Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

h facebook h twitter h pinterest

As ilhas encantadas

Escrito por 

É um períplo marítimo que começa na Madeira e termina da reserva natural das ilhas desertas, na companhia do club dos pés livres.

Sempre me acompanharam ao longo da minha vida. Avistava-as mal abria a minha janela, no meu percurso para a escola, quando decidia dar um mergulho até que um dia decidi visita-las… as ilhas desertas. À minha espera ancorado na marina da Quinta do Lorde estava um veleiro, a bonita da Madeira, pronta para zarpar nesta nova aventura outonal na companhia do club dos pés livres, no que seria uma caminhada inusitada. A distância que nos separa do nosso destino é de 17. 2 Milhas, cerca de duas horas de viagem num oceano azul profundo e calmo, numa manhã que decidiu acordar gripada, mas isso não impede a boa disposição a bordo. Para atrás fica a ilha da Madeira de súbito inundada por uma tromba de água que cobre grande parte do seu relevo verdejante e humanizado. Fugimos a tempo da chuva e o mar aberto encerra novas surpresas…de súbito, na proa da embarcação ouvem-se gritos de alegria, alertas para a presença de outros habitantes destas águas atlânticas, avistámos grupos de baleias piloto a deslizar placidamente e alguns golfinhos que os seguem. É maravilhoso ver estes animais de pele lisa negra entrecortando as pequenas ondas indiferentes a nossa presença, por vezes, param até, descansam, retomam o seu ritmo ondulado, mergulham e voltam à tona até que chega um momento que os perdemos de vista. Fomos agraciados com a sua presença e isso é algo que não se esquece nunca.

A viagem continua ao som de uma suave brisa, ao rítmo do motor do navio e o pio de aves marinhas que pairam sobre o mar. Pouco a pouco as ilhas aproximam-se do nosso olhar, o ilhéu chão e a deserta grande cobrem o nosso horizonte, ao fundo avista-se meio encoberta a ilha mais pequena. Timidamente os raios solares descortinam as veias rochosas das ilhas, é como se alguém tivesse pintado camadas diferentes de tonalidades desde o topo até a costa destas paredes de pedra, estrias de cores entrecortam a lava vulcânica escura em tons de amarelo-torrado e cor tijolo salpicado de vegetação rasteira. As escarpas porosas rasgadas pelos ventos terminam em grutas banhadas por calhau cinzento e até as águas mudam de cor, o mar é de um azul hipnótico que clama pelos nossos corpos, apetece mesmo mergulhar. Eis-nos chegados a enseada onde se avista o abrigo dos vigilantes da natureza. É tempo de colocar os pés em terra. O solo é curioso, parece gravilha castanha, sarapintada por pequenos tufos de plantas, ao tentar vislumbrar o topo da deserta grande, somos encegueirados pelo sol, mas nada que impeça apreciar a imponência desta montanha selvagem. As dúvidas quanto ao carreiro que levara o grupo de 20 pessoas até o topo avolumam-se. Afinal é difícil de visualizar o trilho, no entanto, nada que se desencoraje os caminhantes do Club dos pés livres. Por norma os visitantes não podem fazer caminhadas na deserta grande, excepção é feita a este grupo pelo seu papel na conservação da natureza, são três horas até o cimo é hora de partir. Curiosamente, o trilho até então invisível surge sob a forma de escadas escavadas na própria rocha, são centenas, toda a atenção é pouca, por causa da pedra solta, mas os experientes vigilantes acompanham-nos nesta aventura sem igual. Não é o mesmo que fazer uma levada. Não há árvores, nem plantas ao longo do percurso, apenas rocha e o mar infinito. No cimo a paisagem é de cortar a respiração. Não há nada para além de 360 graus de mar e pela primeira vez avista-se a Madeira das desertas. Ganha-se novo folêgo e a descida requer ainda mais atenção por causa do terreno escorregadio. Junto da costa há um caminho pré-definido, com direito a visita guiada, que permite compreender a importância deste ecossistema tão imprevisível. Não avistei nenhum lobo-marinho, nenhuma freira da madeira ou cagarra lamento dize-lo, mas em compensação fomos alvos da atenção devoradora de lagartixas atrevidas que não hesitavam em tentar encontrar comida nas mochilas e subiam até pelas pernas sem qualquer medo. Ouviram-se muitos gritos e risadas perante a ousadia destes lagartos bem negros e destemidos. Tempo para um mergulho nas águas límpidas e tépidas. É impossível descrever o prazer de nadar rodeada de uma paisagem quase idílica, brindada por uma pequena precipitação. Também aqui os microclimas são apanágios destas ilhas. É chegada a hora de partir, soube a pouco, o tempo é sempre escasso quando a experiência é inesquecível. A âncora é içada e a viagem de volta enfrenta um novo desafio, o vento levantou-se, o mar está picado e o veleiro entrecorta as ondas brancas que salpicam todos de espuma salgada. Sinto um frémito nestes dias de águas agitadas, uma sensação forte de estar viva e esse sentimento desenha um sorriso no meu rosto, apesar da navegação um tanto quanto atribulada pelo balançar constante da embarcação todos se divertem e eis-nos de novo em terra, cansados mas felizes. Até para o ano.

Deixe um comentário

Certifique-se que coloca as informações (*) requerido onde indicado. Código HTML não é permitido.

FaLang translation system by Faboba

Eventos