
Filipa Venâncio percorre na sua obra artística os objectos arquitectónicos que povoam as nossas realidades. Uma temática que expressa na sua pintura de forma constante ao longo dos seus vinte anos de carreira. São formas que a seduzem e que visam também jogar diversos olhares.
Pelo que pude verificar existe toda uma “viagem” pelos prazeres.
Filipa Venâncio: Sim, neste trabalho procurei representar a envolvência, a atmosfera, deste lugar.
Há também uma busca pelas formas, pela geometria nas casas, porquê é que essa temática te atraiu?
FV: Não é uma temática que me atraiu apenas agora, ou seja, é um interesse que tenho desde há muito tempo, a casa enquanto objecto arquitetónico. É algo que sempre me seduziu e que percorre todo o meu trabalho. Se olharmos para a minha obra ao longo destes vinte anos, em que tenho trabalhado continuamente na pintura, a casa é um elemento muito importante de uma forma ou de outra. Sempre. Portanto, também aqui elas tinham de aparecer.
Porquê o espaço casa é tão importante para ti? É o conceito por detrás do objecto, ou é por ser uma questão meramente geométrica?
FV: Não é apenas uma questão meramente geométrica, a mim interessam-me as casas pelas suas memórias, seduzem-me as mais antigas e abandonadas. Outras vezes, é apenas enquanto arquétipo e isso também sempre me interessou.
Então, porque apenas pintar o exterior?
FV: Neste trabalho é só o exterior, a última exposição que fiz no museu de arte contemporânea, foi precisamente ao contrário, fiz uma espécie de visita aos espaços do museu que são muitos e decidi simula-lo como se fosse uma casa, chamei-lhe “andar modelo”, e aí poderíamos encontrar telas que representavam os espaços interiores do museu, mas como possibilidades para viver, como se fosse uma residência.
Outra das tuas temáticas preferidas é a natureza.
FV: Sim, aparecem apontamentos de paisagem, de animais.
Reflectem a ilha que há em ti? O ser ilhéu tem esse peso?
FV: Se calhar, tanto os apontamento de vegetação que também houve em outras exposições e de lagos e água que estou a apresentar pela primeira vez, embora lembro-me que numa sequência que realizei para a porta 33 havia uma casa que tinha um poço, eu recorro de forma intencional, ou sem querer, a citar-me a mim própria.
Acabas por fazer uma certa desconstrução da tua obra?
FV: Não sei, teria de reflectir sobre essa questão. A verdade é que são esses os meus interesses, daí eles aparecerem, da mesma maneira que há determinados assuntos que me interessam, a forma de os apresentar neste caso, jogando com diferentes formatos, com diferentes aproximações sobre o mesmo assunto, esse jogo é algo que me fascina. A construção de pequenas narrativas com princípio, meio e fim. Aqui também há apontamentos desse discurso, através dos lagos, do facto de representar a casa de um determinado plano e depois aparecerem outras vistas, é mais subtil.
As cores têm importância para ti? Nesta exposição são muito vivas.
FV: A cor é importante no meu trabalho de pintura, já foram mais vibrantes, tem a ver com aquilo que quero desenvolver. Neste momento interessa-me jogar com tons pardos, com jogos cromáticos. A cor vem por acréscimo, começo por vezes a pintar de uma determinada tonalidade, mas depois vou aplicando camadas e no final o resultado não é o mesmo, a tela passam por várias cores. A construção dos trabalhos aparecem em conjuntos, nunca tenho ideias só para uma obra, são sempre sequências. Gosto de construi-los em simultâneo.
Como referiste a pouco, gostas de contar uma história de uma forma subtil, consciente.
FV: Sim, e na apresentação destes trabalhos não quis que ficassem todos alinhados, gosto de jogar com esses olhares, quero que as pessoas fiquem baralhadas e tudo isso me interessa.