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Aquela que provoca

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É uma jovem artista plástica que tem marcado presença no panorama artístico nacional de forma segura e contínua. Fátima Spínola explora nas suas obras de arte o conceito do indivisível, do menos óbvio. A provocação, a interrogação e o pensamento crítico sob diversas vertentes artísticas.

Como te defines como artista. Verifico que no teu trabalho abordas diferentes correntes artísticas e diferentes materiais.

Fátima Spínola: É uma linha que tento manter, que são vários caminhos, várias abordagens em contraponto a uma vertente única. Normalmente sou um pouco contra isso, porque sinto em mim várias facetas desde pequena. Explorei a música, o teatro e outras áreas. Nas artes plásticas sinto também esse impulso de explorar os vários materiais.

Em relação aos materiais que utilizas, tu reciclas muitos dos objectos.

FS: Sim, isso provém de uma necessidade e para fugir ao facto de não ter capacidade financeira para concretizar muitos dos projectos que imagino. Então dessa forma vou criando algumas hipóteses que são viáveis e no fundo acabam por ter impacto, mas sem grandes custos.

Na tua pintura refusas o óbvio. O que procuras?

FS: A pintura provoca-me nervos. É a parte mais emocional do meu trabalho. É uma acção. O saber que me vou expor. Por isso, acabo por não pintar muitas vezes.

É a tua opção preferida ou não?

FS: Não tenho uma opção preferida. Gosto de abordar a instalação, a pintura e o desenho. Mas, a pintura das três causa-me uma perturbação maior. Pintar é fácil, em termos de técnica, o problema é o conteúdo, às vezes surgem coisas que não queria dizer, que não desejava mostrar.

Sentes-te mais vulnerável?

FS: Sim, é mais pessoal.

Mas, eu já vi um autorretrato pintado por ti.

FS: Tenho mais do que um até. Os autorretratos podem ser mais do que aquilo que imagino, mas até, em outros trabalhos em que a representação não sou eu própria dizem muito de mim.

Fala-me então do quadro da boneca.

FS: Este trabalho tem por base uma imagem que vi na internet. Um coleccionar colocou à venda uma boneca e por isso despiu-a para mostrar que o corpo estava intacto, há fotos das costas para ver a marca no pescoço. O ver aquelas imagens remeteu-me para a pedofilia, porque é uma boneca, com ar de criança, que tem colocado um colar de pérolas que normalmente é usado por mulheres adultas e ainda esta despida até a cintura. Tudo isso causa-me tal impacto, que decidi pinta-la. Ao expor esta obra pretendo retira-la do contexto em que a tinha visto e apesar de à primeira vista a tela parecer muito querida, fofinha, porque é uma boneca, ao longo do tempo é maquiavélica. Já várias pessoas me pediram para vender o quadro e coloca-lo no quarto de uma criança e eu nunca permiti. Aquilo não se coaduna em lado nenhum, nem numa sala. É terrível dizer isto sobre a pintura, é mau marketing, mas é verdade.

Então porque o expusestes?

FS: Deve ser exposto. Não deve é estar numa sala familiar, nem ser visto por crianças.

E a tua ultima criação, uma instalação, qual é o seu contexto?

FS: A peça que esta na galeria da Mouraria é uma lona pintada com dois metros que foi trabalhada tridimensionalmente. Vai ter uma forma e chama-se ”nhec-nhec”. Este termo surge de uma anedota que me contavam na infância. Acho interessante essa ideia de algo que se esta a tentar agarrar, mas não sabe o quê é. Decidi colocar ganchos, afiados, como os que existem no talho e de certa forma apanhei esse “nhec-nhec”. Tudo isto está dentro do foro artístico, que é estarmos à procura de algo que ainda ninguém viu, não se sabe se existe, mas há uma certeza: é de que vamos encontra-lo.

Qual é o percurso que pretendes fazer como artista plástica? Para além da tua actividade nos Mad e outros grupos culturais.

FS: A única que vejo e pretendo é estar a criar. Independentemente de ser muito complicado ou não de viver da actividade artística. É uma prioridade e não o vejo como algo que possa parar, vai sempre ter continuidade. Não importa que arranje outra forma de sustento. Qualquer coisa serve. Eu vou sempre fazer este trabalho.

http://www.fatimaspinola.com/

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