Isabel Santa Clara prefere desconstruir o universo que nos rodeia, em vez de mostrar o óbvio. Uma dinâmica que percorre as suas obras e que visa uma reflexão da parte do espectador, o seu pensamento mais crítico. Um conceito de arte que aborda junto dos seus alunos e uma inquietação que estende a todos os projectos artísticos em que participa.
O que procurou abordar nesta peça?
Isabel Santa Clara: Como se tratava para este espaço específico da Calheta apeteceu-me muito trabalhar na paisagem em volta, naquela que pode ser percorrida a partir daqui vê-se sempre. A lona também é um formato muito inabitual e por isso apeteceu-me evocar e utilizar essa proporção esguia para evocar a escada e no fundo os socalcos da nossa paisagem acidentada. Portanto, trabalhei a partir desta zona, a areia do calhau e que vai subindo pelas casas, pela montanha acima até ao céu. Não quis representar uma paisagem, mas sim fazer uma evocação desse percurso.
A cor teve essa preocupação de abordar a montanha e o mar?
ISC: Se reparar há uma escada ali desenhada em azul que é igual as que são feitas à mão, que ligam espaços adjuntos. Usei essa ideia, mas em azul também para desmaterializar, porque lhe retira a sua materialidade. As letras são uma espécie de carimbo que evoca os basaltos da ilha. A nossa rocha é muito cinzenta. O que queria abordar era o contraste entre a pedra e a beleza do mar. A impressão roubou um pouco a cor na lona, ficou mais esbatido.
Falando da sua obra, os lugares por onde deambula influenciam-na?
ISC: Nós estamos sempre marcados pelos lugares onde crescemos e por onde passamos. Eles ficam connosco, marcam a nossa memória. Penso que em algumas pinturas que fiz isso acaba por se reflectir. A fronteira entre a terra e o mar e outros que também tem a ver com a nossa paisagem.
Então o que a inspira?
ISC: Trabalho normalmente a nossa relação com o espaço. A maneira de percorre-los, de senti-los e as exposições em que participei procuram trabalhar justamente os espaços, colocar as peças num diálogo, na área da casa, que é uma ideia que procuro desenvolver. Os espaços interiores. É muito essa vertente de por onde passamos e como olhamos para as coisas.