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O santo das fogueiras

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São João Baptista é o padroeiro não oficial da cidade invicta. Venha percorrer a festa em sua homenagem.

O São João no Porto começa com os manjericos, os limonetes e alhos-porros á venda em bancas improvisadas que pululam a cidade. As vendedeiras juntam-se aos ruídos próprios da rua com os seus pregões sedutores que visam cativar os potenciais clientes que passam apressados na sua lufa-lufa diária. Nas montras das lojas e cafés do centro da urbe pequenos altares coloridos homenageiam o santo mais acarinhado pelos Portuenses, enquanto dentro se ultimam os preparativos para a grande noite, como manda mais uma vez a tradição. Paragem quase obrigatória é o mercado do Bolhão onde se compram sempre num ritmo frenético os pimentos, as azeitonas, as febras e claro está, as sardinhas que não podem faltar numa mesa portuguesa com certeza. Entre corredores estreitos peixeiras e clientes discutem até a exaustão o preço demasiado elevado deste insubstituível peixe das brasas joaninas, e se a troca de galhardetes não der em nada, o único remédio é visitar a lota de Matosinhos em busca do melhor preço. Sem sardinha é que ninguém fica.

Na véspera, no dia 23 de Junho, todo o comércio da cidade fecha mais cedo, os palcos para os bailaricos estão montados nas várias freguesias do Porto prontos para acolher os milhares de pessoas que vão-se congregando nas ruas. As principais artérias da cidade estão fechadas aos veículos, os passeios e as estradas pertencem agora ao povo e aos seus devaneios são joaninos. Depois de um lauto jantar bem regado é tempo de partida em direcção á ribeira para assistir ao fogo-de-artifício em homenagem ao santo. Antes da meia-noite milhares balões de papel são insuflados pelas chamas dos isqueiros, que sobem, sobem e sobem até parecerem mais uma estrela no breu firmamento. A inquietação sente-se no ar, a hora aproxima-se...As barcas em uníssono dão o sinal de aviso para o início do espectáculo pirotécnico. O rio Douro ganha protagonismo ao ser palco da largada de milhares de foguetes que cravejam o céu de bolas cintilantes. Uma e outra vez. Depois do que parece uma eternidade de cor e luz, quando menos se espera a ponte Dom Luís enche-se de uma torrente de luz, uma cascata que descende pelos seus vetustos ferros que é acompanhada pelos gritos de admiração dos milhares de presentes, de seguida uma salva de foguetes ressoa a um ritmo vertiginoso quase ensurdecedor dando por terminado o espectáculo, espontaneamente irrompe de repente uma grande salva de palmas, mas a festa ainda não acabou. A noite ainda é uma criança. Tempo para combinar com os amigos o melhor sítio para beber umas bejecas e dançar, e todos os caminhos vão dar ao melhor bailarico da cidade, com as melhores bandas de música popular portuguesa, o baile de Miragaia. Para lá chegar é preciso uma vontade ferro, porque a multidão comprime-se de forma caótica pelas estreitíssimas ruelas da Ribeira e o que parece um percurso curto e facílimo torna-se um teste á nossa resistência. Mas, tudo isto faz parte da experiência, isso e levar na cabeça com os famosos martelinhos de São João. Trata-se de um utensilio indispensável de divertimento espontâneo e muito ruidoso que é usado tanto por graúdos como miúdos, isto se antes alguém não lhe der a cheirar com um malcheiroso alho-porro. Nessa noite vale tudo, por isso, não leve a mal a brincadeira e deixe-se levar até as escadarias de Miragaia até a pista improvisada de dança, vai ver que não doí nada...ainda. Depois de rodopios, voltas e reviravoltas, nada melhor do que caminhar ao longo da marginal, desde as Fontainhas, outra das paragens obrigatórias em direcção á foz. Ao longo deste percurso iluminado vão-se concentrando famílias, amigos, vizinhos e desconhecidos em ameno convívio e como não poderia deixar de ser há sempre música para alegrar os espíritos, bebidas para matar a sede e farturas para matar a gulodice. Todos caminham até o ponto onde o rio se encontra com o mar, em direcção as fogueiras são joaninas que é tradição saltar e quando o cansaço já se vai instalando é hora de partir para casa, porque os primeiros raios de sol do dia 24 queimam já os olhares cansados. É tempo de dormir depois da noite mais longa do ano. Bom dia.

 

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