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A chuva de estrelas

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É o melhor espectáculo pirotécnico da Europa, não direi do mundo, porque ainda me falta visitar a Austrália.

Uma última olhada ao boletim meteorológico, na véspera, confirma o cenário desejado, um céu estrelado, sem nuvens e uma temperatura amena de 17 graus célsius. Amanhã, à noite será de celebração. O dia 31 de Dezembro amanhece preguiçosamente, mas as previsões confirmam-se. O dia desabrocha numa luminosidade opaca e fria, mas de chuva nem sinal. Mal podemos esperar pelo final da tarde. Nunca o ocaso foi tão ansiosamente aguardado como nesta altura do ano. O tempo urge, é preciso comprimir os doces e os licores no porta-bagagem antes da partida. Eis chegado o tão esperado momento, faltam cinco minutos para as sete da tarde. As portas do veículo abrem-se em uníssono, as reclamações também, as crianças impacientes discutem pelos lugares, é preciso intervir, no meio da balbúrdia, volto a repassar pela memória toda lista de itens que vão tornar o nosso fim do ano memorável. Acho que não me esqueci de nada! Arrancámos finalmente em direcção ao nosso destino, uma língua de estrada, na boa nova, com vista privilegiada para um dos melhores espectáculos do mundo, o fogo-de-artifício na Madeira. Na estrada enfrentámos um tráfego intenso. Todos almejam pelos melhores locais com vista para o anfiteatro natural do Funchal. Ao longe já avistámos urbe engalanada pelos brilhos que a iluminam, parece um presépio decorado com fios de luz, que desenham o contorno dos caminhos, dos telhados das casas e das torres das igrejas que pululam as montanhas sobranceiras à cidade.

Chegámos ao sítio de costume. À nossa espera os amigos celebram com vinho. Ouvem-se uivos de alegria, é hora de desarrumar e festejar o encontro com uma pratada de carne, vinho e alhos, batatas cosidas e pão embebido no molho. HUUMMM! No final, nada melhor para aconchegar ainda mais o estômago do que um digestivo, um licor de tin-tan-tun. A noite promete. As vozes aquecidas ensaiam os primeiros cânticos de natal, encorajados pelo calor corporal e pelo convívio. Ainda faltam algumas horas antes da meia-noite. Decidimos esticar as pernas com uma curta caminhada para ajudar à digestão, o que é apenas o pretexto para rever e conviver com caras conhecidas e menos conhecidas que nos convidam a mais uma bebida e mais um doce, ou um salgadinho mesmo quentinho, caseiro, do melhor que há, não aquelas porcarias congeladas do supermercado. Insistem, se há algo que nunca devemos fazer é recusar o que nos oferecem, pelo menos assim aqui na ilha, é uma falta de educação sem precedentes. Já sinto a cabeça a rodar. A conversa está boa, mas temos que ir. Faltam apenas alguns minutos para o final do ano e se não estivermos alerta, ainda há um espertinho que se mete à frente. Ouvem-se apitos dos pequenos artifícios pirotécnicos que são lançados nas varandas próximas do lugar onde estamos. A antecipação aquece os humores. É o prelúdio nervoso que nos consome. As crianças em algazarra exigem uma contagem. Faltam 3 minutos, dois, falta um…FUUUUMMM. Gritam as sirenes dos navios de cruzeiro que anunciam ruidosamente a meia-noite. As rolhas do champanhe saltam. Os foguetes silvam pelos céus da ilha. As estrelas são ofuscadas por bolas de luzes multicolores que brotam como cogumelos. As pessoas riem e aplaudem ao mesmo tempo, os novos sons e as novas tonalidades que iluminam a escuridão. O momento eterniza-se. Até que sem menos esperarmos somos invadidos por uma trepidação, parecem ruídos de canhões que ecoam todos ao mesmo tempo anunciando o final. O céu enche-se de fumo cinzento. É o velho ano que termina e o novo ano de 2012 que se inicia. Bem-vindos! A madrugada de uma nova era começa silenciosa, avistam-se na rua os sonâmbulos do ano anterior que retomam o caminho para as suas residências almejando pela cama consoladora. Parece uma cidade fantasma, onde se ouvem apenas os bons dias de alguns escassos transeuntes madrugadores avessos a festas e o ruído do vento que varre o lixo das vias desertas. E dia amanhece refrescado, espero que consigamos sobreviver até o próximo.

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