tocar ao vivo. O formato redux é diferente é mais electrónico e dançável e aliás sentimos que temos duas bandas. A nossa estreia foi no “optimus alive” no palco grande com a banda toda, erámos 15 pessoas em palco com o coro de gospel e no dia a seguir fizemos a versão redux, era eu, o Alex e a Carolina, as duas bandas funcionariam, mas dá muito trabalho para pensar.

E neste processo já pensam num segundo álbum ou não?
BM: Mentalmente estámos a preparar um novo álbum.
ADT: É necessário um espaço mental muito específico.

Mas, não ainda não escreveram canções?
ADT: Não necessariamente. Estámos a ter sempre ideias e a gravar maquetes. E há uma coisa óptima que é que temos escrito para outros artistas e com muita frequência. Eu no início não estava muito contente porque queria escrever já a nossa música, mas o Ben disse que era um bom treino para as nossas canções então comecei a ver as coisas dessa maneira, voltei a ganhar energia que é preciso para aquele módulo.
BM: As melhores canções saem quando estámos no processo de trabalhar com outros artistas e isso é bom, porque nos faz sair da nossa zona de conforto, se bem que D'Alva é muito vasto. Eu sinto que quando começámos a escrever em Setembro passado, quando acabaram os concertos, falámos em fazer um disco e não aconteceu porque não havia nada para dizer.

O escrever para temas para outros artistas já acontecia antes deste disco?
ADT: Não surge com o “#batequebate”.
BM: Em particular no universo pop, as pessoas perceberam que conseguimos não assassinar o português e não acrescentar na língua o que não quer dar, mas é difícil temos tido o privilégio de ter convívido e partilhado o palco com artistas que escrevem muito bem em português no nosso país, como o Samuel Úria, o Tiago Cavaco, os Pontos Negros e os Fúrias que trouxeram muita força em português e fazem-no bem. A nossa música não cabe nesse universo, convivemos com estas pessoas, mas queremos fazer outras coisas, percebemos que não precisámos de ser poetas, conseguimos o cuidado que a língua merece. Depois como temos um pouco de Brasil e África debaixo da língua ajuda a arrendondar as arestas do português e soa melhor.

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