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A fábrica de esculturas

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Mão de fogo é uma fundição de bronze, mas não só. É um espaço de desenvolvimento artístico que transforma uma visão num objecto tridimensional. É também um entorno multidisciplinar onde os artistas ampliam as suas competências técnicas na escultura.

O projecto mão de fogo como é que começou?

Rui Palmas: Começou há dez anos, foi um projecto pequenino, a ideia era ter uma produção artística de bronze, num processo que teria lugar em Montemor-o-Novo. Erámos três amigos no início que trabalhávamos com os escultores da zona de Lisboa, depois crescemos e adquirindo novas máquinas. O nosso raio de acção começou a aumentar e a ter mais encomendas, começámos a ter mais clientes estrangeiros e até que há dois anos juntámos a alfa arte que nos permite ter uma equipa ampliada. Trabalhámos essencialmente para escultores, artistas plásticos e arquitectos.

Quando se juntaram era porque eram artistas e necessitavam de um espaço?

RP: Não somos artistas, somos técnicos um pouco apaixonados pela arte. Pegámos nesses projectos e tornamo-los tridimensionais. Muitas vezes os artistas têm dificuldades, quando fazem um esboço e vão as oficinas para que as pessoas traduzam o conceito, a linguagem, há uma dificuldade de comunicação. O que fazemos é conseguir olhar para a ideia e transforma-la em bronze, ou noutro material qualquer. A partir daí fazemos os desenhos técnicos, realizámos bases estructurais para as peças, ou seja, acompanhámos desde princípio até o fim todo o processo.

Fale-me um pouco da parceira alfa arte, como é surgiu?

RP: Estávamos a ter algumas dificuldades porque as nossas instalações eram muito pequenas e a alfa arte dispõem de um espaço e equipas maior, vieram até Montemor-o-Novo conhecer o nosso projecto e depois surgiu o convite para trabalhar com eles. Há trabalhos a decorrer tanto em Bilbao como cá.

A escolha de Montemor-o-Novo foi uma casualidade ou não?

RP: A escolha recaiu na sua ruralidade. Aliás a mão de fogo está instalada na quinta dos meus pais. Cresci e vivi sempre nesta zona.

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Essa periferia não teve nenhuma influência, já que estão fora dos centros urbanos onde os movimentos acontecem?

RP: Eu penso que não, sempre fomos tendo trabalho. Fomos crescendo em novos clientes e novos trabalhos. Não sei dizer se estivesse em Lisboa se teria mais projectos, até porque a localização hoje é insignificante, posso dizer-lhe que o meu melhor cliente é dinamarquês. Quando se trabalha com um artista estrangeiros até se pode estar em Badajoz que não faz diferença. Os meus maiores trabalhos de esculturas estão nessa localidade, um dos escultores que me dá mais trabalhos é do Algarve. O que conta é a nossa forma de estar e de trabalhar, não a localização.

Os estágios artísticos é outra das vertentes da mão de fogo, como é que isso acontece?

RP: Decorre porque alguns escultores manifestarem interesse em serem eles próprios produzir a peça, meter a mão na massa, até porque o bronze é um material caro, temos de reconhecer isso, sem contar com a mão-de-obra. Então em conversa com os artistas, surgiu a ideia de em vez de vender o trabalho terminado, o escultor às vezes sabem fazer uma cinzelagem, ou um molde de silicone que são algumas etapas da fundição, então porque é que os artistas em vez de ter o produto final, porque não com a nossa ajuda e utilizando os nossos instrumentos criar uma peça acabada em bronze muito mais barata?

Qual a peça de arte que trouxe mais desafios a vossa equipa?

RP: A peça que mais desafios trouxe é muito difícil de nomear, ao contrário do que se possa pensar não são as peças grandes, embora haja mais logística, muito pessoal, muitas matérias-primas e uma grua. Lembro-me de uma peça do Pedro Vasconcelos em aço inox, com fundo normal, que teve bastantes desafios técnicos, aliás foi por causa dela que começou a minha relação com a alfa arte, desde arranjar a resina para o molde de silicone, a fundição, tratava-se de uma peça com cerca de 70 cm de altura. Outro era um trabalho do Sérgio Taborda, uns pisa-livros pequeninos com uma parte em branco, fazer a peça não foi difícil, mas realizar a parte em branco que depois ao toque agarrava-se na peça isso já foi complicado, podia-se pintar a peça com uma tinta de spray normal, mas não, tinha de ser um branco químico. Não tenho uma peça em particular, mas as mais pequenas dão sempre mais trabalho e preocupações.

Já completaram dez anos de existência, qual o balanço que faz?

RP: O balanço é positivo, espero continuar nesta área por mais dez anos. Não estou arrependido, tenho óptimos artigos, fiz muitos amigos e muitas das pessoas que trabalham comigo estão satisfeitas. As crises vão e vem e nós cá estaremos.

Num país onde não se valoriza as artes, vocês lidam com artistas e estão numa área artística, é difícil?

RP: Não é fácil, mas como a nossa estructura é mais pequena, torna tudo mais fácil. Eu tenho a noção que no projecto alfa arte, que é maior para eles é tudo muito mais difícil. De facto não se valoriza as artes, tenho imensa pena, mas é o país que temos. São muitas vezes os agentes culturais que se têm de valorizar a eles próprios.

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