Também explorou a fotografia, porquê só agora?
CM: A fotografia sempre me apaixonou, mas foi mais uma necessidade de explorar a silhueta sem ser na pintura. É um complemento, porque o que sinto mesmo que gosto é de pintar. Tive foi a necessidade de explorar outros suportes e com outros materiais. Nesta exposição pela primeira vez que não apresentei pintura, apresentei vídeo, fotografia e os trabalhos mais recentes em plasticina que é a última coisa que estou a experimentar.
Não entram em conflitos essas suas duas facetas, a arquitecta e a artista?
CM: Tornou-me se calhar mais exigente por causa dessas medições e todas essas regras. Sinto que o curso ajudou muito na parte de pintura, ao nível da composição quando vou para uma tela em branco, ao nível de trabalhar uma escala grande e pequena. Por vezes quando realizamos obras mais diminutas amplia-las torna-se complicado. Sinto que um complementa o outro. Quando estava a frequentar o curso de arquitectura, estava paralelamente a frequentar um ateliê de pintura. Um é a liberdade total e outro é mais rígido, porém na arquitectura tudo o que seja exequível é válido no curso. Na vida real é o que o cliente quer, são as regras impostas pelos bombeiros e outras entidades. A pintura é um meio mais difícil de entrar no mercado, não é assim tão fácil, há os lobbies.
Como define o mercado nacional de arte?
CM: Eu sei que toda a gente fala de crise, mas agora estamos de facto a senti-lo muito mais. Ao nível de vendas sobretudo.
Mas, é difícil impor-se como artista em Portugal, pondo de parte esta questão da crise?
CM: É muito difícil, porque existem os lobbies de arte. Os consagrados são sempre os mesmos, o José Resende, o José Rodrigues e o Alberto Carneiro. Os que não são, pegam num jovem que tenha acabado o curso, promovem e no ano seguinte aquele já não interessa. Eu comecei a expor em 1999 e sinto que o meu percurso tem sido gradual. Vou mudando de galeria consoante os convites. A galeria Presença que para mim era a melhor do Porto, foi uma desilusão enorme, porque senti que era de fachada. A galerista preocupava-se mais com a roupa que vestia, do que com o artista. Senti uma falsidade perante a arte neste circuito todo. É complicado. É preciso ter sorte e conhecer as pessoas certas. É preciso estar no meio. Ir às inaugurações e dar a cara. É necessário batalhar e persistir, enviar material para os concursos. Sinto que é sofredor nesse sentido. E lá está, quando se abrem todas as portas é preciso ter cuidado porque te podem tirar o tapete.
O facto de ser mulher é indiferente neste processo?
CM: Há a invisibilidade da mulher. Neste projecto estão cerca de quatro mulheres. Normalmente, no âmbito de outras exposições e dou o exemplo do Fantasporto em que se fizeram documentários sobre artistas plásticos, em dezassete convidados éramos três mulheres. Acho que continuam a dar mais ênfase aos homens. E não só, agora existem os lobbies gays e tenho que falar disso, porque é uma realidade. Em Lisboa então há imenso e entram muito mais facilmente no mercado de arte. Quem não é, tem mais dificuldades.
Nota um interesse em arte por parte do público português?
CM: Noto um interesse gradual. No Porto existe um evento que promove as inaugurações simultâneas em Miguel Bombarda. Ajudou primeiramente, desde 1999até 2006, de dois em dois meses ansiava pelo momento em que ia rever os meus amigos artistas. As pessoas que lá estavam eram interessadas por arte, os coleccionadores e aqueles que gostavam mesmo. Quando a Câmara começou a patrocinar com eventos de rua, distribuindo whisky por exemplo, eu senti que perdeu muito, as pessoas iam para se mostrarem. É uma via que tem galerias de arte, lojas de roupa e cafés, as pessoas acabam por entrar tanto num sítio como outro, sem sensibilidade nenhuma para à arte. E por isso sinto que perdeu e alguns galeristas com quem já falei sentem o mesmo, porque antes, era um público interessado no artista e no seu trabalho. Agora, fazem imensas questões sobre técnicas de pintura, mas é porque estão a pintar em casa e querem saber como é que faz, ou para criticar o preço, porque isso eu também fazia. A parte positiva é que vejo muitos jovens que vão às inaugurações.