Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

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A alienígena

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É uma jovem artista que procura o confronto pela forma como interpreta o mundo nas suas obras. A sua arte possui uma dinâmica dualista que inspira horror e ao mesmo tempo inspira uma grande beleza estilística. Gera repulsa, mas atraí o observador para uma narrativa surrealista, plena de carácter.

Como defines o teu universo artístico?

Ana Gomes: É baseado naquilo que vejo e interpreto. No que esta à minha volta. Não penso demasiado em conceitos, ou em teorias. Eu gosto de perceber o que esta em meu redor, o que me pode trazer e o que me parece que deve ser. Se vejo uma pessoa, por exemplo, com ar mais fora do vulgar, com uma expressão ou postura diferente, tudo isso me transmite emoções e uma imagem que depois tento passar para os meus trabalhos. Gosto de criar uma narrativa em volta das personagens, com a cor, com a composição. Às vezes são literais, outras não. Deixo ao observador.

Muitas das tuas personagens tem características retiradas de insectos. Lembram esses pequenos animais, mas ampliados.

AG: Sim, adoro insectos. São as criaturas mais alienígenas que temos no nosso planeta. Ao vê-los a olho nu não conseguimos perceber como eles são. Realmente, nessas fotografias de que falas, há milhares de coisas, olhos, pelo, carapaças e articulações diferentes.

Tu fazes uma pesquisa detalhada então?

AG; Sim, estou constantemente a pesquisar animais estranhos, insectos que são descobertos recentemente. Sobretudo, uso essas imagens para tirar ideias. São baseadas no mundo real.

Verifico que ilustras muitas capas para álbuns de bandas. Como é que surgem estes convites?

AG: Quando principiei a trabalhar com bandas, nomeadamente os Karnak Seti, tudo começou porque eu conhecia alguns membros e eles gostavam das minhas ilustrações, por isso, comecei a desenvolver um trabalho em conjunto. Eles deram-me muita liberdade criativa, porque gostavam muito do meu imaginário e do meu traço. A partir daí comecei a fazer ilustrações para eles. Depois foi uma sequência. Outras bandas viram esses trabalhos, os meus portfolios online e entravam em contacto comigo.

Qual é o feedback que obténs do público em geral quando vem as tuas ilustrações tão inusitadas?

AG: O comentário que ouço com frequência é: esta mulher é tão feia, mas é bonito. As pessoas gostam do trabalho em si, mas tem medo das criaturas que represento e do próprio ambiente mais tenebroso. Gostam muito dos desenhos e dizem que estão bonitos, muito bem-feitos e executados, mas tem medo.

É isso que procuras? Essa reacção?

AG: Sim. Sempre tive uma paixão pelo belo horrendo, que é uma beleza quase marginalizada, que não é bonita para todos e eu gosto de delimitar o meu público que aprecia os meus trabalhos a esse ponto, que eles vejam nessas criaturas quão bonitas elas são, independentemente do aspecto físico. Daí eu dar uma expressão mais humana para a mais aberrante das criaturas. Hoje em dia, a sociedade vive muito do estereótipo da magreza. Com a chegada do verão, as pessoas ficam passadas do juízo, porque querem emagrecer e perder peso para parecerem bonitas para as outras. Realmente, como vivemos numa sociedade assim, eu tento educar o olhar dos outros para mostrar que nem tudo o que é bonito para todos, é belo para mim, que aprendam a olhar para outro tipo de beleza. Não ir tanto atrás do rebanho. Olhar à nossa volta e não ver só o que os outros vêm. Mas, também aceitar que o que vemos também é bonito.

Quem são as tuas referências artísticas?

AG: Gosto dos grandes mestres da pintura clássica. Trabalhos do Caravaggio, Da Vinci e Rafaelo. Depois tenho outra referência que influencia os meus desenhos aos quinze anos, Geiger. O artista que criou o alien e tem um imaginário vanguardista no que diz respeito aos extraterrestres e também ele explora o mundo dos insectos.

Qual é próximo passo?

AG: Deixei de ter objectivos a longo prazo, porque não vale a pena ser muito ambiciosa. Tento olhar para o futuro com objectivos curtos, como acabar o meu mestrado, ser melhor ao nível técnico e continuar a fazer o que gosto.

http://artofanagomes.carbonmade.com/

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