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O experimentar na m´incomoda

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É o trabalho irreverente de um jovem da ilha do Faial, que mistura várias componentes sonoras contemporâneas com a música tradicional. Com uma formação em guitarra clássica no conservatório e em marketing de música, este músico revisita vários temas do cancioneiro açoriano que transporta para uma vertente mais popular. Uma experiência que não se fica por aqui. Pedro Lucas tem na forja um segundo disco para ser lançado já no próximo ano.

Qual é o conceito por detrás deste disco?

Pedro Lucas: Tudo começou com um músico açoriano que é o Carlos Medeiros. Há uns dois anos atrás, voltei para os Açores e assisti a um concerto ao vivo deste músico e apaixonei-me pelo disco. Ouvia-o constantemente e um dia decidi fazer uma brincadeira com um dos temas com o tipo de linguagem musical que utilizava na altura que era o digital, com computadores e sintetizadores. Gostei tanto do resultado dessa primeira experiência que decidi revisitar na integra o disco, daí o jogo de palavras. Ao longo do processo, foi acrescentando outros temas, para além dos quatro originais de Carlos Medeiros, pesquisei vários cancioneiros de recolhas de música tradicional açorianas.

Quando decidistes empreender este trabalho tivestes a noção que seria inovador e por isso, poderia não ser bem aceite?

PL: Não foi inovador, este tipo de sonoridades já foi reinventado por compositores clássicos, há vários séculos. Não acho que estivesse a criar conceito nenhum novo. A minha abordagem já existia. Eu sabia que haveria tradicionalistas que iriam ficar um pouco chateados com o meu trabalho, mas também sabia que uma larga maioria vai também ao cancioneiro tradicional buscar algo, trabalha-lo, dar-lhe vida digamos assim.

Qual foi a aceitação do público, que não das ilhas?

PL: Até agora tem sido óptimo. Eu acho que o experimentar na m’incomoda parte de uma vertente tradicional para outro universo que é da música popular e isso de certa forma facilita. Qualquer que seja a origem, desde Trás-os-Montes ao Algarve, a música consegue sempre dizer qualquer coisa aos portugueses, independentemente da região, porque apesar das especificidades inerentes, chega sempre às pessoas.

Qual é a próxima etapa, os concertos?

PL: O disco já saiu em Novembro do ano passado. Ao longo de 2011estivémos a percorrer um pouco do país. Já fomos desde Santo Tirso até Tavira. Estivemos a tocar pelo continente, mas também tocámos na Madeira e nos Açores. O próximo passo seria um concerto completo. Fazer uma pequena digressão nacional, contando com alguns convidados especiais, como o Zeca e o Carlos Medeiros. São dois músicos que tocam sempre connosco nos Açores, mas que não houve ainda oportunidade de os levar até o continente. Estou a desenvolver um novo trabalho discográfico, que pretendo que saia em Setembro de 2012.

Esse projecto musical também incide sobre o cancioneiro açoriano?

PL: Sim, mas existe uma dúvida minha se irei abordar outros temas do cancioneiro tradicional português, da Madeira, por exemplo. Os temas novos, que estou a revisitar são todos dos Açores. Tento descobrir outros discos de recolhas aos quais não tive acesso na altura e que dispõem de muita matéria-prima de boa qualidade para desenvolver.

Onde vais encontrar esses discos? Tinhas alguns deles? Eram de familiares e tivestes acesso?

PL: Não. O disco do Carlos Medeiros, apesar de ser de difícil acesso, é um músico relativamente bem conhecido nos meios tradicionais. Ele já gravou com a brigada Victor Jara e tocou com outros músicos. O disco de recolhas que usei no primeiro CD chegou-me às mãos através de amigos. Foi um dos anos 90, de um técnico de som que foi até à ilha Terceira, ao Corvo e as Flores recolher esse cancioneiro tradicional. O Carlos Medeiros, por sua vez, emprestou-me um disco de Artur Santos, dos anos 50, uma recolha musical que incidiu sobre a ilha de São Miguel. Existe um acervo muito grande nos Açores, desde os anos 40 da rádio Clube de Angra e da Asas do Atlântico. Todos têm um património musical bastante grande que eu ainda não consegui aceder.

Mas, pretendes aceder a esse material para teres uma ideia mais clara para este segundo disco?

PL: Não, por enquanto vou debruçar-me sobre este trabalho do Artur Santos, mas isso é uma pequena parte. Vou usar temas mais canónicos, digamos assim, do mundo musical nacional, que já conheço. Não baseio o meu trabalho em apenas um disco. Vou buscando, pesquisando. Há uma possibilidade de trabalhar com recolhas bastantes actuais que estão a ser gravadas neste momento, não por mim, mas de outras pessoas que estão a construir uma base de dados bastante grande, inclusive não só em áudio, como em vídeo. Possivelmente também vou fazer algo com isso. Vou pesquisar várias fontes.

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