Sou a Sara Branco e estou neste grupo há 18 anos. Não moro na Camacha, meu pai era camacheiro e sempre me trouxe para esta terra. Sou Camacheira de alma e coração. Desde os meus 14 anos de idade que queria fazer teatro, não sabia porque, mas queria. A minha mãe não deixava, porque dizia que o teatro não dava nada a ninguém e que devia concentrar-me nos estudos. Durante muitos anos tentei entrar no teatro, aos 18 anos falei com alguém ligado ao Teatro Experimental do Funchal que me disse que era difícil e a partir daí desse momento quase tinha desistido deste meu sonho, quando, já na faculdade conversei com uma pessoa que me trouxe para o TEC, o Hugo Andrade. Ele conversou com a responsável do grupo a Ilda Teixeira e com o José Ferreira e eu entrei. O meu primeiro trabalho não foi uma peça, no ano de 1995, subi ao palco para recitar um poema, Destinos. O meu primeiro trabalho propriamente dito, foi o “Mar” do Miguel Torga, fazia de Rita a personagem principal. Eu sinto-me no teatro, como me sinto desde sempre, estou sempre muito nervosa e tenho medo de errar antes de entrar em cena, quando subo ao palco sou feliz. Recordo-me de dois momentos que marcaram meu percurso, um foi a peça “Cinderela” baseada num filme em que fazia de uma das irmãs más e era terrível. Foi o espectáculo em que tivemos o maior número de espectadores e no final à medida que os actores entravam no palco o público ia aplaudindo, mas quando chegou a minha vez todos apuparam o que me deixou radiante, porque senti que o tinha feito bem. Adorei fazer esse trabalho. A outra peça de que gosto muito e me é muito querida é o “homem entre mulheres”, uma adaptação da “Casa de Bernarda Alba” de Garcia Lorca, foi um trabalho que me custou imenso, era uma peça muito rica, a personagem era densa, e eu era ainda muito jovem. Possuía um drama interior muito grande, era alguém que provocava dor as minhas filhas e sentimos tudo isto quando nos dedicámos. O teatro cria todos estes momentos de companheirismo e de amizade e é por isso que estamos aqui, passados vinte e cinco anos. Eu nunca pensei chegar até aqui. Nem tão longe. Tudo acontece dia a dia, ano a ano, enfrentando muitos obstáculos que aparecem no mundo artístico e mesmo assim continuámos a permanecer vivos como o grupo amador de teatro mais antigo da Madeira. Isto é de louvar.
Chamo-me Sandra Cardoso e desde muito jovem que desejava entrar no grupo de teatro da Camacho. Comecei como público, assistindo as peças, via os actores actuarem e era uma ambição minha estar no palco, mas não havia inscrições, entrava-se por convite. A minha primeira oportunidade surgiu 1996 com a minha entrada no grupo de danças da Casa do Povo da Camacha, depois disso passei a integrar o TEC já como actriz. A minha primeira obra foi o “breakfast international” e foi um marco. Foi a minha primeira experiência teatral, fazia de prostituta toxicodependente e tinha um monólogo, por isso senti um grande peso logo no início. Quando entrei em palco senti medo, mas a responsável pela peça, a Ilda ajudou-me imenso, fez inúmeros exercícios comigo e improvisações até chegar ao estado da personagem e tudo isso foi uma grande conquista quando pisei o palco. No final, as pessoas sentiram-se envolvidas com a minha personagem e valeu imenso a pena. Nesse mesmo espectáculo, a actriz que entrava antes mim partiu uma chávena e a minha cena era nesse mesmo local, fi-la em cima dos cacos e não me magoei. Atrás estavam todos receosos, porque pensaram que me ia cortar, mas tive uma espécie de proteção artística. 25 anos depois o TEC é um grande projecto, é um grande percurso. Todos os grupos têm momento mais áureos e outros mais baixos, mas sempre tivemos uma ligação muito forte e acho que é essa a relação das pessoas que é muito importante para que o grupo continue activo. É essa magia que nos faz querer estar sempre em palco.
Meu nome é Carina Teixeira e vim para o teatro em 2001. Eu era uma menina muito tímida e um pouco fechada e o meu pai decidiu falar com a Patrícia Fernandes e disse-lhe que gostaria que eu fizesse teatro. O meu primeiro espectáculo foi uma revista, em que tive diversos papeis. A partir desse momento a minha paixão pelo teatro cresceu, cresceu e tornou-se numa das coisas mais importantes da minha vida. Ajudou-me em termos autoestima e a desenvolver muitas outras capacidades. Foi onde conheci verdadeiros amigos e onde tento uma sensação de pertença a um grupo. O meu momento caricato aconteceu numa peça em 2002 “ o homem entre mulheres” eu saia a correr para fora de cena, só que foi com muita velocidade e bati contra uma parede lá atrás e como tinha de entrar de seguida em palco vim atordoada, mas pronto são coisas que ficam e rimo-nos com isso. 25 anos depois este grupo é um bom exemplo de teatro amador, pelas pessoas que o integram e pelas que nos vêm ver. Ao longo destes dias reflecti ao ver tantas fotografias e imagens, nos elementos que por aqui passaram, mas que sempre continuaram a conviver e é esta amizade, esta união, esta entrega de cada um não só ao teatro, que faz a alma deste grupo. Espero que continuemos a crescer e que venham mais 25.