Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

h facebook h twitter h pinterest

Sibéria, a outra face da Rússia

Escrito por  Ana Bernardo


Sibéria. Terra quente, generosa, imensa. Desvendei alguns dos seus segredos no auge da juventude. Após tantos anos, ainda não acordei do sonho.

Sete da manhã. O avião da Siberian Airlines beija o solo da sua terra natal. Omsk, a segunda cidade siberiana, recebe-me com um sorriso. Longo e intenso! Sabe bem apertá-lo na alma e esquecer, por momentos, 20 horas de viagem, duas escalas (Frankfurt, depois Moscovo) e fusos horários. Viajar do Porto para a Sibéria não é fácil, mas a possibilidade de explorar este mundo desconhecido vale o esforço.

Afinal, o que se pode encontrar numa Rússia, para muitos longínqua e misteriosa? Exilados políticos, trabalhos forçados, neve eterna? Primeiro erro: Aqui não há sempre neve. Na Sibéria do sul, os verões podem ser tão ou mais quentes do que em Portugal. Estão 35 graus. O calor siberiano asfixia-me. Contudo, a ânsia de conhecer este local mágico é inexorável a caprichos meteorológicos.

Verde Omsk

Omsk é filha de dois rios: o poderoso Irtysh e o tranquilo Om. Há cerca de três séculos, as tropas do militar Ivan Bukhgolts construiram nova “casa” na confluência destas águas. Desde então, a cidade tem crescido a um ritmo estonteante, albergando actualmente dois milhões de habitantes. Os edifícios, com características de diversos estilos e épocas, conferem-lhe uma originalidade inquestionável. Basta percorrer a “Lyubinsky Prospect” (a Avenida do Amor) para me aperceber desse facto. Veja-se, por exemplo o Teatro Dramático de Omsk. Inspirado na Grand­ Opera de Paris, tem servido de exemplo a muitos dos teatros russos. Noutras áreas da cidade descubro, com deleite, inúmeros segredos fascinantes. A Catedral Nikolsky, com interessantes características de Barroco. A majestosa “Town Duma”. A fervilhante K. Marx Prospect.

Em 1950/60, Omsk passou a ser conhecida como a terra dos jardins e das flores. Bem merece. O impressionante número de espaços verdes cativa o meu olhar. Contemplo a beleza dos parques. Escuto o silêncio. Aperto o pulso à natureza. Inconscientemente, visto a minha juventude  de múltiplos sentimentos oníricos.As diversas pontes que embelezam a cidade não funcionam apenas como meios de comunicação. São espelho de audácia em soluções de engenharia e de expressividade nas formas.

15:00. Entro a bordo do Mosckva -112. O barco segue as oscilações frenéticas do Om. Uma dança ritmada, quase um poema. Sim, o calor é intenso. Mas não provém apenas da atmosfera. Surge também do espírito siberiano. Segundo erro: os siberianos não são fechados. Quentes e generosos, possuem uma alma imensa.

Na fronteira do Cazaquistão

10:00. 34 Graus. A imensidão da planície “esmaga-me”. Os campos de trigo parecem infindáveis. Ao longe, bandos de pássaros oscilam nos ramos das árvores. O “Mar” do sul da Sibéria - os enormes lagos - fazem, por momentos, esquecer a temperatura elevada.

Estou em Isil`kul , uma pequena cidade a 20 quilómetros do Cazaquistão. Apenas algumas ruas são asfaltadas. A inexistência da água na maioria das casas obriga a população a ir às fontes comunitárias. É necessário ficar na fila. No calor intenso do verão. Na neve gélida de inverno.

Os vestígios do Comunismo ainda são visíveis. Habitações idênticas para todos. As mesmas lojas para o médico e para a peixeira. No entanto, os ecos do Capitalismo tornam-se cada vez mais audíveis. Sobretudo nos jovens. Vestem jeans. Compram Coca-Cola. São viciados em SMS. Os mais velhos, por outro lado, têm saudades de outros tempos. Assegura quem sabe, não sem uma ponta de tristeza, que antigamente se vivia melhor. O Governo oferecia, por exemplo, apartamentos ao povo. Agora, o único recurso é o crédito. Mas na Sibéria a melancolia não dura muito. Terceiro erro: este povo não é cinzento, conhece como ninguém o significado de diversão.

13:00. É tempo de piquenique. Na floresta, cobre-se o solo com uma manta. Prepara-se a salada. A carne para grelhar, chachliki. Distribui-se o pão. Sem esquecer as garrafas de cerveja - “Baltika”, do número 1 ao 9. E vodka, pois claro.Depois do repasto, surgem os banhos, a dança, as cantorias. É tempo de riso. Victor Hugo afirmou: “Rir é o sol que afasta o frio do rosto”. O frio ou o calor, não importa. Os siberianos sabem-no bem. Aqui a vida é grande. Literalmente. A natureza. O património. E, sobretudo, a alma. A alma de um povo que nunca deixa de sonhar!

Deixe um comentário

Certifique-se que coloca as informações (*) requerido onde indicado. Código HTML não é permitido.

FaLang translation system by Faboba

Eventos