A pouco referiu que faz reciclagem de alguns objectos. Encontra-os, ou adquire-os?
PP: Não procuro, eles encontram-me. Embora, apeteça-me muitas vezes fazer isso, ir a esse encontro na feira da ladra, do inesperado. Tenho muitos amigos e pessoas em volta de mim que possuem coisas muito bonitas, basta realçar e eles dizem-me logo para levar. Outras peças são inspiradas em algo que alguém me disse, brota desse diálogo, tudo isso inspira-me e surge a jóia. Com esses materiais reciclados que referiu, uma tampa, uma asa de um objecto, ou com um fragmento de uma peça começo um trabalho, não se trata de um material que tenha de ser incorporado na jóia, mas o aspecto, ou a forma, vai inspirar-me, vai ser quase um pontapé de saída para outras coisas. O incorporar peças de outras pessoas também me acontece, eles tem bocados de marfim, por exemplo, e pedem-me para transforma-los num objecto decorativos, para ter em casa, agregando o meu vocabulário estético e de formas. São muitos os materiais que tenho comigo e que vou utilizando no meu trabalho.
A imagem da ourivesaria em Portugal passa pela filigrana. É um mercado difícil para um artista contemporâneo, de joalharia, impor-se no mercado?
PP: São dois aspectos diferentes. Eu julgo que o mercado de joalharia contemporâneo está cada vez mais alargado. A sociedade portuguesa tem evoluído nesse sentido positivo, as pessoas viajam mais, estão mais abertas, tem a noção de que tudo é possível. Antes este tipo de peças eram pouco acessíveis, agora há imensa gente a fazer joalharia contemporânea, com características de jóias de autor. É um nicho de mercado. Por outro lado, é uma pena que a indústria de joalharia não se ter apercebido há mais anos que era necessário ter uma atitude diferente, em termos de design. Era útil não tentar copiar e repetir tudo o que vem do exterior, seja espanhol, seja italiano, ou seja, tudo o que vê nas feiras internacionais. Mas sim, apostarem nos designers que neste país se esforçam em fazer coisas diferentes ao longo destes 30 anos. A Cucas é uma das nossas grandes joalheiras, é uma senhora com oitenta anos que teve uma grande exposição no Mude, no museu da moda e design e a indústria alheia-se disso tudo de uma forma mesquinha. Tudo por causa das pequenas guerras que fomentam entre eles com medo que lhes copiem, isso contribui para um fechar e umas vistas curtas. A joalharia contemporânea, essa só se vê nas galerias, ou ateliers de alguém que tem peças próprias, são pequenas colecções ou peças únicas para um público muito específico. Se calhar até temos mais porque são pessoas que procuram algo único, que de uma maneira muito própria sabem o que querem e assim vamos construindo o nosso próprio mercado. É difícil aguentar com as dificuldades, os materiais e os instrumentos são caros, a pessoa tem muitas vezes que saber dimensionar a sua capacidade de incorporar as suas características artísticas e criativas, com as suas necessidades mais comerciais, mas acho que se consegue fazer e o público quer as nossas peças.
Fale-me um pouco das pessoas que procuram as suas peças, quem são?
PP: Eu e o Pedro Cruz fundamos este atelier, o imaterial Lisbon. Somos quatro colegas, todos joalheiros, com vitrinas próprias, onde fazemos acções conjuntas, ou exposições colectivas. É curioso é que todos temos a nossa clientela, que não são de cá e tem as suas características muito próprias. Provém de uma faixa etária nem muito velha, nem demasiado jovem, porque encontram aqui peças diferentes. Os meus clientes em particular estão mais ligados as áreas do design, da arquitectura e da cultura, ou seja, são pessoas que dão importância ao pormenor, no sentido de quererem qualquer coisa que não é massificado, valorizam o desenho, o lado criativo, a boa execução e encontram também uma pessoa a quem podem entregar uma peça para reciclar ou alterar, torna-la em algo que podem usar e isso acontece-me muito. Na maioria, são homens, com um certo poder adquisitivo e que apreciam a cultura.