Qual foi o feedback ao nível nacional?
RV: Correu muito bem, porque senti que havia um deficit de mobiliário de qualidade com design. Quando se ouvia fazer de móveis era sempre o italiano e havia poucas referências do mobiliário nacional. Embora haja uma grande tradição de carpintaria em Portugal. Mas, nunca houve o surgimento de marcas inovadoras e não estou a falar de inovação do móvel, mas em termos de design, em termos de marca e identidade. Isso foi o ponto de partida. Depois existe uma identificação com os jovens da minha idade, tenho 35 anos, os meus amigos que casaram e constituíram família queixavam-se que não encontravam mobiliário ao seu gosto. Esse também foi outro incentivo e avançamos nesse sentido. Foi uma série de circunstância que ditou o aparecimento da marca.
Porquê a escolha do Centro Comercial Bombarda?
RV: Fui devido ao surgimento do próprio CCB, que a loja e a marca arrancou mais cedo do que previsto, na altura tive o conhecimento que iria abrir e pensei que era o local ideal, porque no fundo estávamos inseridos num conjunto de lojas e pessoas em que o espírito crítico é grande, em que a troca de experiências seria muito benéfico e havia uma concentração artística que queríamos imprimir ao projecto.
A peça Angel foi inspirada em quê? Ela é diferente das restantes que integram a colecção.
RV: Sim, sim. Esse móvel tem uma história curiosa. Ele foi criado antes do aparecimento da marca, embora já com a perspectiva de integrar as colecções. Foi uma encomenda de alguém que conhecia na altura, queria um aparador, foi desenvolvido a imagem dessa pessoa. Ela chamava-se Ângela, que morava na Rua do Anjo e vivia em Braga. Era uma série de coincidências que faziam sentido integrar nessa peça de mobiliário. Trata-se de um móvel branco, com uma gaveta amarela que remete ao dourado, que tem muito da cidade por causa das Igrejas. Foi um projecto mais solto e mais personalizado digamos.
Já consideraram lançar a marca no exterior?
RV: Sim, já fui a Londres no sentido de visitar uma feira para participarmos individualmente para o ano que vem. Fui ver para aperceber-me como funciona, tendo em vista a nossa participação. Já estivemos em Londres, a primeira vez em 2008, no primeiro ano da marca e a última em 2009.
E qual foi o feedback?
RV: Fui interessante. Sempre que participamos em feiras internacionais foi inseridos num conjunto de empresas portuguesas, denominadas Portugal Brands. E o feedback foi interessantes relativamente as peças expostas, que são sempre em pouca quantidade, uma ou duas, a identidade da marca nunca esteve presente, porque é um stand conjunto em que as peças estão colocadas de lado a lado. Nós decidimos promover a marca, com um stand próprio, por isso fui a Londres e em Outubro estaremos em Berlim. Essa questão vou conseguir responder quando tivermos um stand próprio e dai retirar algumas elações. De uma forma geral, no mercado internacional, e tendo em conta o acesso ao site e os contactos que tenho tido no estrangeiro, tem sido interessante. Estaremos vendendo a marca no Benelux, (Bélgica, Holanda e Luxemburgo) já em Agosto, porque conseguimos um representante. É um dado concreto, o que sinaliza que existe um público para a marca.
Tem alguma preocupação especial ao desenhar as peças, quer ambiental ou outra?
RV: Vou responder a essa questão de uma forma diferente. Quando se lança uma marca, um designer que aborda uma indústria, neste caso uma fábrica, existem várias questões a ter em conta. Não é só desenhar, construir e colocar à venda. Há outros aspectos a ter em conta. A especificidade da indústria tem a ver com os funcionários e com quem lidera a fábrica e tudo isto faz parte do processo de criação da marca. Quando comecei havia uma expectativa, uma fase de adaptação dos funcionários ao mobiliário, a sua montagem e ao cuidado a ter com a produção. Inicialmente era mais importante criar essa confiança e respeito quer dos funcionários, quer dos responsáveis da empresa para começar a marca. Depois, dessa adaptação, há a mudança, que é quando começa a produção. E neste ponto já se pode falar em “poder” para mudar as consciências em relação a alguns aspectos. Isso tem sido conseguido. Um design mais sustentável, materiais mais ecológicos, madeiras naturais em detrimento de lacados. Estamos neste momento a preparar uma estufa de lacagem para utilizar tintas aquosas sem produtos químicos. Estes procedimentos vão-se conseguindo com a confiança e o tempo. A minha ideia é ir aos poucos alterando mentalidades com uma maior consciência ambiental.
Considera que o tecido empresarial é sensível já esse conceito de inovação e design? Pelo que percebi já estava inserido numa empresa desse tipo, mas qual é a sua percepção?
RV: Acho que não devemos generalizar. Existe uma ideia, e foi visível durante muitos anos, que o tecido empresarial português exportava produtos que não tinham uma preocupação criativa. Havia uma produção massiva, resultado de encomendas para países estrangeiros, de marcas internacionais e nós limitava-nos a produzir. A criatividade não estava presente e os empresários nunca pensavam em ir mais além. Agora, começou-se a sentir o contrário. Os políticos defendem esse conceito de inovação e design, a uns cinco anos a esta parte, não falam de outra coisa, porquê? Porque existe essa necessidade. Por isso, há uns empresários que estão mais atentos, nem que seja pelo facto de que os políticos falam, ou através dos telejornais que abordam a ideia de inovação, os apoios e a criatividade. Acho que o processo começou tarde, embora não seja tarde falar sobre este assunto, devia ter tido inicio a uns dez anos. Existem jovens empresários que herdaram as fábricas dos seus pais, cresceram nesse meio e continuam a usar os mesmos procedimentos errados, porque não tem abertura para reconhecer que outras pessoas podiam contribuir para melhorar a produção.