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André plus

Escrito por 

André Lima Araújo é autor de banda desenhada, em particular, das histórias dos vários heróis do universo marvel, mas não só, “men plus” é o seu último projecto pessoal que aposta num mundo cibernético não tão longe da nossa realidade como se pensa.

Como é que surgiu este mundo da banda desenhada na tua vida?
André Lima Araújo: Não posso precisar quando começou, desde que me lembro sempre gostei de animação e de desenhar, mas prefiro a banda desenhada que outra forma de arte qualquer de contar histórias.

Mas, tens um curso superior ligado as artes ou não?
ALA: Tenho um curso de arquitectura. Sou arquitecto.

Então como surgiu a oportunidade de trabalhar para a marvel?
ALA: A banda desenhada foi sempre algo que me interessou, mas como em Portugal em termos de profissionais não tinha qualquer saída profissional decidi pela opção mais segura e tirei um curso superior. Terminei arquitectura em 2009 quando o país estava no pico da crise e a construção teve uma redução de 50%, ainda hoje é muito difícil um arquicteto arranjar emprego. Assim, enquanto procurava um estágio decidi fazer uma tentativa a sério no mundo da banda desenhada, tinha algumas histórias, mas nunca tinha publicado nada, por concidência nesse ano estava um editor da marvel no “Amadora BD”, então fui lá e mostrei-lhe alguns desenhos. Tenho agora perfeitamente noção que aqueles desenhos não tinham qualidade para serem editados pela marvel, mas mesmo assim foi o suficiente para que ele me desse o seu email e ficámos em contacto. Obviamente foi um incentivo muito grande e a partir daí como ainda não tinha ocupação comecei a desenhar todos os dias, cada vez mais entusiasmado com esses pequenos contactos, comecei também a publicar os meus trabalhos online, conheci mais pessoas e foi uma espécie de bola-de-neve que foi crescendo, entretanto, o editor da marvel propôs-me um trabalho, apesar de ter coincidido com o meu primeiro emprego como arquitecto, decidi seguir este percurso da BD, estava fixado nesse objectivo e estou na marvel até hoje.

Sei que desenhastes para os vingadores, uma novela gráfica, mas quais são os teus personagens preferidos do universo marvel?
ALA: Do universo marvel sempre foi o homem-aranha, era o que eu lia desde pequenino, apesar de gostar dos outros, foi sempre o meu favorito. Agora vou participar num novo livro que foi recentemente anunciado chamado “spider verse” que vai ter uma série de versões deste héroi.

Então explica-me quais são as tuas preocupações quando desenhas uma tira de BD para a marvel?
ALA: Tanto para a marvel como para outra banda desenhada qualquer, o primeiro objectivo é contar uma história, é essa a minha preocupação principal, que seja o mais evidente possível e regular. A não ser que não seja esse o objectivo e tenha de ser uma história confusa, mas no geral, a minha intenção é que a narrativa seja o mais clara possível e dou tudo aos leitores para que compreendam o enredo da melhor maneira. Por norma, digo aos escritores com quem trabalho, que não devem ter limites de nenhuma espécie, como eu não tenho também, porque desenho qualquer coisa que sirva a história e também dou uma opinião quando acho que algo interfere com a narrativa ou até quando faz falta algum pormenor. Por norma, faço um esquema de cada página e envio-lhes para depois de aprovado passar a impressão, é só uma primeira análise após a leitura dessa história.

Falaste em vários escritores, para esse edições especiais há mais do que um argumentista ou tu é que escolhes um argumento?
ALA: Não, eu disse escritores no plural, porque já trabalhei com vários. Por norma, uma pessoa escreve e a outra desenha. Eu recebo um argumento que tem detalhado o que acontece por cada página e eu selecciono a melhor maneira de abordar isso, através dos ângulos de câmara.

Então qual é o teu método de trabalho? Fazes uma página por dia?
ALA: É o seguinte, eles enviam-me o argumento, ou o escritor e a primeira coisa que faço é ler para ter uma ideia geral. Depois dou uma segunda leitura e começo a ver o que posso incluir em cada página, penso na sequência de vários desenhos e as paragens de uma página para a outra, o que funciona melhor. Depois dessa segunda passagem faço os esquemas da página, é uma página mais pequena onde mostro tudo o que acontece, onde fica o texto e as personagens, se é uma imagem mais próxima ou mais longe, escolho o tipo de câmara e a composição e faço esses esquemas rápidos que demora mais ou menos um dia a fazer. Depois envio as vinte páginas para eles verem e aprovarem, após a aprovação passo aí para uma página por dia.

Quando dizes desenhas queres dizer pintas e crias maiores pormenores?
ALA: Desenho, porque é um desenho muito rápido.

Queres dizer esboço?
ALA: Sim, é um esquema muito rápido. Eu não tenho a preocupação como vai ser a arte final, só tenho de me preocupar com a sequência da história e depois aí sim, desenho a página que se vê, primeiro a lápis, depois com tinta da china e envio.

Já participaste nalgum comic.com?
ALA: Sim, já.

Nos EUA ou cá?
ALA: Nos dois.

E como foi cada uma dessas experiências?
ALA: Foram experiências muito parecidas, porque a organização é do mesmo tipo. Foi sempre a título pessoal e posso acrescentar que foi óptimo, já estive envolvido num paínel de autores de marvel e foi muito bom em ambos os lados.

Isso acontece porque se trata de um universo muito geek?
ALA: Não, eu estou à vontade em todos os lados. Tanto lá como aqui. Neste tipo de encontros tem muitas coisas desse género, mas não quer dizer que seja focado apenas nesse tipo de pessoas, qualquer um de uma forma casual pode encontrar de tudo para todos os gostos, ou apenas ou algo muito específico, como por exemplo, nos EUA estiveram os actores da série “walking dead” e há pessoas que vão para lá só para os ver, outros no comic.com vão para estar com os artistas nas suas respectivas mesas e podem ver os livros de BD, portanto, cada pessoa encontra lá o que é-lhe mais apelativo.

Para além da marvel fazes BD de autor?
ALA: Sim, tenho agora um projecto que já esta desenhado e escrito. O “men plus”, ainda vai sair este ano o primeiro volume só não tenho data.

Fala-me sobre o “men plus”
ALA: É um livro sobre ficção científica, é uma especíe de thriller com um cyberman, que tem muita acção, um policial. É sobre um androíde, que aparenta uma determinado comportamento, depois aparece numa rua, ao mesmo tempo aparecem uns cyborgs armados e envolvem-se num conflito. Posteriormente há uma equipa da polícia que vai investigar o que se passa e qual é a proveniência do androíde, o que aconteceu e o que esta no centro do conflito, quem são os grupos e segue-se a investigação desse caso. É uma história contada em quatro volumes e o título “men plus” é o conceito que liga todo o livro, é a substância, o homem mais a tecnologia, a ideia não é minha é antiga, aborda a capacidade do homem de ampliar-se através da tecnologia e passo essas ideias através de um livro de acção.

Porquê escolheste o cyberpunk? É um tema que te fascina?
ALA: Sim, e para este caso parecia-me o mais indicado, porque a ficção científica e neste caso o cyberpunk aborda um momento para o qual estámos a caminhar agora, em que há uma fusão literal entre o homem e máquina, cada vez aparecem mais os implantes cibernéticos, já existem braços e pernas que se ligam aos nervos, não são apenas próteses de plásticos que se ligam aos membros, funcionam mesmo através de impulsos do cérebro. São todos esses conceitos que aparecem no ciborgue, é uma pessoa que tem mais força, é mais rápido, porque possui os implantes cibernéticos e achei que era um tema ideal para abordar nos livros.

Vai sair nos EUA ou em Portugal? Escreveste esta BD em inglês?
ALA: Sim, vai sair nos EUA, porque o escrevi em inglês, embora seja uma editora inglesa que funciona no mercado americano. Tenho uma editora que vai lançar os volumes completos, vai ser apresentado num formato mensal. Depois haverá uma colecção que será publicada em Portugal logo que a colecção esteja disponível, porque até já tenho uma editora espanhola interessada em participar neste projecto, mas na Europa só deverá estar disponível no próximo ano.

Qual é a diferença entre o mercado americano e europeu?
ALA: A diferença sobretudo diz respeito aos conceitos de leitura como se leem os livros. Nos EUA os livros, ou séries, são todos mensais, e para haver um livro todos os meses tem de haver um limite de páginas, por norma eu desenho vinte páginas por mês e é muito raro existir um artista que faça mais do que isso, de qualquer maneira não há séries de BD com menos, porque como é um trabalho que leva muito tempo a fazer, normalmente espera-se que esteja todo completo para ser posteriormente lançado mensalmente. Para o mercado europeu os livros são lançados com maior número de páginas, próximo das 50, são mais densos, sai um por ano, mas depende das séries, há quem lance de três em três anos, mas a maior diferença é ao nível do formato. Mas há cada vez mais artistas a trabalhar nestes dois mercados.

E os leitores são diferentes?
ALA: Sim, os americanos são mais focados nas BD deles e não se importam muito ainda, com os restantes genéros fora do seu país, mas eu acredito que isso inevitavelmente vai mudar. Na Europa lê-se muita banda desenhada, em Portugal, em Espanha, França as séries são traduzidas, cá existe outro tipo de cultura, os europeus leem todo o tipo de banda desenhada e ainda a manga japonesa. Os leitores europeus estão preparados para ler um pouco de tudo e em diferentes formatos, nos EUA também, mas é diferente.

Vais continuar nos próximos anos na marvel ou tens outros objectivos no futuro?
ALA: Neste momento pretendo continuar na marvel, já tenho um livro para os próximos meses e pretendo continuar com os livros de autor nos próximos anos, gosto de desenvolver esses dois lados.

A arquitectura ficou de parte?
ALA: Sim, não penso voltar a ser arquitecto, porque faço o que mais gosto.

http://andrelimaaraujo.tumblr.com/post/61424599602/man-plus-poster

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